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Para Ibre, incertezas políticas e fiscais ameaçam retomada

Veículo: Valor Economico 

Seção:  Brasil 

A recuperação econômica vai ganhar fôlego ao longo do ano, mas o balanço de riscos para a atividade é predominantemente negativo, na avaliação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). Nas estimativas do Ibre, o crescimento do Produto Interno Bruto vai passar de 1,1% em 2017 para 2,8% em 2018, mas incertezas de origem política e fiscal podem atrapalhar a consolidação da retomada.

Divulgada com exclusividade ao Valor, a edição de janeiro do Boletim Macro aponta que o cenário mais positivo para o PIB está apoiado em duas hipóteses. A primeira, mencionam os economistas Armando Castelar Pinheiro, Silvia Matos e Julio Mereb, supõe que o ambiente externo seguirá favorável. A segunda assume que as incertezas eleitorais, políticas e fiscais não vão provocar grande turbulência nos mercados de ativos domésticos. 

No entanto, já há sinais negativos vindos da política fiscal, pondera a equipe de conjuntura do Ibre. São eles o projeto de lei que permite a capitalização Caixa Econômica Federal com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, em operação de até R$ 15 bilhões, e uma possível emenda constitucional que abrande da "regra de ouro", que proíbe ao governo contrair dívida pagar gastos correntes. 

Em meio a esse cenário, a Standard & Poor's rebaixou mais uma vez a nota de crédito soberana brasileira, observam os economistas, por um motivo, de acordo com eles, "mais do que previsível: a dificuldade de o governo fazer avançar medidas corretivas para solucionar o imbróglio fiscal do país. 

Assim, dizem, "não se pode descartar, portanto, um cenário em que o quadro político alimente a incerteza sobre a trajetória das contas públicas e diminua a confiança de empresas e consumidores", o que poderia prejudicar o nível de atividade, sobretudo investimentos. Com isso, o quadro fiscal também pioraria. 

"O mercado está ficando mais otimista e nós, mais pessimistas", diz Silvia Matos, coordenadora técnica do boletim. Segundo ela, a recuperação da atividade no ano vai ocorrer, mas não está estruturalmente bem fundamentada. Para garantir o crescimento sustentável não só para este, mas também para os próximos anos, seria necessário solucionar a fragilidade fiscal do país, disse. 

Os sinais, porém, vão em sentido contrário: a aprovação da já desidratada proposta de reforma da Previdência parece cada vez mais distante, e reformar o Estado é ainda mais difícil, comenta. Assim, a perspectiva de que em 2019 a economia brasileira cresça ao redor de 4% também é pouco provável. "Estamos muito distantes de uma aceleração grande do crescimento, mesmo com uma queda dos juros maior do que a prevista anteriormente", avalia.

Nas projeções do Ibre, o crescimento do PIB deve ganhar velocidade. Nos últimos três meses de 2017, o instituto prevê que a atividade cresceu 0,2% sobre o trimestre anterior, feitos os ajustes sazonais. No primeiro trimestre de 2018, a expectativa é de avanço de 0,6%, com possível revisão pelo IBGE para 0,8%. 

Ainda do lado positivo, as chuvas do fim de 2017 e começo de 2018 trouxeram algum alívio para o nível dos reservatórios das hidrelétricas, o que é positivo para a inflação e também para a atividade. Mesmo assim, a entidade afirma que o cenário mais provável ainda é o de uso intensivo das térmicas neste ano, o que deve elevar a tarifa de energia e afetar o PIB da área de eletricidade. 

Mesmo assim, a inflação deve seguir bastante comportada, pondera Silvia. O Ibre prevê IPCA perto de 4% em 2018, mas, antecipa, o número pode se revisto para algo próximo de 3,6%. "Estamos em um período de bonança na inflação", diz.



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