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Dólar ainda não é dor de cabeça para BC

A alta do dólar desde o final de janeiro, que se intensificou nos últimos dias (embora com recuo hoje – na verdade, 25/4, quando a coluna foi escrita), não deve estar assustando muito o Banco Central por enquanto.

Com as expectativas de inflação bem ancoradas e grande capacidade ociosa na economia, dificilmente o real mais desvalorizado provocará muito mais do que realinhamento de preços relativos, o que é diferente de pressão inflacionária.

O exemplo de 2018 é instrutivo. No ano passado, o dólar saiu de um mínimo de R$ 3,14 no final de janeiro para um pico de R$ 4,2 em setembro, numa desvalorização entre estes dois pontos de 25%. Depois o dólar caiu e oscilou entre R$ 3,65 e R$ 3,90 até o final do ano.

Com toda essa desvalorização, o IPCA fechou 2018 em apenas 3,75%, muito abaixo da meta de 4,5%. É interessante relembrar também que a expectativa mediana do mercado em relação ao IPCA em 2018, que chegou a cair para pouco menos de 3,5% em meados do primeiro semestre, subiu depois com força, e, no final de outubro, estava em 4,4%.

2018 foi movimentado e vários fatores impulsionaram a expectativa de IPCA durante o ano, como a greve dos caminhoneiros e a alta do petróleo (que teve um pico em setembro e depois caiu fortemente). Não há dúvida, no entanto, que também a forte desvalorização contribuiu para que os analistas previssem uma inflação mais alta.

Mas 2018 terminou com o IPCA em apenas 3,75%, muito abaixo dos prognósticos de mercado feitos apenas dois meses antes. É verdade que houve alta em relação a 2017, quando o índice oficial da meta fechou em 2,95%, abaixo do limite mínimo de tolerância de 3%.

Porém, ainda assim, a inflação supercomportada e abaixo do centro da meta no ano passado, diante de uma fortíssima desvalorização, mostrou que raciocinar com os parâmetros do passado – quando dólar e inflação em alta eram, para o cidadão comum, quase como facetas diversas de um mesmo fenômeno – já não é adequado para o Brasil de hoje.

Flávio Serrano, economista-chefe do banco Haitong, observa a distinção entre o impacto direto da alta do dólar em alguns preços da economia, que eleva a inflação temporariamente, e a eventual contaminação dos demais preços – não ligados ao câmbio – da desvalorização, que caracteriza o tipo de pressão inflacionária contra a qual o BC se coloca.

Assim, a alta do dólar afeta alguns preços sensíveis, que podem trazer dores de cabeça para o governo. É o caso dos combustíveis, já que o petróleo é cotado internacionalmente. A desvalorização associada à alta do barril, que está ocorrendo, eleva a gasolina e o diesel – sendo que a elevação do preço deste último traz o risco de greve dos caminhoneiros, com todo o seu potencial devastador evidenciado no ano passado. Um dólar mais alto também afeta o pão e os panificados, via trigo, o que mexe com o brasileiro comum.

O problema do BC, no entanto, é pressão inflacionária. E analistas como Serrano e Solange Srour, economista-chefe da gestora ARX, no Rio, não veem muita chance de esse cenário ocorrer com a atual capacidade ociosa na economia.

“Não vejo mudança de postura do BC (por causa da desvalorização recente)”, diz a economista.

Veículo: Estadão

Seção: Economia e Negócios



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