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Algum sinal de vida no emprego?

Veículo: O Estado de S. Paulo

Fernando Dantas é colunista do Broadcast

O especialista José Márcio Camargo vê, apesar dos resultados decepcionantes, alguns motivos para ter esperança na última leva de indicadores do mercado de trabalho. Já Bruno Ottoni, também especializado na área, ficou mais pessimista.

Os dados do Caged de maio e da PNADC no trimestre até maio, divulgados na semana passada, não contribuíram para criar ânimo em relação às perspectivas do mercado de trabalho.

No entanto, o economista José Márcio Camargo, da Genial Investimentos (grupo Plural) no Rio, vê pelo menos um aspecto positivo, que é a criação de 2,2 milhões de postos de trabalho entre maio de 2018 e de 2019, segundo os números da PNADC.

O que chama a atenção, nota Camargo, é que essa criação de emprego se deu com a economia crescendo a um ritmo lentíssimo, próximo ou até inferior a 1% ao ano.

Esse fato pode sugerir que, caso a economia acelere com a eventual aprovação da reforma da Previdência e uma nova rodada de cortes da Selic – além de medidas de estímulo que começam a ser acionadas aqui e acolá pelo governo –, o desemprego pode recuar de forma mais rápida.

Camargo acrescenta que a queda de 0,4 ponto porcentual entre a taxa de desemprego da PNADC no trimestre até maio de 2019 (12,3%) e a taxa no mesmo período de 2018 (12,7%) é bem maior do que o diferencial em torno de 0,2 pp nesta mesma medida que se registrava no início deste ano.

Ele nota ainda que essa medida (queda do desemprego em um trimestre, em relação ao mesmo trimestre de 12 meses atrás) foi em média de 0,6 pp no período de vacas gordas de 2003 a 2010, com o crescimento do PIB rodando próximo de 3,5%.

“Uma queda de 0,4 pp da taxa de desemprego em um ano não é exuberante, mas é melhor do que no início de 2019 e é um sinal positivo, que me impressiona dado o ritmo extremamente lento da economia”, conclui Camargo.

O problema, porém, é a qualidade dos empregos que estão sendo gerados.

Bruno Ottoni, economista da IDados, empresa de pesquisa de dados em mercado de trabalho e educação, aponta que, dos 2,2 milhões de empregos gerados em um ano, uma parcela de 1,57 milhão foi de postos sem carteira ou por conta própria. Apenas os conta própria registraram um aumento de 1,2 milhão.

É verdade que a PNADC mostrou um aumento de 521 mil empregos com carteira no mesmo período, ou de 1,6%, um ritmo bem parecido (ligeiramente superior) ao da criação de postos formais na PNADC no trimestre até abril, também comparado com o mesmo período de 2018 – 480 mil, ou 1,5%.

Pelo Caged, nota Ottoni, o saldo acumulado de criação de emprego em 12 meses está aproximadamente estagnado desde o final do ano passado, num nível próximo a 450 mil.

Enfim, já não se pode dizer que a recuperação do mercado de trabalho está vindo quase exclusivamente pelo emprego informal, mas os números mostram que este ainda é o vetor principal.

Camargo, mais otimista, resiste a ver todo o contingente de empregos criados no setor privado, sem carteira, como ocupações precárias, especialmente os conta própria. Ele cogita se a reforma trabalhista já pode estar criando postos de tempo parcial e intermitentes, mas Ottoni diz que não há indicação expressiva disto no Caged.

Na visão do economista da IDados, para quem o Caged e a PNADC de maio trouxeram mais preocupação em relação ao estado do mercado de trabalho, o que pode estar acontecendo é que “o pessoal resolveu se virar” – isto é, buscar emprego do jeito que for e com a qualidade que houver.

Isso, para Ottoni, poderia explicar por que a taxa de participação (população economicamente ativa dividida pela população em idade ativa) atingiu, na PNADC de maio, o nível de 62,1%, o mais alto desde o início da série em março de 2012.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 28/6/19, sexta-feira.



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