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Dólar bate R$ 3,91 em meio a saída de recursos, commodities e política

O dólar cravou a quinta alta consecutiva frente ao real nesta segunda-feira, num movimento que levou a cotação para o maior nível em oito semanas. A dinâmica no preço do câmbio denota um conjunto de fatores desfavoráveis ao real, que vão desde a saída de recursos do país até a turbulência nas commodities, além de alguma ansiedade com as iniciativas do futuro governo. 

A moeda americana fechou na máxima do dia, em alta de 2,51%, aos R$ 3,9176, patamar que não era visto desde 2 de outubro quando ficou em R$ 3,9333. Com o salto da moeda americana, o real brasileiro ficou na segunda pior colocação numa lista das 33 principais divisas globais, melhor apenas que o peso argentino. 

Hoje, foi o recuo do minério de ferro que intensificou os ventos contrários ao real, na esteira das perdas do petróleo na semana passada. Com a desvalorização das commodities, os termos de troca ficam menos favoráveis a Brasil, que é um dos maiores produtores de matérias primas do mundo. 

O movimento global também chega no mercado brasileiro numa época do ano que já é marcada pela saída de recursos, por causa de remessas de empresas para o exterior. Muitas empresas enviam capital para o exterior para fechamento de balanços ou pagamentos de dividendos, entre outras operações. Tudo isso encarece o valor do dólar no Brasil, aumentando a ansiedade com a atuação do Banco Central neste fim de ano. 

Evidência disso, a taxa do casado - uma espécie de cupom cambial (juro em dólar) de curtíssimo prazo e que reflete condições de liquidez no mercado à vista - voltou a superar a marca de 5% hoje, depois de ficar bem próximo de 3% durante boa parte de outubro. Esse salto sinaliza o aumento do custo do dólar no mercado interno, resultado de uma menor oferta de divisas por aqui.

Muitos gestores esperam que a autoridade monetária faça a rolagem de uma operação de linha - venda de moeda com compromisso de recompra - de US$ 1,25 bilhão no começo de dezembro e até ofereça algo a mais para aliviar a demanda no mercado. “Estamos tendo saída no ‘spot’ nos últimos dias. Por isso, seria um bom sinal se o BC fizer a rolagem de linha e colocar mais um pouco”, diz o experiente gestor de um fundo multimercado. 

A pressão sobre o câmbio e a escada da divisa americana por aqui têm sido exageradas, de acordo com alguns profissionais. “Ao longo do dia, alguns fatores mais técnicos podem gerar alguns exageros, mas a tendência está correta”, explica Marcelo Giufrida, sócio e gestor da Garde. Ele explica que o fluxo de dólar “spot” está mais de saída, mesmo com a balança bem positiva. “E os estrangeiros não estão ainda entrando, aguardando mais definições do novo governo”, acrescenta.

No mercado de derivativos, de acordo com dados da B3 até dia 23, os não residentes acumulam US$ 39,4 bilhões em posição comprada em dólar, ou seja, aquela que ganha com a alta da moeda. É o maior nível desde o fim de outubro quando bateu o recorde de US$ 40 bilhões. 

O diretor da Wagner Investimentos, José Faria Junior, aponta que o mercado local de câmbio continua a ter fluxo negativo, tradicional neste período do ano. Já a redução da projeção da Selic no Focus para o próximo ano - e a queda dos juros de curto prazo - deixa cada vez mais atrativo o hedge de compra de dólar, que pode ser feito para 1 ano com custo (considerando apenas o diferencial de juros) abaixo da inflação. 

Todo esse pano de fundo negativo gera um mau humor que começa a se estender para o sentimento em relação ao governo, enquanto os players buscam “hedge” no dólar. Para Marcos de Callis, estrategista de investimento da asset do Banco Votorantim., tem aumentado o ceticismo com as votações que poderiam ocorrer ainda neste ano. É o caso da cessão onerosa, que tem efeito na situação fiscal. Acima dos R$ 3,90, entretanto, o dólar começa ficar um pouco “esticado”, diz o profissional. 

Veículo: Valor Econômico

Seção: Finanças



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