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Sinal de novo corte de juros faz dólar subir

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Moeda americana teve a 11ª alta seguida e, ontem, mesmo com o BC anunciando intervenção, fechou com avanço de 1,52% a R$ 4,58

O mercado de câmbio teve um dia de nervosismo ontem, com o dólar disparando mesmo após o Banco Central anunciar, no início da tarde, que fará intervenção de US$ 1 bilhão hoje. A moeda americana à vista fechou em alta de 1,52%, a R$ 4,5801, novo recorde histórico e a 11.ª sessão consecutiva de valorização. A divisa para abril encostou em R$ 4,60.

A sinalização de que o BC prepara novo corte de juros ajudou a pressionar ainda mais as cotações e o real teve novamente o pior desempenho em relação a seus pares no mercado internacional, considerando uma cesta de 34 moedas. No ano, a alta acumulada já é de 14%, a maior dos mercados emergentes.

Profissionais do mercado de câmbio argumentam que o BC deveria ter anunciado a atuação extra para a sessão de ontem mesmo, e, não, para o dia seguinte. Esse foi um dos motivos de a divulgação de que seria feita a intervenção não ter surtido efeito, ressaltou o gerente da mesa de juros da CM Capital Markets, Jefferson Lima. Tanto que, pouco após o BC anunciar a medida, o dólar engatou a subida, renovando máximas.

Nas tesourarias de bancos, a avaliação é a de que essas intervenções pontuais do BC até ajudam, mas claramente perderam eficácia e só uma ação mais ampla poderia reverter a trajetória da moeda americana.

O diretor de um banco cita como exemplo o que fez o BC do Chile no fim de 2019, quando adotou um programa de intervenção, com US$ 20 bilhões das reservas, por um período prolongado e anúncios semanais de valores. Com isso, a autoridade monetária chilena conseguiu conter a sangria no mercado cambial local, que estava estressado por causa da onda de protestos, e o peso vem tendo comportamento mais alinhado com outras moedas emergentes este ano.

O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no quarto trimestre de 2019, mostrando que a economia ainda não ganhou fôlego, também ajudou a pressionar o câmbio na sessão de ontem, principalmente porque reforça a tese de corte da Selic, o que tende a desvalorizar o real.

Na avaliação do economista sênior para América Latina da consultoria inglesa Pantheon Macroeconomics, Andres Abadia, os riscos de piora da atividade econômica cresceram substancialmente nas últimas semanas, por causa do coronavírus. Nesse ambiente, o BC deve cortar a Selic, atualmente em 4,25%, em ao menos 0,25 ponto porcentual este mês.

Bolsas. A máxima de dólar em alta e ações em baixa não se concretizou na sessão de ontem. Mesmo com a disparada da moeda americana, o Ibovespa subiu 1,60%, para 107.224,22 pontos. O pregão, contudo, foi marcado por bastante volatilidade. A perspectiva de queda de juros no Brasil e no exterior ajudaram a sustentar a Bolsa brasileira no azul, bem como o comportamento das ações em Nova York. Nos Estados Unidos, o bom humor veio também por causa da política. A forte vitória do ex-vice-presidente Joe Biden contra o senador Bernie Sanders na chamada Superterça deu fôlego aos negócios. Embora ambos sejam do Partido Democrata, Biden é visto como opção moderada para concorrer com o atual presidente, o republicano Donald Trump. O índice Dow Jones saltou 4,53%, o Nasdaq avançou 3,85% e o S&P 500 teve ganho 4,22%.

Os investidores também acompanharam a notícias, vinda do Congresso americano, de que democratas e republicanos chegaram a um acordo de US$ 8 bilhões em gastos com tratamento, prevenção e outras medidas em relação ao coronavírus.

“O cenário do mercado de curto prazo permanece muito confuso, de forma que fica difícil antecipar a tendência por causa dessa volatilidade, que deve prosseguir.”

João Freitas

ANALISTA DA TORO INVESTIMENTOS



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