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Na fábrica conectada, máquinas autônomas e intervenção mínima

Veículo: Valor Econômico 

Seção: Notícias 

Construído em aço e vidro, o prédio de 5,5 mil m2 da fábrica inteligente da Trumpf, inaugurada em setembro na vila de Hoffman Estates (Grande Chicago), distingue-se dos galpões presentes na região. Desenhada pelo escritório de arquitetura alemão Barkow Leibinger, a estrutura, com custo estimado em € 13 milhões, tem a função de representar a visão tecnológica da empresa. "A transparência nos processos é a principal característica de uma planta fabril inteligente", explica Tobias Reuther, o jovem alemão que dirige a unidade. A iluminação natural invade o prédio e amplia a visibilidade da operação. No mezanino, todo em vidro, fica a sala de controle.

De lá, os funcionários - cerca de 30 pessoas trabalham na unidade - enxergam as máquinas e acompanham a produção. Uma tela de vidro sensível ao toque, semelhante à operada por Tom Cruise no filme "Minority Report" (2002), espelha o chão de fábrica. Reuther toca em um dos ícones, a imagem do equipamento é ampliada e mostra os indicadores e a produção. Painéis distribuídos pela sala projetam imagens dos sistemas que recebem dados, em tempo real. "A base da inteligência é a conectividade. Com informação, podemos agir rápido", diz Reuther. João Carlos Visetti, diretor-presidente da Trumpf do Brasil, afirma que a fábrica reúne conceitos da indústria 4.0 - conjunto de tecnologias como inteligência artificial, internet das coisas (IoT), análise complexa de dados, manufatura aditiva (impressão 3D) e robótica avançada.

"Trata-se da inserção de uma camada de inteligência nos processos industriais, tornando a planta mais produtiva e eficiente." Para ele, a indústria 4.0 é o avanço natural da digitalização pelo qual o setor tem passado nas últimas décadas. Resultará, em um futuro próximo, em unidades fabris com equipamentos autônomos e exigência mínima de interferência humana. "O objetivo é deslocar os funcionários de atividades fisicamente desgastantes para trabalhos intelectuais", diz.

A Trumpf desenvolve, produz e vende máquinas para o processamento de chapas metálicas. Também é especializada no uso do laser em aplicações industriais. Seu principal mercado são as metalúrgicas e as fábricas que prestam serviços de terceirização. Na unidade de Hoffman Estates são os robôs que soldam, cortam, dobram, carregam material, finalizam e dispensam peças. Poucos operadores supervisionam as atividades. Do silêncio da sala de controle, não é possível perceber o tamanho da carga laboral destinada aos braços mecatrônicos. Já no chão de fábrica, o vaivém dos robôs em suas estações de trabalho traz sensações comuns a quem visita uma planta metalúrgica. A fabricação se torna real, com seu ritmo alucinante, o barulho do corte dos metais e o cheiro de graxa e de solda. "É muito mais confortável e saudável para o operador ficar na sala de comando", diz Reuther. A planta inteligente é um showroom da Trumpf para testar e comprovar os recursos de conectividade e inteligência da indústria 4.0.

Tem atraído visitantes - a maioria clientes da empresa -, que observam a produção de artigos de metal, como brindes. Nela, os robôs e sistemas colaboram com os humanos, os gestores da operação. "Sobra tempo para o atendimento ao cliente, melhoria de processos e inovação", afirma Visetti. Reuther lembra que, pelo fato de as máquinas serem capazes de trabalhar ininterruptamente, os ganhos com produtividade são grandes. "A aplicação da inteligência amplia a capacidade de produção entre 50% e 60%." A conectividade vai além do chão de fábrica. É possível adotar um sistema para captar pedidos nos moldes de um comércio eletrônico. O cliente faz as encomendas pela internet, as máquinas calculam o valor do trabalho, verificam a disponibilidade do material e dão partida na produção. Segundo Peter Hoecklin, presidente e CEO da Trumpf na América do Norte, a unidade inteligente demonstra o esforço de inovação que a fabricante tem feito.

"Nós queremos ser ícones para a indústria 4.0, assim como Amazon e Google são para a economia digital", afirma. O maior desafio, assegura, está em agregar o desenvolvimento de softwares à produção de hardware. "Além de construirmos boas máquinas, teremos de criar softwares capazes de conectá-las, permitindo que elas se comuniquem com outros equipamentos e sistemas, além de colaborarem com os operadores e equipes de engenharia." De origem germânica, o Grupo Trumpf possui 73 subsidiárias e está presente em países na Europa, Américas e Ásia. Emprega, em todo o mundo, 11,6 mil pessoas. No ano fiscal encerrado em junho de 2017, as vendas somaram € 3,1 bilhões - 10,8% a mais do que o montante registrado no exercício anterior.

A maior parte das receitas (80%) é gerada fora da Alemanha. Nas Américas, mercado que inclui o Brasil, as subsidiárias faturaram € 540 milhões, uma alta de 11,4% na comparação anual. De acordo com o balanço global, o orçamento para pesquisa e desenvolvimento consome cerca de 10% das receitas. No Brasil, a subsidiária responde pela importação, venda, distribuição e manutenção dos equipamentos. Segundo Visetti, a transição tecnológica planejada é um dos atrativos para os empresários brasileiros. "Não dá para derrubar a fábrica em operação e, simplesmente, construir uma nova, com base na indústria 4.0." Por isso, o foco está na melhoria e digitalização dos processos, agregando automação e inteligência, obedecendo a um plano de investimento. Nele, os ganhos vão se somando, a partir da substituição gradativa do trabalho humano pelas máquinas



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