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"Bolsonaro não corre risco de impeachment"

A manifestação de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro convocada para domingo não indica, por enquanto, o acirramento do clima político que levou milhares de pessoas às ruas e derrubou os ex-presidentes Fernando Collor e Dilma Rousseff. A opinião é do sociólogo Brasilio Sallum Jr., professor visitante da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e autor do livro "O impeachment de Fernando Collor - Sociologia de uma crise". Para o especialista, "estamos num caldeirão social de fato terrível" - com baixo crescimento econômico, alta taxa de desemprego e tensões crescentes - mas as condições para um novo processo de afastamento presidencial ainda não estão presentes, pelo menos até a aprovação da reforma da Previdência.

A manifestação de domingo ocorrerá apenas 11 dias depois da greve nacional da educação - maior protesto desde a posse de Bolsonaro - e a 19 dias da greve geral dos trabalhadores convocada pelas centrais sindicais. Em 1992, um chamado de Collor para que a população o apoiasse nas ruas insuflou ainda mais o impeachment. Sallum Jr., no entanto, ressalva que a greve da semana passada foi impulsionada por uma bandeira específica, contrária aos cortes no orçamento do Ministério da Educação - e não sob o lema "Fora Bolsonaro". 

O professor titular aposentado da Universidade de São Paulo (USP) destaca que a manifestação de domingo está eivada de controvérsias e passa por uma tentativa de esvaziamento. "Apoiadores da direita moderada tentam esvaziála justamente para evitar que desencadeie novas manifestações contra Bolsonaro", diz Sallum Jr. 

A polarização pró e antigoverno, acrescenta, é incipiente diante da divisão no campo situacionista. Há no bolsonarismo a ala mais moderada - representada por militares e liberais, como o ministro Paulo Guedes (Economia) - e a mais radical, parte dela associada a seguidores do escritor Olavo de Carvalho, guru ideológico de Jair Bolsonaro e dos filhos do presidente, sobretudo o deputado federal Eduardo (PSL-SP) e o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). São os radicais que puxam a manifestação de domingo, que tem um forte sentimento anti-Congresso e anti-Supremo Tribunal Federal (STF), embora a pauta, oficialmente, seja pela aprovação da reforma da Previdência e do pacote anticrime do ministro Sergio Moro (Justiça). 

Para Sallum Jr. houve, nos últimos dias, uma certa redução das tensões "entre os olavistas que atacavam os militares". "Mas a política é muito dinâmica. Não estamos em mar esplêndido. Está bem agitado aliás", diz. 

O sociólogo afirma que o impeachment de Dilma Rousseff, há três anos, não resolveu a crise política, do mesmo modo que ocorreu com o afastamento de Collor. A ascensão de um vice e a realização de eleições não permitiram a superação da turbulência, agravada por Bolsonaro, um presidente "impulsivo" e cujo governo é "muito heterogêneo".

Veículo: Valor Econômico

Seção: Política



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