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‘Competição é antídoto contra corrupção’

O economista Roberto Castello Branco, anunciado na segunda-feira, 19, pela equipe econômica do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), como futuro presidente da Petrobrás, defende que a petroleira mantenha o foco nas atividades para as quais tem competência, como exploração e produção de petróleo. “A Petrobrás desenvolve outras atividades que não são naturais e que não atraem retorno. A competência da Petrobrás é na exploração e produção de petróleo. Temos de levar a companhia a acelerar a exploração do pré-sal”, disse ao Estado.

Ex-diretor do Banco Central e ex-diretor da Vale, Castello Branco, que também já fez parte do conselho de administração da estatal, disse que nos próximos dias vai se dedicar a estudar estratégias para a Petrobrás. A privatização de ativos da companhia está em avaliação, mas vender a própria companhia, não. “Privatizar a Petrobrás, neste momento, não está em discussão. Nem tenho nenhum mandato do presidente Bolsonaro para fazer isso.”

O economista  é considerado um dos homens de confiança de Guedes. Castello Branco se posicionou totalmente contra a política de controle de preços dos combustíveis que foi adotada pela ex-presidente Dilma Rousseff. “Não se vê política (de preços) para carne e para o arroz, por exemplo. Porque isso simplesmente é o mercado”, disse ao Estado. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Que Petrobrás o sr. vai assumir a partir de janeiro e qual será o futuro dela?

O Pedro Parente (ex-presidente da estatal) começou um trabalho de compliance e redução de custos na companhia, que deverá ser mantido. Vamos continuar o processo de desalavancagem (redução de dívidas). A Petrobrás já andou muito nessa direção, mas precisa ainda continuar nessa linha porque os preços do petróleo, assim como de outras commodities, são muito voláteis e se transmitem para o fluxo de caixa. Sobre alocação de capital, a Petrobrás tem de usar o capital onde vai obter maior retorno para os acionistas. O principal acionista da Petrobrás, temos de manter em mente, é o povo brasileiro.

Qual deve ser o foco principal da estatal?

É levar a empresa a acelerar a exploração do pré-sal. O pré-sal é uma fonte de riqueza enorme. Temos uma grande oportunidade agora, se deixarmos passar, daqui a duas ou três décadas, o panorama energético do mundo vai ser diferente e o petróleo não será tão importante como é hoje. Temos de aproveitar esta fase para trazer desenvolvimento econômico para o Brasil.

Como se faz isso?

A Petrobrás tem o que ela tem competência para fazer, dentro dos seus recursos. Ela tem tecnologia, bom estoque de capital humano, de engenheiros e geólogos altamente especializados. E é claro que ela não consegue fazer sozinha. O ideal é que se tenha mercados competitivos gigantes. Para mim, além das medidas de compliance, a competição é o melhor remédio contra corrupção. A corrupção tem oportunidade de se manifestar onde há monopólios, onde a escolha não é por mérito, nos centros das conexões políticas pelos favores. Para a Petrobrás, a competição será um antídoto permanente contra esse tipo de coisa. A sociedade não tolera mais (corrupção).

Que atividades o sr. considera não serem estratégicas para a companhia?

A Petrobrás desenvolve outras atividades que não dão um retorno natural. Um exemplo é a distribuição de combustíveis. A Petrobrás ainda é dona da BR Distribuidora, que, no fim das contas, é uma cadeia de lojas. A competência da companhia está na exploração e produção de petróleo. Também não faz sentido uma única companhia deter 98% de uma atividade no Brasil, que é o refino. A Petrobrás pode rever o monopólio nessa área. Eu sou a favor de regras, não de delegações a pessoas. Então, de novo, a competição é favorável a todos: à própria Petrobrás e ao Brasil. Faz bem ao desenvolvimento econômico do País. Dá maior liberdade aos mercados, gera mais investimentos, mais renda, mais emprego, mais arrecadação ao governo federal, governos estaduais e municipais.

Como o sr. pretende montar sua equipe?

A Petrobrás tem uma equipe excelente. Eu já fui conselheiro, conheço diversas pessoas e sei que tem profissionais muito bem qualificados. Não pretendo fazer nenhuma revolução dentro da empresa. Todos podem estar certos disso. Nos próximos dias, vou me dedicar pura e exclusivamente à Petrobrás.

Em maio, os caminhoneiros pararam o País por causa do reajuste ao óleo diesel. O sr. acha que esse assunto foi bem conduzido pelo governo?

Não sei, porque não participei. Prefiro não dar opinião. Mas a raiz disto está na farra de crédito subsidiado do BNDES de 2007 a 2014. Isto, aliada à má condução da política econômica, levou o País à uma recessão brutal, afetando o setor de transporte de cargas.

O subsídio ao diesel tem de ser repensado? 

Subsídio não resolve nenhum problema. Pelo contrário, acaba criando outros. Temos um sério problema de desequilíbrio fiscal. Não é recomendável que se mantenham subsídios como um todo. Vamos discutir essa questão mais à frente.

E a política de preços para os combustíveis?

Acho horrível se falar em política de preços. Isto é um sinal do nosso atraso. Não se vê política (de preços) para carne e para o arroz, por exemplo. Porque isso simplesmente é o mercado. O ideal é que tenhamos vários players de mercado e que cada um decida o que é o melhor para seus clientes. É o livre mercado.

O sr. já tem ideia de que ativos poderão ser vendidos pela companhia?

Vamos avaliar. Os detalhes serão discutidos depois de uma análise criteriosa.

Parte das ações da BR Distribuidora já é negociada na Bolsa de Valores. O governo pode se desfazer de uma fatia maior da empresa?

Vamos decidir depois. A Petrobrás deverá vender ativos que não fazem parte do core business. Prefiro não especular.

A Liquigás, empresa de gás de cozinha, chegou a ser vendida, mas o negócio foi barrado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Este é um ativo que não faz sentido a Petrobrás ter no seu portfólio. O mercado de distribuição gás liquefeito ao consumidor é concentrado. Vamos encontrar uma maneira de colaborar para a desconcentração deste mercado, não para acentuar essa concentração.

Privatizar refinarias está no radar?

É algo que pode ser estudado. Há uma distorção onde uma única empresa detém 98% do negócio. É uma anomalia.

Há uma corrente mais liberal que defende a privatização da própria Petrobrás...

Privatizar a Petrobrás, neste momento, não está em discussão. Não tenho nenhum mandato do presidente Jair Bolsonaro para fazer isto.

Outro assunto defendido pelo mercado é a quebra do monopólio do setor de gás canalizado.

Esses assuntos deverão ser tratados, mas não envolvem exatamente só Petrobrás. Envolvem políticas públicas, Congresso. Podemos dar nossa contribuição com ideias, mas não depende da Petrobrás. O gás natural é uma fonte de energia que ainda é pouco tocada no Brasil. Temos um potencial grande de produzir em larga escala e atrair investimentos.

O sr. afirmou que o foco da Petrobrás deverá ser na exploração e produção. Qual modelo deverá prevalecer neste processo?

Eu sou favorável a que se tenha um único regime de exploração, o da concessão para o mercado como um todo. No Brasil, há três regimes: concessão, partilha e tem ainda a cessão onerosa. Tenho forte preferência por um único regime. A concessão. Ponto.

O sr. considera este modelo mais atrativo para investidores?

Acredito que os investidores gostam mais do regime de concessão. Temos de tornar o País atrativo para se fazer negócios. Isso significa mais emprego, mais renda e a construção de uma nação próspera.

Qual será o papel da Petrobrás no próximo governo?

Será de uma empresa estatal séria, produtiva e que contribua definitivamente para o desenvolvimento do País. Vamos investir mais em pré-sal, atuar em setores chave e vender o que tiver de ser vendido. No Chile, temos o exemplo da Codelco, maior produtora de cobre do mundo, que convive com outros players no mercado global e contribui para o desenvolvimento da economia chilena. O Chile é a melhor economia da América Latina. É um exemplo a ser seguido.

Veículo: Estadão

Seção: Economia e Negócios



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