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O regresso do “made in America”

A aposta no nearshoring em território norte-americano surge com o objetivo de ir ao encontro das necessidades dos produtores de vestuário do Hemisfério Ocidental. Além disso, não é alheia aos maiores custos e riscos de produzir no continente asiático e aos investimentos em maquinaria.

No geral, entre 2006 e 2016, a indústria têxtil dos EUA investiu aproximadamente 20 mil milhões de dólares (cerca de 18 mil milhões de euros) em maquinaria, segundo o National Council of Textile Organizations. A aposta tem continuado, com os produtores dos EUA a investirem em novas instalações, abrangendo toda a cadeia de aprovisionamento, incluindo a área da reciclagem, na conversão de desperdícios em novas fibras.

Uma nova vida

O novo impulso da ITV dos EUA terá continuidade, segundo empresários norte-americanos citados pelo Sourcing Journal. David Sasso, vice-presidente de vendas da Buhler Quality Yarns/Samil, afirma que a resposta está numa palavra e conceito: velocidade. David Sasso acredita que, quando a produção de têxteis e de vestuário dos EUA conseguir entrar no ritmo certo, ser mais automatizada e ser menos intensiva em mão de obra, «os custos irão diminuir». Por isso, «quanto melhores formos a ser mais rápidos e a baixar o preço do fio, mais competitivos os produtores norte-americanos se tornarão», considera. Para David Sasso isto é especialmente verdade para as empresas norte-americanas que competem com empresas que são subsidiadas pelos seus governos. O empresário acrescenta que, se o fio estiver disponível e o seu preço for competitivo, é mais fácil cobrar um valor mais alto pela rapidez a que chega ao mercado. «A velocidade é necessária para as peças de vestuário de valor mais elevado, que têm um risco maior ou em tendências como cores ou texturas especiais», aponta. «Quanto mais arriscada for uma peça em termos de tendências, mais fácil é apostar no aprovisionamento de proximidade. À medida que evoluirmos para uma maior automação, velocidade e flexibilidade, esse cenário acabará por se concretizar», considera David Sasso.

Inovação tecnológica

Klaus Dieter Eisenhauer, diretor de vendas da Stoll America Knitting Machinery, garante que a empresa está a impulsionar, de diferentes modos, a indústria dos EUA, nomeadamente através de serviços para os sectores da moda e dos têxteis técnicos, seja para empresas mais estabelecidas, startups ou jovens designers que não têm a estrutura interna ou a capacidade necessária. «Oferecemos o nosso know-how e instalações», explica Klaus Dieter Eisenhauer acerca do showroom, centro de formação, produção e centro de inovação da empresa, localizada no Garment Center, em Nova Iorque.

A Stoll America aposta na formação a diferentes níveis e conta com alguns parceiros externos. Segundo Eisenhauer, muito do interesse na produção dos EUA advém da área dos têxteis técnicos. «Se eu tivesse que dizer qual é o futuro da indústria dos EUA, diria que, para nós, reside na área dos têxteis técnicos. É uma indústria relativamente nova nas malhas retilíneas e estamos a ajudar a criar conhecimento e, esperamos nós, postos de trabalho, venda de maquinaria e instalações para a tricotagem», destaca.

Klaus Dieter Eisenhauer refere ainda que os seus teares de alta velocidade ADF, além da rapidez, oferecem uma grande diversidade, uma vez que a tecnologia é alimentada por dois motores que trabalham de forma independente, para que o fio se possa mover na horizontal e na vertical. A Stoll America também aposta na tecnologia seamless, que permite uma redução nos processos produtivos, «poupando tempo», aponta o diretor de vendas. A Stoll America possui também um Production Planning System, que controla os seus processos produtivos. «Achamos que o interesse em produzir nos EUA está definitivamente a aumentar…. Há uma mudança na visão de muitas pessoas, o que é muito positivo e nós tentamos ajudar», afirma Klaus Dieter Eisenhauer.

Por sua vez, Thomas Kuettel, presidente e CEO da Rieter, aponta que, entre os quatro tipos de tecnologias de fiação, o mais recente desenvolvimento, a jato de ar, é 20 vezes mais rápido do que a tecnologia mais lenta, que é a fiação de anel. «Nos EUA, a situação é muito favorável, porque os custos energéticos são relativamente baixos», indica Thomas Kuettel. Isto significa que, caso as empresas apostem no jato de ar, podem obter o retorno do investimento mais rapidamente.

David Sasso dá o exemplo de uma inovação da construtora de maquinaria alemã Mayer & Cie, denominada Spinitsystems, que combina os processos de fiação, limpeza e tricotagem numa só máquina. A empresa alemã esclarece que «são necessárias menos máquinas e o capital investido é reduzido. É possível poupar espaço e energia e, além disso, gera-se menos desperdício. No geral, os custos de produção podem diminuir consideravelmente e a redução das emissões de dióxido de carbono são uma contribuição valiosa para a sustentabilidade».

A expansão

As empresas têxteis dos EUA estão a inovar, usando tecnologias que lhes permitem dar uma nova vida ao seu negócio e, consequentemente, estão a expandir-se. A Unifi terminou recentemente a ampliação das suas instalações em Reidsville e Yadkinville, na Carolina do Norte, de transformação de garrafas de plástico em fibras de poliéster e poliamida, tendo investido 130 milhões de dólares para aumentar a produção das suas fibras recicladas Repreve e outras tecnologias avançadas. O alargamento nas duas fábricas vai de encontro ao objetivo da Unifi de integração vertical da sua linha de fibras recicladas Repreve, com maior flexibilidade e a ampliação da capacidade produtiva.

A Stein Fibers Ltd., que detém e opera duas fábricas que produzem poliéster reciclado nos EUA, aumentou a sua capacidade produtiva, com a adição de maquinaria inovadora que irá permitir expandir a sua gama de produtos e melhorar a qualidade e consistência da fibra, assegura a empresa.

Já a Invista está a entrar na fase final de conceção de um projeto de 250 milhões de dólares na sua fábrica em Victoria para melhorar a tecnologia produtiva e aumentar a produção de adiponitrila, um ingrediente essencial para as fibras de poliamida.

Comprometendo-se com a estratégia “Made in America”, a Fanatics Inc. e a Jakprints Inc. assinaram recentemente um acordo de cinco anos que permite à Jakprints dar resposta às necessidades de produção da Fanatics. No âmbito do acordo, a Jakprints abriu uma fábrica em Eastlake, com cerca de 13 mil metros quadrados, que inclui um investimento de 7 milhões de dólares em tecnologia de ponta e a criação de mais de 100 postos de trabalho. Esta será a terceira morada da Jakprints, além das já existentes em Cleveland e em Oceanside. O objetivo é apoiar a Fanatics na produção de uma ampla variedade de produtos, e, ainda, apoiar o crescimento do mercado de venda direta ao consumidor e o de venda a preço total. A Fanatics detém as licenças de vestuário desportivo e de equipamento para adeptos de todas as grandes ligas desportivas. «Continuamos a estabelecer parcerias que impulsionam a nossa estratégia de produção vertical nos EUA», refere Jim Hardy, vice-presidente sénior da cadeia de aprovisionamento da Fanatics. «A estratégia passa por garantir agilidade produtiva e rapidez a chegar ao mercado», conclui.

Veículo: Portugal Têxtil

Seção: Mercados



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