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Decepção cresce com atividade mais lenta

Indicador do BC cai 0,41% em janeiro, além das projeções, e reforça tendência de revisão do crescimento

A atividade econômica voltou a decepcionar neste começo de ano, sugerindo que a retomada manteve o ritmo lento observado desde meados de 2018. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) começou 2019 não apenas em queda, mas com um recuo maior do que o esperado pelos economistas.

Conforme divulgado ontem pela autoridade monetária, o indicador teve retração de 0,41% entre dezembro e janeiro, no cálculo dessazonalizado. A estimativa média de 22 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data apontava para uma queda de 0,23%. Em dezembro, o indicador cresceu 0,21%.

Além do resultado decepcionante do BC, o mercado mostrou que está menos otimista com a retomada. A mediana das estimativas de instituições financeiras e consultorias para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano caiu pela terceira semana seguida, passando de 2,28% na semana passada para 2,01%. O resultado também foi divulgado ontem pelo BC no Boletim Focus. No fim de fevereiro, a mediana apontava para alta de 2,48%.

“Os dados do PIB do quarto trimestre, somados aos primeiros indicadores de 2019, sugerem uma transição em ritmo inferior ao esperado”, diz a equipe econômica do Bradesco em relatório. Ontem, o banco diminuiu a sua projeção para o crescimento de 2019, de 2,8% para 2,4%.

Calculado a partir de indicadores de indústria, serviços (comércio incluído) e agropecuária, o IBC-Br é considerado por economistas uma “proxy imperfeita” do PIB, já que as metodologias são distintas. Em janeiro, os serviços e a indústria caíram 0,8% e 0,3% respectivamente, enquanto as vendas do varejo ampliado (que inclui automóveis e material de construção) tiveram expansão de 1%.

Na comparação com janeiro do ano passado, o IBC-Br teve alta de 0,79%. No acumulado de 12 meses, o crescimento foi de 1,03%, a quarta desaceleração consecutiva nesse tipo de comparação. Em setembro, o IBC-Br apresentava alta de 1,52% no acumulado de 12 meses.

Com a lentidão da retomada, o índice ainda está 7,1% abaixo do pico registrado em dezembro de 2013 e apenas 4,4% acima do patamar de dezembro de 2016, o ponto mais baixo da série histórica. Os cálculos são de Alberto Ramos, diretor do departamento de pesquisas econômicas para a América Latina do Goldman Sachs.

“Os dados correntes, a continuidade da recessão argentina, a desaceleração global e a política fiscal restritiva são os principais vetores negativos que sugerem uma retomada mais lenta”, argumenta a equipe econômica do Bradesco, citando também piora dos indicadores de confiança e perda de “um pouco de tração” dos números do mercado de trabalho. Já o “enfraquecimento da indústria” continua “limitando a continuidade da forte expansão do comércio que vínhamos observando”.

Nos cálculos do Banco Votorantim, comércio e indústria estão 6% e 12%, respectivamente, abaixo do patamar anterior à crise. Já os serviços e a construção civil estão 10% e 24% abaixo, respectivamente. A instituição calcula crescimento de apenas 1,7% do PIB em 2019.

Por enquanto, o Itaú e o Safra esperam ambos crescimento de 1,3% da produção industrial em fevereiro. Thiago Xavier, economista da Tendências Consultoria, lembra que o fato de o carnaval ter sido realizado em março aumentou o número de dias úteis em fevereiro, o que também pode ter influenciado positivamente a atividade. Mesmo assim, ele destaca que a fraqueza da produção industrial e dos investimentos nos meses anteriores pode voltar a surpreender. A produção de bens de capital caiu 3% em janeiro, depois de recuos de 3,5% e 4,1% nos dois últimos meses de 2018.

Apesar de ter diminuído a sua projeção para o PIB, o Bradesco faz a ressalva de que alguns fatores podem atuar na direção contrária, ajudando a atividade ao longo do ano, como maior propensão à tomada de crédito, “com taxas de juros nas mínimas”, menor endividamento das famílias e “uma agenda positiva de reformas do governo”.

“Tudo isso podendo se associar a uma política monetária mais frouxa, se os dados de atividade seguirem frustrando, o que proporcionaria estímulo adicional ao crescimento ao fim do ano”, afirmam os economistas do banco, que ainda assim espera que a Selic seja mantida em 6,5% até o fim de 2019. A Tendências também não vê espaço para corte da taxa básica de juros até dezembro.

No entanto, tem crescido no mercado a visão de que a fraca recuperação levará o BC a promover novos cortes ao longo do ano. Ontem, a Guide Investimentos revisou a sua projeção para a Selic no fim de 2019, de 5,75% para 5,5%, com uma queda ainda no primeiro semestre.

Veículo: Valor Econômico



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