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Retomada será mais lenta do que esperam os otimistas, afirma Mendonça de Barros

A retomada do crescimento sustentado da economia "vai demorar mais do que os otimistas estão imaginando, mas é possível". A avaliação é do economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados. Ele falou ontem sobre cenário político e econômico e perspectivas para o Brasil na abertura do Encontro das Indústrias de Café (Encafé), em Punta del Este. 

Para Mendonça de Barros, além do desafio de enfrentar a desaceleração da economia global, o governo eleito terá de avançar nas reformas, como a da Previdência, já no primeiro semestre, para reduzir a dívida pública. "O período-chave é o primeiro semestre de 2019. Se no primeiro semestre estiver aprovada ou muita avançada a reforma, o cenário será muito favorável. O mercado ficará otimista, algum investimento voltará. Se chegar derrapando, ou se chegar sem conseguir avançar, certamente vai ser desfavorável."

Avançar com as reformas, porém, não será tarefa fácil diante da inexperiência dos membros do novo governo, avaliou. "O que chama atenção é que o novo presidente, o superministro e o chefe da Casa Civil não têm nenhuma experiência de governo", disse. Essa inexperiência vai cobrar "certo preço", acrescentou. "Já tivemos alguns exemplos, de trombadas com Eunício [Oliveira] no Senado", observou em referência à aprovação do ajuste para o Judiciário, que deve ter impacto fiscal.

Mendonça de Barros elogiou a agenda econômica do novo governo, mas disse que é "uma pauta difícil de fazer", uma vez que necessita de consenso. Assim, avaliou, a retomada "vai depender da capacidade desse grupo de conseguir levar adiante essa pauta". Para ele, "nos cabe é torcer para que isso avance". 

Para ele, uma "derrapada" das reformas também terá efeito sobre o comportamento do dólar. "Grosseiramente, podemos dizer que, se governo novo conseguir aprovar a Previdência, o dólar deve ficar entre R$ 3,60 e R$ 3,70. Se não conseguir, pode voltar a superar R$ 4,00." 

Diante do que ele chama de "cenário mais realista", sua consultoria prevê crescimento de 2,2% para o PIB em 2019, não muito acima do 1,6% estimado para o ano. "Não dará tempo para o novo governo aprovar coisas o suficiente pra fazer com que o PIB no ano que vem seja muito maior do que isso."

E um avanço mais sustentado a partir de 2020, com crescimentos de 2,5% a 3% para o PIB, vai depender do que ocorrer no primeiro semestre do próximo ano, reiterou. 

Para melhorar a situação fiscal do Brasil, que tinha em setembro uma dívida bruta equivalente a 77,2% do PIB, permitindo a recuperação sustentável da economia, Mendonça de Barros defendeu medidas "que ataquem as despesas, de tal forma que o crescimento da dívida pública deixe de ser flecha em direção ao infinito".

Além do ajuste fiscal, defendeu a retomada do investimento no país e lembrou que o investimento público em infraestrutura é o menor desde 1950, devido à situação fiscal do governo federal e dos Estados. "Só pode crescer por meio de investimento em infraestrutura hoje em energia e logística, e só pode ser por meio de concessões e privatizações." 

Ainda que haja incertezas no exterior, o economista considera que o horizonte é positivo no Brasil graças ao cenário de inflação baixa, projetada em 4% para este ano, e de um setor externo robusto, com o saldo comercial na casa dos US$ 60 bilhões e reservas de US$ 380 bilhões.

"Nosso horizonte é positivo. É verdade que vamos nos debater com cenário internacional um pouco pior. Mas é possível navegar desde que na política externa não prevaleça a ideologia", disse. Ele classificou como "infelizes" a ideia de mudar a embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém e o movimento de "afrontar" a China. "Somos global players. Nos relacionamos como o mundo inteiro, e isso não pode se perder."

Veículo: Valor Econômico

Seção: Brasil



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