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PIB de 2017 sobe 1%, mas ritmo do consumo frustra no 4º tri

A economia brasileira avançou 1% no ano passado, deixando para trás uma recessão brutal, que fez o Produto Interno Bruto (PIB) cair quase 7% no acumulado de 2015 e 2016, depois de uma alta de apenas 0,5% em 2014. Pelo lado da oferta, o destaque em 2017 foi a agropecuária, com expansão de 13%, devido à safra agrícola recorde. A indústria ficou estável, depois de encolher por três anos seguidos, e os serviços avançaram 0,3%. Pelo lado da demanda, quem puxou o PIB na média do ano foi o consumo das famílias, com alta de 1%. O investimento ainda recuou, com queda de 1,8%, enquanto o consumo do governo caiu 0,6%.

No quarto trimestre, porém, o crescimento foi modesto, com alta de 0,1% sobre o terceiro, feito o ajuste sazonal, influenciado especialmente pelo fraco desempenho do consumo das famílias. O principal componente da demanda subiu somente 0,1% nessa base de comparação, depois de ter avançado 1,2% no segundo e 1,1% no terceiro. A média das projeções dos analistas ouvidos pelo Valor Data era de uma alta de 0,9% do consumo das famílias no quarto trimestre. Já o investimento teve um comportamento bastante positivo, com expansão de 2%, na terceira alta trimestral seguida.

A expectativa dominante é de que a retomada vai continuar neste ano, com o PIB devendo crescer perto de 3%, num cenário marcado por juros mais baixos, melhora do mercado de trabalho, inflação baixa, recuperação do crédito e redução do endividamento.

O consumo das famílias mostra correlação elevada com as vendas no varejo. No conceito ampliado, que reúne automóveis, autopeças e material de construção, as vendas no quarto trimestre haviam caído 0,5% em relação ao terceiro. No trimestre anterior, havia subido 0,6%.

O fraco aumento do consumo das famílias no quarto trimestre levanta algumas dúvidas sobre que o ritmo esse componente da demanda terá neste ano, embora fatores como os juros mais baixos e a recuperação do emprego devam favorecê-lo. A taxa de desocupação, porém, permanece elevada, e boa parte da criação de postos de trabalho ocorre no setor informal.

Parte da decepção com o consumo das famílias pode ser explicada pela base mais alta de comparação, devido ao desempenho melhor nos trimestres anteriores, segundo Rodolfo Margato, do Santander. "São fatores pontuais, oscilações", disse ele. "Apesar desse ruído, a tendência segue favorável." O banco estima alta de 4,5% para esse componente da demanda. Para o PIB, a expectativa é de crescimento de 3,2%.

Para Flavio Serrano, economista-sênior do Haitong, houve uma "acomodação" do consumo das famílias após o impulso da liberação de cerca de R$ 45 bilhões das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) no segundo trimestre, que produziram efeitos nesse período e também no trimestre seguinte. O Haitong projeta crescimento do PIB de 2,2% neste ano, com a demanda das famílias avançando algo como 2% a 2,5%.

O diretor de pesquisa para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, destacou a diferença de desempenho do PIB nas duas metades do ano passado. No primeiro e no segundo trimestres, a economia avançou 1,3% e 0,6%, dando lugar a uma alta de 0,2% e 0,1% no terceiro e no quarto, sempre na comparação com os três meses anteriores, feito o ajuste sazonal.

Apesar dessas ponderações, Ramos enfatizou que a recessão ficou para trás. "O ciclo econômico atingiu um ponto de inflexão no primeiro trimestre de 2017, e nós esperamos que a recuperação cíclica em curso se fortaleça em 2018", disse ele, apontando cinco motivos para acreditar nesse cenário: a inflação baixa, que sustenta os salários reais, as condições de crédito menos duras, o avanço na redução do endividamento das famílias, uma gradativa recuperação do investimento privado e uma melhora da confiança de consumidores e empresários, com a criação de empregos formais. "Além do mais, a incerteza econômica, embora ainda considerável, está menor do que dos níveis elevados atingidos no fim de 2016." Para ele, a economia deve crescer 2,5% em 2018.

Outro ponto destacado por Ramos é que o setor externo tirou 0,35 ponto percentual do crescimento no quarto trimestre em relação ao terceiro. As exportações encolheram 0,9% em relação ao terceiro trimestre, enquanto as importações aumentaram 1,6%.

Nas contas do economista-sênior da LCA Consultores, Bráulio Borges, a agropecuária foi responsável por 0,74 ponto percentual da expansão de 1% registrada pela economia em 2017. Em relatório, Borges ressaltou também o desempenho setorial bastante heterogêneo da economia em 2017, "embora o PIB tenha voltado a crescer em termos agregados". Segundo ele, é algo natural na saída de recessões muito severas, já que alguns setores, como bens duráveis e bens de capital, costumam sofrer mais do que outros". Ao falar de 2017, o economista afirmou que houve desde a alta de 13% do PIB agropecuário, até uma retração de 5% da construção civil.

Para 2018, a expectativa é de uma expansão menos heterogênea, segundo Borges. Isso deverá ajudar a arrecadação de tributos, uma vez que a agropecuária tem "uma carga tributária indireta efetiva significativamente mais baixa do que a indústria e os serviços", disse o economista. A LCA, que projeta crescimento do PIB de 2,8% em 2018, espera queda de 0,3% da agropecuária e uma alta de 4,1% da indústria e de 2,5% dos serviços.

O resultado do PIB de 2017 deixou uma herança estatística modesta para 2018, de 0,3%. Isso significa que, se a economia não avançar em relação ao nível do fim do ano passado, o PIB crescerá 0,3% neste ano.

O economista-chefe da corretora Tullett Prebon, Fernando Montero, acredita num crescimento de 3% em 2018, o que requer uma avanço médio um pouco superior a 1% em cada trimestre, em termos dessazonalizados. Ele diz ver na composição da atividade fatores com bom dinamismo, como a indústria e o consumo, o mercado interno e o investimento, além de "estímulos contratados de juros, desendividamento de famílias, recomposição de renda, concessões, emprego e índices de confiança".

Na comparação com outros países, o crescimento do Brasil em 2017 ficou atrás do desempenho de muitas economias emergentes e também desenvolvidas. O PIB da China avançou 6,9%, o da Turquia, 6,8%, o da Rússia, 1,5%, o dos EUA, 2,3% e o do Japão, 1,6%. (Colaboraram Alessandra Saraiva e Ana Conceição) 

Veículo: Valor Econômico

Seção: Brasil



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