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Bolsa fecha em alta de 0,84% apesar da saída de Meirelles da Fazenda

A Bolsa brasileira operou positivamente nesta segunda-feira, 26, espelhando o comportamento das bolsas globais. No entanto, no plano doméstico, as incertezas sobre quem sucederá Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda trouxeram a cautela para os negócios durante o pregão. Ainda assim, o Ibovespa encerrou a sessão em alta de 0,84%, alcançando os 85.087,86 pontos.

Enquanto isso, após ter subido 1,17% no acumulado da semana passada, o dólar cedeu a uma correção vinda do exterior e recuou levemente ante o real. Em um dia marcado pela queda firme e generalizada da moeda americana, chamou a atenção no mercado a resistência das cotações no nível dos R$ 3,30, tanto no mercado à vista como no futuro. Segundo analistas, os motivos podem ser internos, uma vez que investidores aguardam por desdobramentos de eventos no âmbito doméstico. Após oscilar entre mínima na faixa dos R$ 3,29 e máxima ao redor de R$ 3,31, o dólar à vista terminou o dia em R$ 3,3093, em baixa de 0,21%.

O baixo volume de negócios verificado, de R$ 7,44 bilhões, traduziu sentimento ressabiado dos investidores, de acordo com Ariovaldo dos Santos, gerente da mesa de renda variável da H.Commcor. Esse giro ficou abaixo da média entre R$ 10 e 11 bilhões que vinha sendo registrada no primeiro trimestre deste ano. Os investidores estrangeiros seguem saindo e, de acordo com a B3, em março, já retiraram R$ 4,808 bilhões, fazendo com que o saldo em 2018 caísse a R$ 509,480 milhões.

Em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, o presidente Michel Temer confirmou que Meirelles deixará a Fazenda até o dia 7 de abril. De acordo com especialistas em renda variável, a notícia fez perder fôlego o índice, que havia subido mais de 1% na primeira hora desde a abertura. 

Aliado a isso, os investidores aguardavam para o início da tarde o julgamento pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) de recurso da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a condenação a 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex no Guarujá. 

"A sessão de hoje mostrou uma tentativa dos agentes de mercado equacionarem a saída de Henrique Meirelles com a alta muito forte no mercado externo. Foi um estica-e-puxa", disse Pedro Paulo Silveira, economista-chefe Nova Futura CTVM. 

Segundo ele, a notícia gerou ruído durante a sessão de negócios, mas foi se dissipando, pois, acredita, não deve haver surpresa na substituição. 

O próprio ministro disse mais tarde que o novo ministro deve ser escolhidos entre os secretários da Pasta. De acordo com fontes, Meirelles tem a preferência por Eduardo Guardia (secretário-executivo) e Mansueto Oliveira (secretário de Acompanhamento Fiscal), mas que a maior aposta é Guardia. "Dyogo Oliveira [ministro do Planejamento] não seria uma boa opção para o mercado como o balão de ensaio já mostrou", completou Silveira.

"Temor é não saber quem será o novo ministro, se vai ter a mesma visão, mesmo comportamento e o que fará. Isso traz intranquilidade", disse o operador da mesa institucional da Renascença Corretora Luiz Roberto Monteiro, para quem o mercado também ficará em compasso de espera pela continuação do julgamento pelo Supremo Tribunal (STF) do pedido de habeas corpus do ex-presidente Lula, marcado para 4 de abril. 

Câmbio. A possibilidade de um acordo entre Estados Unidos e China que evite uma guerra comercial entre os dois países foi o combustível do bom humor no mercado externo, que levou o dólar a se enfraquecer de maneira geral. A melhora na avaliação sobre o assunto foi impulsionada por uma reportagem do Wall Street Journal, segundo a qual os EUA e a China iniciaram um diálogo discreto para melhorar o acesso americano aos produtos chineses.

As bolsas de Nova York subiram acima dos 2% e os juros dos Treasuries avançaram. No fechamento, o Dollar Index, que mede a variação do dólar ante uma cesta de moedas fortes, teve baixa de 0,46% (89,07 pontos). Esses fatores incentivaram a desmontagem de posições compradas firmadas na semana passada, justamente quando os temores de um conflito comercial foram mais intensos.

Para Cleber Alessie Machado Neto, operador da corretora HCommcor, foi nítido nesta segunda-feira que os mercados de câmbio e ações não acompanharam integralmente o bom humor internacional. Na opinião dele, a cautela com o STF é um dos fatores que inibiram uma correção mais forte no câmbio. O profissional também citou a possibilidade de a disputa pela Ptax do final de março estar sendo lentamente antecipada, uma vez que a semana é mais curta, por conta do feriado de Páscoa.

"O real esteve mais fraco que seus pares no exterior e é difícil saber qual fator tem maior influência. Mas é importante lembrar que a moeda tem sido beneficiada nos últimos meses, porque o Brasil tem sido o queridinho do mercado", disse o operador. "No que diz respeito ao noticiário, há algum desconforto na expectativa pelo julgamento no STF", afirmou.

Para José Carlos Amado, operador da Spinelli corretora, o fato de o dólar resistir nos R$ 3,30, com poucas oscilações acima ou abaixo desse patamar, evidencia um mercado dividido. "É natural que em momentos de indefinição dólar passe a rondar um valor redondo, uma referência psicológica, à espera de um indicativo", disse o profissional.

Quanto à repercussão do caso Henrique Meirelles, a maioria dos profissionais ouvidos pelo Estadão/Broadcast considerou que houve espaço para especulação em torno do eventual substituto do ministro, mas pouca ou nenhuma influência nos negócios no câmbio.

"Dificilmente o presidente Michel Temer iria mudar a linha de Henrique Meirelles na política econômica, que a principal bandeira do governo. Isso não faz muito sentido. Os grandes players do mercado têm uma visão bastante madura quanto a isso e não esperam essa mudança", disse Machado Neto, da Hcommcor.

Veículo: Estadão

Seção: Economia e Negócios



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