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Robots chegam mais longe-Vestuário

Veículo: Portugal Têxtil

A Grabit, uma startup de robótica, faz máquinas que podem produzir até 20 vezes mais rápido do que os humanos. Além da rapidez, destaca-se a capacidade de fazer o que até agora estava limitado à mão de obra de “carne e osso”, graças a uma tecnologia que usa eletricidade estática e que está já a ser usada pela Nike.

A parte mais intensiva em termos de mão de obra de fazer uns ténis Nike é juntar a parte de cima – a parte flexível do sapato que fica na parte de cima do pé. Em muitos ténis, a parte de cima parece uma peça única de material sem pontos visíveis, mas, na verdade, podem ser feitos de até 40 peças que são colocadas umas por cima das outras e depois aquecidas para haver uma fusão. Embora os robots possam fazer grande parte do processo de produção do calçado, esta parte continuou além da sua capacidade. Até agora.

Há quatro anos, a Nike Inc fez um investimento numa startup sediada em Sunnyvale, na Califórnia, chamada Grabit que usa aderência por eletrostática – o tipo de eletricidade estática que faz com que o nosso cabelo se erice quando o esfregamos num balão – para ajudar as máquinas a manipular objetos de novas formas. Mais recentemente, a Nike tornou-se uma das principais clientes da startup.

Há cerca de dois meses, a Grabit começou a fornecer sistemas que fazem ténis Nike com um conjunto de máquinas que podem trabalhar até 20 vezes a velocidade dos trabalhadores humanos. Até ao final do ano, cerca de uma dúzia destas máquinas estarão a operar na China e no México.

Uma tecnologia especial

Quase todas as empresas que fazem objetos físicos estão interessadas em automação. Os braços robóticos têm feito grande parte do trabalho em fábricas de automóveis há vários anos e a Amazon patrocina um concurso anual para incentivar os académicos a fazerem robots suficientemente inteligente para apanhar objetos que nunca viram antes. Para a Grabit, a parceria com a Nike mostra que o seu trabalho está a chamar a atenção das mais proeminentes empresas de vestuário do mundo.

Apesar do nome [que pode ser entendido como “apanha isso”], a inovação da Grabit não se baseia em ter robots a mimetizar o movimento de apanhar dos humanos. Em vez disso, a empresa implementa pranchas de elétrodos que, quando devidamente carregados, criam um campo magnético que adere a praticamente qualquer superfície. Isso torna a Grabit capaz de fazer coisas que as empresas que fazem “mãos” de robots dificilmente poderão atingir, garante Greg Miller, CEO da Grabit, à Bloomberg. «As coisas que estamos a puxar, não podem ser feitas de outra forma», indica.

O conceito da Grabit foi incubado na SRI, um instituto de investigação sem fins lucrativos na Califórnia. Harsha Prahlad, que fundou a empresa e é agora o diretor de tecnologia e de produtos, tem cerca de três dúzias de patentes relacionadas com aderência por eletrostática. Prahlad passou algum tempo a criar robots que sobem paredes antes de decidir que as verdadeiras oportunidades estavam na produção e na logística. Prahlad retirou a Grabit da SRI em 2013 e a empresa angariou cerca de 25 milhões de dólares por parte de investidores, incluindo a produtora de eletrónica Flex, a Esquel, uma produtora de vestuário, e a Samsung.

As máquinas da Grabit em fábricas de calçado parecem mais como prensas do que humanoides eletrónicos. Estão também pensadas para trabalhar lado a lado com humanos. O software decide a melhor forma de empilhar as peças da parte de cima dos ténis, depois ilumina partes de uma mesa de vidro, mostrando ao colega humano onde colocar as peças. Uma plataforma coberta de faixas eletroaderentes desce para apanhar tudo, enquanto câmaras monitorizam o progresso. A máquina move-se para um sapato parcialmente acabado e desliga a carga elétrica, deixando as peças cair na configuração certa e colocando o conjunto numa prensa de calor. Demora a um trabalhador humano 10 a 20 minutos a colocar as peças da parte de cima – as máquinas da Grabit fazem-no em 50 a 75 segundos. Ao longo de um turno de oito horas, uma máquina monitorizada por um único funcionário pode produzir 300 a 600 pares de ténis.

Reshoring mais próximo

Há mais de um milhão de pessoas a fazerem ténis Nike em 591 empresas em todo o mundo, de acordo com a empresa, com a produção a depender fortemente dos mercados de mão de obra barata da Ásia. A Nike já indicou que gostaria de mover as operações para mais perto dos mercados de consumo na Europa e nos EUA. Neste momento tem um laboratório para produção avançada no Oregon e em 2015 anunciou uma parceria com a Flex, uma das suas parceiras de produção, para desenvolver nova tecnologia. A Grabit, afirma o diretor de operações da Nike, Eric Sprunk, à Bloomberg, «adapta-se estrategicamente ao impulso da Nike para acelerar a produção avançada». Os principais concorrentes da Nike, a Adidas e a Under Armour, estão a tomar as suas próprias iniciativas com objetivos semelhantes em mente (ver Adidas acelera automação).

A automação influencia fortemente o plano da Nike para mover as fábricas para mais próximo dos EUA. Há já 49 unidades produtivas no país de origem da empresa. Em média, cada fábrica emprega cerca de 130 pessoas – a fábrica média da Nike na China tem cerca de 1.300 trabalhadores – e estão especializadas em coisas como bolhas de ar high-tech, não sapatos acabados. Miller reconhece que mudar o trabalho para fábricas automatizadas pode ameaçar o emprego, mas argumenta que unidades de produção mais eficientes vão criar melhor emprego para os trabalhadores.

Um negócio de milhões

Até agora, os robots têm sido demasiado dispendiosos para justificar a sua performance na produção de vestuário, explica Dan Kara, diretor de investigação de robótica, automação e sistemas inteligentes na ABI Research. Mas a tecnologia e incentivos financeiros estão a mudar de uma forma que aponta para uma grande alteração no equilíbrio entre trabalho humano e máquinas. «É um mercado enorme, mal servido e os produtores estão sob pressão para fazer as coisas de forma mais eficiente», sustenta.

A Grabit refere que só a indústria de vestuário é um mercado de 200 a 300 milhões de dólares para os produtores de robótica. Os robots custam mais de 100 mil dólares cada um e os clientes também pagam uma taxa de serviço pelo software e para a substituição periódica das pranchas eletroaderentes.

Jim Kim, da Builders VC, uma das investidoras da Grabit, acredita que o comércio eletrónico é ainda uma oportunidade maior para a Grabit do que o vestuário. A empresa faz tapetes de transporte eletroaderentes que podem ser colocados em ângulos improváveis, agarrar caixas que de outra forma cairiam no chão. São guiados por software que pode seletivamente largar a aderência do tapete, colocando as caixas na localização correta.

Embora estas máquinas possam reduzir a necessidade de trabalhadores nos armazéns, o seu principal atrativo é que permitem que as empresas deslocalizem as operações industriais. «A entrega no mesmo dia é normal, é agora esperada se estivermos numa cidade grande», aponta Jim Kim. Isso significa construir armazéns em grandes cidades, onde o espaço é pouco e caro. «Os armazéns urbanos, por definição, vão ser em áreas lotadas», lembra. «Só vai ser possível crescer na vertical», resume.



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