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Feira em formato inovador e suporte qualificado ajudam a turbinar produção têxtil em SC

Quando o Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário (Sintex), que representa as empresas do segmento em Blumenau e região, desistiu de organizar a Texfair, muita gente viu a decisão como um sinal dos tempos difíceis que haviam chegado ao setor e de suas perspectivas sombrias para o futuro. A feira de negócios, que chegou a trazer celebridades Globais para a cidade em seu melhor momento, era um orgulho para os blumenauenses, mas tornou-se inviável do ponto de vista financeiro e deixou de ser promovida pela entidade patronal há cinco anos.

O fim da Texfair de fato sinalizou mudança de tempos. Mas não necessariamente negativa. Para o lugar da importante feira têxtil de Blumenau, o Sintex criou a Turnê do Mercado Têxtil Santa Catarina (TMT SC), evento pioneiro na América Latina que neste ano chega à 10ª edição – ocorre de 23 a 27 de julho, com formato bem diferente mas mesmo objetivo de uma feira tradicional: proporcionar um ambiente favorável à geração de negócios para o setor. A ideia deu tão certo e agradou tanto que, em quatro anos (a primeira edição ocorreu em 2014), já promoveu 10 edições.

Recepção

A grande diferença da turnê para a feira têxtil é a forma como as empresas recebem os clientes em potencial. No lugar de estandes montados em pavilhões e centros de eventos, os fabricantes recepcionam os compradores na própria fábrica, onde montam os mesmos espaços a custo bem menor e  conforto bem maior. Ali também podem envolver o cliente de forma mais intensa com o ambiente corporativo, diferencial de peso da indústria têxtil catarinense, cuja longa tradição de respeito ao meio ambiente e à salubridade laboral criaram um sistema produtivo bastante confiável – ao contrário da realidade predominante em outros polos do Brasil e do exterior. Numa época em que a sustentabilidade é um valor cada vez mais aceito pelo mercado, isso é uma vantagem competitiva considerável.

Outra diferença da turnê é o número de empresas participantes, que precisa ser menor para garantir mais conforto e tempo de deslocamento aos visitantes. São quatro municípios a serem visitados (Blumenau, Joinville, Brusque e São Bento do Sul) este ano. Neles, os fabricantes têxteis recebem os clientes em horário marcado e ambiente preparado cuidadosamente para este fim. Como o número de empresas é menor, elas alternam-se a cada edição do evento, racionalizando custos e favorecendo a logística – seria impensável fazer 10 edições da Texfair em quatro anos. Este ano sete companhias receberão executivos de compra de grandes e pequenas redes varejistas, oferecendo seus produtos (nascidos com o DNA de Santa Catarina) e preparando o terreno para fechar bons negócios.

Solidez

O setor têxtil, apesar de toda a má sorte de desafios surgidos nos últimos anos (da crise econômica à concorrência dos chineses, aqui e lá fora), segue como um dos pilares mais sólidos da economia catarinense. No ano passado, gerou um terço de todos os empregos criados pela indústria do estado. A produção de vestuário avançou mais de 10%, após anos sucessivos de queda.

Dados da Associação Brasileira de Assessoria em Comércio Exterior (Abracomex) mostram que Santa Catarina também foi decisiva para sustentar as exportações brasileiras no auge da crise. Em 2015, quando o setor amargava um de seus piores momentos desde o início da década de 1990 (época em que quase foi à lona com a abertura da economia brasileira à concorrência externa), a indústria têxtil catarinense liderou as estatísticas do comércio exterior. Produziu, sozinha, cerca de 35% de tudo o que o Brasil vendeu no exterior em artigos de vestuário (roupas, predominantemente) – concorrendo com os asiáticos, cujo custo de produção é bem mais baixo que o brasileiro. Enquanto as exportações catarinenses permaneceram praticamente estáveis em 2015, caindo apenas 3%, outros quatro estados, entre os cinco maiores exportadores brasileiros, viram suas vendas despencar 17% no exterior.

Propulsão

Obter resultado bom em cima de retrospecto ruim é mais fácil, evidentemente, mas, ainda assim, demonstra o vigor e a capacidade produtiva da indústria têxtil em Santa Catarina. Considerando que o Vale do Itajaí e parte da região Norte do estado estão para o parque têxtil de SC como Meca está para a fé do Islamismo, dá para ter uma ideia do impacto que iniciativas como o TMT SC podem ter na economia de SC e do Brasil, consequentemente, pela importância do parque têxtil catarinense para a saúde econômica do país.

Por trás deste vigor e desta capacidade produtiva está a tradição do segmento no estado e a qualidade da força de trabalho catarinense. Mas estão também iniciativas inteligentes e oportunistas como a do TMT SC, que transformam crise e dificuldade em superação e oportunidade. A Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) oferece outra ótima ferramenta para alavancar a produção da indústria têxtil, disponibilizando consultoria e suporte qualificado para quem deseja vender seus produtos lá fora mas não tem estrutura corporativa para isso. Na avaliação daAbracomex, esta seria uma das principais causas do protagonismo catarinense nas exportações brasileiras do segmento.

Gargalo  

Mas quando se observa toda esta pujança da indústria têxtil catarinense, não se pode deixar de observar também, infelizmente, que ela ocorre a despeito do gargalologístico que hoje sufoca a produção em Blumenau e região, principal polo do setor no estado. Se SC e o Vale do Itajaí livraram o Brasil de uma queda vertiginosa nas exportações do setor nos últimos anos, portanto, imagine o que poderiam fazer se não estivessem afogados pelo esgotamento da BR-470, cuja duplicação anda a passos de tartaruga e não tem prazo para terminar, dentro do atual cenário de escassez de recursos – agravado pela falta de responsabilidade dos agentes públicos, que acabam de aumentar em R$ 100 bilhões por ano as despesas da União com o funcionalismo e outros itens administrativos do governo federal, que não incluem os investimentos, como sempre acontece.

É o velho dilema de quem produz no Brasil: por mais que o empresário faça a parte dele, nem sempre o país faz a sua – com as honrosas e desonrosas exceções que confirmam a regra, de ambos os lados. Por isso é tão difícil para o país se desenvolver plenamente, como podemos perceber há mais de 500 anos.

Veículo: Análise em Foco

Seção: Notícias



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