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Haddad adapta propostas e discurso para ampliar apoios

Trancado em um hotel nos dois primeiros dias após o segundo turno - o que acabou se tornando uma rotina nesta fase da campanha -, o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, fez inflexões e alterações nas propostas de governo para tentar ampliar apoios e se diferenciar do adversário Jair Bolsonaro (PSL). 

O primeiro anúncio foi a decisão de retirar, do programa, o apoio explícito à convocação de uma nova Constituinte. "Nós revimos o nosso programa. Vamos fazer as reformas propostas por emenda constitucional", afirmou, em entrevista ao "Jornal Nacional", no dia 8.

O candidato também aproveitou o segundo turno para detalhar e ampliar propostas de segurança pública. Haddad foi aconselhado por governadores do Nordeste a abordar o assunto de forma veemente em seus discursos, anunciando ações concretas, para se contrapor diretamente a Bolsonaro.

O índice de violência no Nordeste tem aumentado paralelamente ao desemprego, e os governadores viam nas propostas simplistas de Bolsonaro para o setor uma ameaça de reversão de votos em redutos já conquistados pelo PT. A principal bandeira do presidenciável do PSL é permitir o porte de armas sem restrições. 

Haddad seguiu o conselho e passou a enfatizar, em quase todas as entrevistas que concedeu, que não quer as pessoas com armas na mão, mas sim com uma carteira de trabalho em uma mão, e um livro na outra. "Ninguém quer dar mole pra bandido, mas a solução não é armar a população. O caminho é a Polícia Federal assumir o combate ao crime organizado", chegou a escrever em seu perfil do Twitter. 

No lugar de propostas punitivistas, como fez o adversário, Haddad passou a defender o fortalecimento da Polícia Federal e propôs a federalização dos crimes de tráfico, homicídio e feminicídio, para permitir a atuação da PF nas investigações nos Estados e municípios. Além de prometer aumentar o efetivo da PF - sem se comprometer com números -, ele disse que aumentaria repasses aos Estados para segurança. O candidato informou que sua ideia é criar uma nova unidade da PF apenas para cuidar destes crimes federais.

São Paulo, segundo Haddad, "exportou" as facções criminosas ao Nordeste e cabe ao governo federal auxiliar os Estados neste combate, com serviços de inteligência. "Vamos colocar a Polícia Federal pela primeira vez na rua para combater o crime organizado. As facções criminosas estão atuando nacionalmente e a PF vai entrar no circuito. Os grandes criminosos precisam ir para a cadeia", falou Haddad, no Twitter, em 10 de outubro. 

Haddad reagiu com perplexidade à proposta de "excludente de ilicitude" defendida por Bolsonaro, que exclui a tipificação do ato de matar como crime se cometido em legítima defesa. "É a licença para matar. A barbárie", afirmou Haddad.

Em relação à maioridade penal, o petista enfatizou que é contra qualquer alteração no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Bolsonaro, que inicialmente queria reduzir a maioridade penal para 16 anos, admitiu uma mudança gradual, iniciando com a queda para 17 anos. 

Outra reivindicação dos governadores, em especial os nordestinos, é o controle da fronteira. Haddad acenou com a antecipação do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), com conclusão prevista para 2035, para 2025. O sistema fará o monitoramento de quase 17 mil quilômetros de fronteira.

No meio da campanha no segundo turno, quando o PT percebeu a necessidade de reforçar ao eleitor a biografia de Haddad e apresentá-lo como professor e ex-ministro da Educação, o candidato passou a explicitar algumas ações nesse setor. O ex-ministro, que deu prioridade à educação básica e ao ensino superior em sua gestão, disse que a hora é de unir as duas pontas. A prioridade de seu governo seria o ensino médio, afirmou.

Duas ideias centrais passaram a ser exploradas na campanha: a necessidade de regulamentar de forma permanente o Fundo Nacional da Educação Básica (Fundeb), assegurando os repasses para sustentar investimentos em educação básica, creche e ensino médio, "na perspectiva de fortalecimento das escolas de tempo integral".

Outra proposta é que as escolas federais criadas no governo Lula "adotem escolas de ensino médio com baixo desempenho, oferecendo formação continuada aos professores, banda larga, esporte e cultura".

Haddad tentou manter, paralelamente, o discurso da geração de empregos no segundo turno e usou o mote do programa Meu Emprego de Novo. Concretamente, comprometeu-se com a geração de 2 milhões e empregos a cada ano de mandato, totalizando um saldo de 8 milhões de novas vagas. Em linhas gerais, disse que essas vagas serão criadas a partir da retomada de 2,8 mil obras paralisadas no país e a contratação de 2 milhões de novas moradias do programa Minha Casa Minha Vida até 2022.

Os programas sociais criados pelo governo Lula e que reduziram a desigualdade econômica e social no Nordeste foram cuidadosamente explorados por Bolsonaro no segundo turno. Haddad prometeu aumento de 20% para o Bolsa Família, comprometeu-se a ampliar o programa e reinserir no cadastro beneficiários cortados do programa no governo Temer

Na tentativa de capturar eleitores de Ciro Gomes (PDT), que lançou a ideia de tirar o nome dos endividados do cadastro negativo do SPC, o SPCiro, Haddad defendeu a criação de linhas de crédito com juros e prazos acessíveis para que os cidadãos consigam pagar suas dívidas. 

Outro aceno para os cearenses e eleitores de Ciro foi a inclusão no programa das policlínicas com especialistas. Ele prometeu, também ampliar o programa Mais Médicos, contratando o Mais Médicos Especialidades. A proposta se funde à ideia das policlínicas de especialistas, colocando uma unidade desta em cada área de 500 mil habitantes, para exames, consultas e cirurgias de baixa complexidade. 

Do pouco que falou sobre economia, Haddad repetiu o mantra de que as primeiras reformas, se eleito, seriam a tributária e a bancária. Enfatizou que queria um ministro da Fazenda do setor produtivo, com enfoque na geração de empregos. Sobre o ajuste fiscal, apontou que o caminho é obedecer a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). "Houve um desarranjo disso no final de 2014, depois em 2015, em função da queda de arrecadação, não do aumento da despesa", declarou. 

Um dos caminhos para equacionar o déficit público, admitiu, é uma reforma da Previdência. Porém, enfatizou que defende uma reforma gradual para que se implemente no Brasil um sistema único de Previdência Social.

"A estratégia nossa é construir o regime único de Previdência começando pela previdência dos Estados - até porque estão quebrados, não vão conseguir pagar a folha, muito menos aposentadorias. A divergência não é em relação à trajetória do déficit. Todo mundo está de acordo que o déficit tem que cair", disse o candidato do PT.

Nos últimos dias, Haddad fez também mais uma sinalização aos prefeitos e governadores. Prometeu criar um "Conselhão" da governança federativa, um órgão semelhante ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do governo Lula. 

Veículo: Valor Econômico

Seção: Política



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