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Economia diversificada e inovação se destacam para geração de empregos em Blumenau

Rute queria trabalhar e estudar. Enfrentava como obstáculo o alto custo de vida de Brasília, cidade em que morou a maior parte da juventude. Aos 22 anos, veio para Blumenau, onde tinha familiares. Por aqui, trabalhou por três anos em indústrias têxteis, grandes símbolos da economia do Vale do Itajaí. Mas o salário só era suficiente para se manter e dividir o aluguel com as amigas. Foi uma oportunidade em uma loja de cosméticos que fez Rute Marcelino Teixeira, hoje com 36 anos, mudar de área e passar a fazer parte de um dos setores responsáveis por diversificar a economia da cidade.

Quatorze anos depois de chegar à cidade, a vida de Rute está bem diferente. Formou-se em Design de Moda e hoje cursa pós-graduação em Marketing e Vendas. Não teve dificuldades para encontrar novas oportunidades à medida que ganhava experiência. No momento trabalha como consultora de moda em uma loja na Alameda Rio Branco.

– Atualmente tenho um padrão de vida que não teria se não tivesse me mudado para Blumenau. O comércio permite, se você correr atrás, alcançar seus objetivos – conta a consultora.

A cidade tem um papel de vanguarda quando o assunto é inovação e empreendedorismo. Mas na geração do bom e velho emprego de carteira assinada a cidade também tem se destacado, mesmo em meio a um momento de dificuldade econômica generalizada.

De janeiro a julho deste ano, dado mais recente disponibilizado pelo Cadastro Geral Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, Blumenau foi a segunda cidade de Santa Catarina que mais gerou empregos, com saldo positivo de 3,8 mil vagas. Mesmo com queda nos últimos dois meses, a cidade fica atrás apenas de Joinville, que tem 4,9 mil vagas criadas a mais do que os postos de trabalho fechados nesses sete meses.

Quando o assunto é o total de pessoas empregadas na cidade, o dado mais recente do IBGE e repassado pelo Sistema de Informações Gerenciais e de Apoio à Decisão (Sigad), da Furb, de 2016, aponta que havia 129,6 mil pessoas empregadas formalmente na cidade. Desse número, o maior empregador já é o setor de serviços, com 46,8 mil vagas, contra 42,8 mil da indústria. O setor têxtil tem 54% das vagas da indústria, com 23,1 mil, e o comércio varejista soma 42,7% dos postos de trabalho da área de serviços, com 20 mil, e lideram as estatísticas.

É a diversificação da economia que hoje permite a Blumenau empregar mais. A cidade que já teve as empresas têxteis como símbolo da economia acompanhou uma mudança de perfil de negócios depois da abertura do mercado, no início da década de 1990. A chegada de produtos chineses na condição de concorrentes decretou o fim de algumas companhias a forçaram muitas outras a se adaptar. A modernização foi fundamental para que a indústria têxtil conservasse sua importância.

Este cenário abriu espaço para que outras atividades também brilhassem. Empresas de tecnologia que haviam surgido entre uma e duas décadas antes ganharam espaço ao vender softwares de gestão para empresas de todo o país. O setor de serviços também se valeu da mão de obra que deixou de ter as indústrias como única opção e conseguiu se fortalecer. Surgiram aí mais restaurantes, hotéis e comércios que diversificaram uma economia em que a indústria, mesmo assim, ainda conseguiu conservar alto potencial, com força também em setores como metalmecânico.

– Esta empregabilidade está ligada à diversificação. Somos polo de tecnologia, software, as startups estão em crescimento, somos polo de serviços. A gastronomia se fortaleceu, o turismo de eventos cresceu também. Somos a capital econômica do Vale do Itajaí, onde pulsam todos os serviços dos quais a região se beneficia. Além do empreendedorismo e do cooperativismo, que aqui também são muito fortes – enumera o presidente da Acib, Avelino Lombardi.

Investimento em tecnologia cresce e abre novas oportunidades, em especial a jovens

Alex Borderes Lopes, 20 anos, é um exemplo de jovem que começou a se envolver com tecnologia desde cedo. Ainda na infância, produzia vídeos com amigos e conheceu as primeiras lições sobre criação de blogs e sites na internet. Aos 14 anos, fez um curso de conserto de celulares e trabalhou em uma assistência técnica da cidade. A experiência só aumentou a certeza de que gostaria de trabalhar com algo ligado à tecnologia.

No ano passado, cursou o programa Entra21, que ensina programação a jovens gratuitamente, e conseguiu uma vaga de estágio em uma empresa da área. Após seis meses, foi efetivado como programador e já é cotado para ajudar a empresa em um projeto desenvolvido em São Paulo. Alex morou em Blumenau durante o Entra 21 e hoje reside em Luiz Alves, mas é como tantos outros que todo dia vêm a Blumenau para ganhar a vida e, por isso, também criam uma relação de afeto com a cidade. Para Alex isso é só o começo. Ele cursa Sistemas de Informação na Furb.

– Pretendo mais para a frente ser promovido, crescer, estou estudando para isso. Depois que começamos a trabalhar, vemos que esse setor realmente só cresce a cada ano. É bom investir e se dedicar em algo que você sabe que tem grandes chances de dar certo – conta.

O setor de Tecnologia da Informação (TI), onde trabalha Alex, é um dos que ajudaram a dar um novo perfil à economia de Blumenau no período mais recente desses 168 anos de história. A origem das empresas desta área está justamente no seio das indústrias têxteis. Na década de 1970, cerca de 10 empresas se uniram para montar uma central para os serviços de tecnologia: o Centro Eletrônico da Indústria Têxtil (Cetil).

O modelo deu certo e ganhou vida própria graças a produtos como sistemas de emissão de carnês para prefeituras. Quando a indústria têxtil teve o reinado ameaçado pela abertura do mercado e pela falência de algumas empresas na década de 1990, as empresas criadas anos antes por profissionais que passaram pelo Cetil ganharam relevância na economia local.

Área da tecnologia é a que mais arrecada com imposto sobre serviço na cidade

Hoje a área de TI é a maior arrecadadora de Imposto Sobre Serviço (ISS) de Blumenau. Mesmo nesse momento de retração da economia brasileira, empresas de tecnologia continuam em busca de profissionais qualificados, o que ajuda o setor a ser um dos que mais empregam na cidade. Na outra ponta desta relação, a tecnologia também atrai jovens em busca de uma carreira.

– O jovem que está entrando no mercado de trabalho hoje, querendo se decidir, ele olha em nível mundial quais são as empresas que mais faturam, o que ele vai enxergar? Microsoft, Apple, Facebook, Amazon: são empresas de tecnologia. Antigamente eram empresas de aviação, siderurgia. Isso já é um grande incentivo – conta o conselheiro do Blusoft e do Instituto Gene e coordenador do programa Entra21, Sérgio Tomio.

Entre 2015 e 2016, Blumenau reuniu poder público e lideranças empresariais para definir qual deveria ser a direção da economia da cidade nos próximos anos. O resultado foi a definição de cinco eixos. Dois deles ligados ao ramo industrial, o setor têxtil e metalmecânico, e os outros três representando essa diversificação da economia, com comércio, saúde e tecnologia da informação.

– O futuro é em busca de excelência em serviços na área de saúde, serviços, suporte às empresas e apoio para o empreendedorismo. Se você olhar, até as ações da prefeitura já são neste sentido, dando suporte às empresas de forma centralizada, com menos burocracia. Vamos caminhar forte para isso – avalia o presidente da Acib, Avelino Lombardi.

O economista e professor da Furb Nazareno Schmoeller confirma que esses eixos, juntamente com o turismo, devem ser os principais nortes para a economia local. Ele aponta que a indústria têxtil ainda é o principal setor do município, mas que agora divide espaço com outras atividades como cooperativas e serviços financeiros, TI, hotéis, restaurantes e comércio, que se fortaleceu com shoppings e novos estabelecimentos. Para que o crescimento nessas áreas continue nos próximos anos, ele aponta a melhora em mobilidade urbana e infraestrutura como os principais desafios para a cidade.

Veículos: jornal de Santa Catarina

Seção: Política e Economia



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