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Ibovespa ainda precisa subir 62% para bater recorde histórico; entenda

Veículo: Valor Investe

Se você leu diversas vezes sobre os recordes batidos na sequência pelo Ibovespa na semana passada deve estar achando que as repórteres que assinam esta matéria estão, no mínimo, confusas.

Não estamos e explicamos. Os 105.817 pontos atingidos pelo Ibovespa em 10 de julho é um recorde nominal do índice, mas ainda está abaixo das máximas históricas alcançadas quando se analisa o indicador em dólar e ajustado pela inflação.

Se convertido pelo dólar Ptax, de R$ 3,762, o Ibovespa estaria hoje em27.608 pontos, conforme fechamento ontem.

O número teria que subir 62% para alcançar a máxima histórica em dólar, que foi verificada em de 19 de maio de 2008, quando estava em 44.616 pontos na moeda americana (73.438 pontos em reais naquele dia).

O indicador convertido em dólar é uma métrica mais adequada para avaliar a atratividade do índice brasileiro aos olhos dos estrangeiros, segundo os analistas consultados pelo Valor Investe.

"O estrangeiro olha muito a bolsa em dólar, porque, no final das contas, é olhar o custo de capital dele", afirma Jerson Zanlorenzi, chefe de equities e derivativos do BTG Pactual Digital.

Os investidores estrangeiros também costumam utilizar indicadores internacionais, como o índice MSCI Brazil ou o fundo de índice iShares Brazil, para orientar suas aplicações.

No cálculo corrigido pela inflação, o Ibovespa ainda está 24% abaixo da máxima histórica, também de maio de 2008, quando estava em 73.516 pontos, a valores da época. Isso porque se corrigirmos essa marca pelo IPCA (índice oficial de inflação do país), o Ibovespa estaria em 136.386 pontos no mês de junho. E ainda não chegou lá.

Em outras palavras, um investidor que tenha entrado na bolsa em maio de 2008 e comprado uma carteira ou fundo que seguiu o Ibovespa perdeu poder de compra, considerando a alta média dos preços de produtos e serviços no Brasil ao longo desses mais de 11 anos.

Ainda dá tempo de entrar na bolsa?

Essas comparações ajudam a explicar por que muitos economistas e analistas têm dito que entrar na bolsa agora, mesmo nas "máximas" (nominais), pode não ser mau negócio.

"Se compararmos com o índice em dólar, ainda estamos muito longe do recorde. Tem muito espaço em dólar para buscar o raio histórico", afirma Alexandre Espírito Santo, economista da Órama.

É justamente por causa desse espaço até o recorde em dólar que a maior parte dos gestores acredita que o Ibovespa pode avançar ainda mais com o aumento da liquidez no exterior decorrente do esperado corte de juros sinalizado por bancos centrais de EUA e Europa.

Na cena doméstica, é o avanço da reforma da Previdência que tem representado um forte motor propulsor da bolsa.

"Vemos a bolsa como o melhor ativo para se investir, com potencial de atingir 115 mil pontos até o final do ano, 140 mil até o final de 2020", afirmam os analistas da XP Research.

A aprovação da reforma também alimenta as estimativas de crescimento da confiança, da atividade e de que o juro básico, a Selic, seguirá em níveis baixos. Segundo o Boletim Focus mais recente, o mercado espera queda para 5,50% até o fim de 2019.

Outras sinalizações também são esperadas pelo mercado, já que a aprovação da reforma é apontada como condição necessária para a recuperação econômica, mas não suficiente.

"Tem que olhar efetivamente se, ao ser aprovada, vai virar a chave e o país vai voltar a crescer de maneira importante", pondera o economista da Órama.

Dessa forma, os investidores esperam que a aprovação da reforma da Previdência — em segundo turno da Câmara e depois no Senado — seja acompanhada de outras medidas que proporcionem crescimento sólido do PIB (Produto Interno Bruto) e não apenas um "voo de galinha".

Um desses acenos esperados pelo mercado é o encaminhamento da reforma tributária.

Paulo Guedes, ministro da Economia, disse na terça-feira (16) que sua equipe está terminando um projeto de reforma tributária, que inclui a criação de um IVA (Imposto sobre Valor Agregado) para unificar tributos federais.

Não adianta "apenas" a economia crescer

Além das reformas estruturais que pavimentem o crescimento econômico, mudanças em outras variáveis são importantes para o Ibovespa alcançar seu recorde histórico, como no câmbio.

Em maio de 2008, o dólar era cotado a R$ 1,646. Naquele ano, os efeitos da crise do crédito imobiliário subprime interferiam na demanda por ativos financeiros em dólar, embora ainda antes do estouro da crise global em setembro daquele ano, que acabou redirecionando os fluxos exatamente para os EUA.

Do outro lado, a China adotava uma política de forte estímulo econômico, que trouxe valorização para matérias-primas como o minério de ferro e o petróleo, e consequentemente, beneficiou economias dependentes de commodities, como é o caso do Brasil.

Agora, as commodities estão mais uma vez em alta. O petróleo do tipo Brent (negociado em Londres) acumula ganho de 18% neste ano e o minério de ferro já avança 66,7%.

O potencial corte nas taxas de juros da zona do euro e dos Estados Unidos traz perspectiva de aumento de liquidez nos mercados globais.

Ainda assim, dificilmente o câmbio voltaria para o mesmo nível visto em 2008, uma vez que o contexto global é muito diferente.

"Dólar está numa situação específica devido ao cenário mais tumultuado. Vimos Ibovespa batendo recorde e o dólar não caiu tanto", diz Zanlorenzi.

Entre os principais motivos para a força do dólar, ele destaca a desaceleração das principais economias do mundo, a fragilidade de emergentes como a Turquia e a Argentina, e a guerra comercial entre China e Estados Unidos.

Bolsa está barata

Para Zanlorenzi, do BTG, tudo isso significa que o patamar nominal do Ibovespa está atrativo, mas em dólar, para o investidor de fora, está "muito mais".

Contudo, ele avalia que os estrangeiros estão aguardando um cenário consolidado para a reforma da Previdência, após o tombo no "Joesley Day" e o naufrágio da proposta para a aposentadoria de Michel Temer. "O mercado está arisco ainda e para o estrangeiro a bolsa ainda está muito barata", diz. Neste ano, os investimentos estrangeiros já acumulam saída de US$ 4,8 bilhões até 15 de julho.

Apesar dos atrasos na tramitação da proposta da reforma, cuja votação em segundo turno ficou para agosto, o cenário doméstico ainda é visto como promissor. "Tudo indica que a reforma da Previdência vai caminhar e que a agenda posterior do governo, com privatizações, também é um foco, então ainda vemos oportunidade em companhias como Petrobras, Rumo, Cemig e Banco do Brasil", afirma Renato Ometto, sócio da Mauá Capital.

Para Ometto, mesmo com a alta expressiva vista até agora, um pequeno impulso da economia desloca para cima os preços das ações, diante das expectativas de maior lucro das empresas. É por esse movimento que os estrangeiros esperam.

"Se isso acontecer [economia volta a crescer] tem chance de as empresas gerarem muito caixa e, com taxa de juros menor, o mercado tem muto espaço para subir", acrescenta o economista da Órama.

Dessa forma, embora os indicadores da atividade ainda estejam a anêmicos, a injeção de ânimo no pós-reforma abre um espaço para que as estimativas de Ibovespa oscilem ainda perto de 120 mil pontos até o fim de 2019. "Historicamente, o P/L [relação entre preço e lucro por ação, uma medida de risco e retorno] do Ibovespa chegou a atingir o nível de 15 vezes. Perto da faixa dos 100 mil pontos, o P/L é de 11 vezes. Em 120 mil pontos, equivale a 14 vezes. Ou seja, há espaço para subir mais", diz Ometto.

A continuidade desse movimento de alta dependerá ainda dos efeitos de longo prazo da aprovação da reforma da Previdência na economia, de uma agenda de crescimento e da desburocratização do governo.

"Continuo achando que estamos muito mais pendurados na expectativa de fazer a reforma para que sinalize resolver a questão fiscal, que é um ponto mais problemático. Vai subir mais, mas será aos solavancos", diz Espírito Santo.

Se o Ibovespa realmente encerrar o ano no patamar de 120 mil pontos, ainda estaria 12% abaixo de seu recorde corrigido pela inflação (a preços de junho) e teria que subir outros 40% para alcançar a máxima em dólar (na cotação de ontem).

Para Jerson Zanlorenzi, do BTG Digital, depois desse patamar ainda haverá espaço para mais. "Bolsa em 125 mil pontos ainda não está esticado", diz.

Assim, quem não surfou a valorização até aqui, ainda dá tempo de ir às compras.



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