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No pós-eleição, consultorias adotam cautela para o PIB

Passadas as eleições, as principais consultorias econômicas do país ajustaram seus cenários para incorporar a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) às projeções. Antes convencidos de que os eleitores dariam a vitória a um candidato reformista e com facilidade para aprovar mudanças, os economistas adotam agora um tom mais cauteloso, avaliando que o presidente eleito poderá enfrentar dificuldades para aprovar a pauta econômica. Com isso, a recuperação da atividade deve continuar, mas em ritmo moderado. 

Na avaliação da Macroplan, o embate das agendas liberal e corporativista de Bolsonaro será determinante para o ritmo de crescimento econômico do país no próximo ano, assim como para a evolução dos investimentos privados e da inflação. O lado vitorioso desse duelo ficará mais claro ao longo dos próximos cinco meses, conforme medidas forem anunciadas, e concessões, feitas.

No cenário de prevalência da agenda liberal, com maior abertura da economia e menores barreiras ao capital estrangeiro, o investimento privado seria ampliado e o crescimento do PIB seria de, no mínimo, 3% no próximo ano, segundo a consultoria. A inflação permaneceria controlada, com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) rodando próximo ao centro da meta do governo, fixado em 4,25%. 

No cenário em que a agenda corporativista prevalece, a reforma da Previdência será "branda". Bolsonaro cederia reajustes salariais a servidores públicos e proteção a setores da economia. O enxugamento do Estado seria simbólico, e as concessões de infraestrutura, apenas moderadas. Privatizações ficariam restritas a "migalhas" - sem Petrobras, Banco do Brasil, Caixa e Eletrobras. Com o investimento privado moderado, a economia cresceria no máximo 2% em 2019. A inflação superaria o teto.

Tendências Consultoria e MB Consultores, por exemplo, veem apenas 10% de chance de seus cenários mais otimistas se materializarem. Neste quadro, diz a Tendências, governabilidade e bom diagnóstico de prioridades resultariam em queda na percepção de risco, valorização de ativos e melhora da confiança, permitindo ao governo avançar na agenda liberal. O Brasil conseguiria gerar superávit já em 2021 e o crescimento médio do PIB iria a 3% de 2019 a 2022. 

Sérgio Vale, da MB Associados, acredita, no entanto, ser mais provável um cenário em que a pauta econômica poderá ter maiores dificuldades para ser aprovada, mas pontos mais consensuais da agenda micro e macroeconômica podem avançar, sem levar o país ao crescimento sustentado. Assim, o avanço do PIB em 2019 é estimado em 2,2%. 

"Aqui a maior dificuldade é em acertar a agenda e evitar que haja uma crise política que descambe para algo mais autoritário", avalia Vale, descartando a hipótese de uma ditadura, mas citando como exemplos os casos da Polônia e da Hungria. O governo começaria com presidente frágil, um Congresso marcado por parcela relevante de políticos inexperientes e oposição ativa. 

Em seu novo cenário-base, com probabilidade avaliada em 60%, a LCA Consultores avalia que, após uma fase de "lua-de-mel", os mercados domésticos se ajustem a uma perspectiva política em que as iniciativas de reequilíbrio das contas públicas pela gestão Bolsonaro enfrentarão resistências, mas avançarão de maneira lenta e irregular. 

Com isso, a cotação cambial se acomodaria em patamar mais depreciado do que o previsto anteriormente, as perspectivas de cumprimento das metas de inflação ficariam mais apertadas e a política monetária pode vir a ser ajustada antes do que era esperado. Assim, a recuperação da atividade tenderia a ser um pouco mais lenta - a LCA também vê uma alta de 2,2% no PIB de 2019.

Na ponta mais otimista, Rosenberg e GO Associados já veem sinais mais firmes de retomada da economia e projetam para o próximo ano crescimento do PIB de 2,8% e 3,3%, respectivamente. No boletim Focus, a mediana das estimativas aponta para alta de 1,36% no PIB de 2018 e de 2,50% no de 2019.

"O desempenho da economia, no curto prazo, deve passar ao largo de questões mais complexas: com o câmbio voltando a se valorizar, recuam as pressões inflacionárias e posterga a necessidade de alta de juros", avalia a Rosenberg. 

Eduardo Velho e Gesner Oliveira, da GO, destacam que Bolsonaro começará sua administração com a economia em situação melhor do que a do início do governo de Michel Temer, o que pode tornar menos complexa a implementação de reformas. "A expectativa é que um presidente eleito tenha mais condições que o atual governo de conseguir resultados favoráveis para a economia e política."

Veículo: Valor Econômico

Seção: Brasil



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