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Indústria de transformação recua e produção tem nível de 15 anos atrás

Veículo: Valor Econômico

 

Por Thais Carrança

SÃO PAULO - A indústria extrativa começou a reagir em maio após quatro meses de perdas sob o "efeito Brumadinho", mas o fraco desempenho da indústria de transformação no mês puxou para baixo o desempenho do setor como um todo e mantém a produção em nível historicamente baixo. A produção industrial recuou 0,2% em relação a abril, com ajuste sazonal, movimento liderado pelo segmento de transformação, avalia o Goldman Sachs. Com o resultado do mês, a produção industrial ainda encontra-se 17,5% abaixo do pico registrado em maio de 2011 e no mesmo nível de 15 anos atrás, entre junho e julho de 2004. A produção recuou em quatro dos últimos cinco trimestres e em 16 dos últimos 21 trimestres, aponta o economista Alberto Ramos em relatório. A indústria extrativa registrou alta de 9,2% em maio, na comparação mensal ajustada, compensando parte da queda de 25,1% registrada entre fevereiro e abril, mas a indústria de transformação decepcionou com uma queda de 0,5% na mesma base de comparação. “A atividade industrial em maio foi contida pela retração em bens de consumo duráveis (-1,4% na comparação mensal ajustada) e não duráveis (-1,6%), mas apoiada por resultados positivos em bens de capital (0,5%) e intermediários (1,3%)”, observa Ramos. Dos 26 segmentos analisados, 18 registraram quedas na produção na margem, comenta o analista. Na comparação anual, a produção industrial registrou alta de 7,1% e queda de 0,7% no acumulado de janeiro a maio. “O forte crescimento anual em maio reflete principalmente a baixa base de comparação, uma vez que a atividade industrial em maio de 2018 foi duramente impactada pela greve de caminhoneiros”, lembra Ramos. “Olhando adiante, esperamos que o setor industrial lenta mas gradualmente se beneficie da esperada recuperação cíclica da economia, puxada por juros baixos, condições financeiras acomodatícias, confiança dos empresários em elevação e da expectativa de melhora dos investimentos”, escreve Ramos. Ele pondera, porém, que o setor deve continuar a sofrer os efeitos adversos da crise argentina, uma importante mercado consumidor para as exportações brasileiras de manufaturados. Fragilidade Para os economistas do Safra, a queda de 0,2% da produção em maio foi menos intensa que a esperada (de 0,9%), mas “segue revelando a fragilidade do setor industrial, que, após apresentar trajetória contracionista desde a greve dos caminhoneiros em maio de 2018, parece ter se estabilizado em patamar deprimido”. A abertura da pesquisa mostra grande crescimento da produção extrativa (9,2%) após quatro meses de forte contração refletindo os impactos da queda da barragem de Brumadinho. “Não obstante tal avanço, a indústria extrativa ainda acumula queda de 13,2% no ano”, ponderam os analistas. Para a equipe do Safra, apesar da queda de 0,5% do segmento de transformação em maio, a abertura dos dados não foi de todo negativa. Pela ótica das categorias, houve crescimento de 1,3% da produção de bens intermediários, primeira leitura positiva depois de quatro meses de queda. Além disso, a produção de bens de capital apresentou performance positiva (0,5%), mantendo trajetória de recuperação. Em contraste, bens de consumo tiveram contração de 1,8%, com destaque para a indústria de bens de consumo não duráveis devolvendo parte da forte alta observada em abril. Os insumos típicos da construção civil, importante indicador coincidente do Produto Interno Bruto (PIB) desse setor, também apresentaram queda em maio, de 2,3%, considerando a série dessazonalizada pela equipe do Safra, permanecendo em nível deprimido. “Em resumo, o resultado da indústria em maio veio acima do esperado, contando com recuperação na produção extrativa”, avaliam os economistas. “A indústria de bens intermediários, por sua vez, parece ter interrompido a trajetória de queda, mas ainda é cedo para dizer se a retomada será consistente nos próximos meses.” O Safra mantém por ora sua estimativa de estabilidade para o PIB do segundo trimestre, na comparação trimestral ajustada. Reação pontual A 4E Consultoria avalia em relatório que a indústria segue refletindo a lentidão da atividade econômica, consequência, principalmente, da falta de confiança dos agentes na economia. “Na comparação interanual, a análise sofre influência da greve dos caminhoneiros em maio do ano passado, que impactou substancialmente a produção industrial daquele mês”, destacam os economistas. “Como resultado, os valores positivos não devem ser interpretados como uma melhora, mas sim como um efeito estatístico derivado de um choque pontual.” Para o ano, a 4E projeta queda de 0,5% para a produção industrial brasileira.



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