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Redes sociais amplificam alcance dos relatórios

Veículo: Valor Econômico 

Seção: Finanças 

Em 19 de julho, a Eleven experimentou o alcance que as redes sociais podem dar ao seu conteúdo ao abrir no Twitter um relatório de Triunfo Participações, como "a grande oportunidade da bolsa em infraestrutura". Pelos cálculos da casa na ocasião, o papel tinha potencial de subir mais de 200%. A análise acabou chegando ao Facebook por meio de um link patrocinado pelo TradersClub, um fórum de investidores liderado por Pedro Albuquerque Filho. Ele é dono do fundo Horus Cosmos Capital, um multimercado restrito, que detinha, ao fim de maio, 28,83% do patrimônio em ações da empresa, segundo dados da Morningstar.

Em três pregões, os papéis subiram 13,2% e o giro no primeiro dia aumentou 165%, a R$ 31,5 milhões - em 20 de fevereiro, quando as ações chegaram a subir quase 22%, a movimentação financeira não tinha sido nem metade disso. No dia 20 de julho, um investidor tuitava: "coisa linda esta #TPIS3:) Nos últimos 5 dias já subiu mais de 20%... E vai mais!" Dois dias depois, um sábado, vinha o anúncio da recuperação extrajudicial da empresa.

O link patrocinado no Faceboook não foi autorizado pela Eleven, diz o estrategista-chefe, Adeodato Volpi Neto, que pediu para retirar o conteúdo da rede. Albuquerque, por sua vez, afirma não ter vendido nenhuma ação da companhia desde a abertura do documento ou o anúncio do processo de recuperação. E lembra que depois soube-se que o próprio BNDES vinha atuando no mercado, o que, segundo ele, pode ter inflado o giro.

É natural que as consultorias de investimentos queiram dar projeção a suas análises, segundo a gerente de registros e autorizações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Vera Simões. E em caráter pessoal, qualquer investidor pode opinar sobre os ativos que detém na sua carteira. Só que essa fronteira até que se caracterize um potencial conflito pode ser estreita, ressalva. "Se [um investidor] começa a receber por isso, se um vídeo tem muitos acessos e acarreta, por exemplo, uma remuneração do YouTube porque teve muitos cliques ou qualquer patrocínio que vire uma remuneração, mesmo que indireta, isso se encaixa no caráter de profissionalidade.

" Dentro da comunidade TradersClub, Albuquerque diz que apenas analistas certificados podem fazer recomendação, conforme descrito no termo de adesão. "É uma preocupação nevrálgica", afirma. "O intuito é que seja uma plataforma de debate que proteja os usuários, que tenha regras e, quem não agir de acordo, [o regulamento] diz que a gente pode denunciar para as autoridades competentes." Qualquer pessoa pode participar do fórum, mesmo quem nunca investiu pois há um canal dedicado à educação financeira. Albuquerque diz que estuda com um escritório de advocacia sugerir à CVM uma regulação específica para comunidades de investidores, a fim de evitar conflitos.

Ele cita como exemplo da transparência que busca um texto postado em 16 de agosto, em que defendia ser factível pensar no Ibovespa em 120 mil pontos caso o atual prefeito de São Paulo, João Doria, fosse eleito presidente em 2018. Ele afirmava estar comprado em ações de estatais como Eletrobras e Banco do Brasil. "Não é muito diferente de um investidor como o Barsi [Luiz Barsi Filho] dizer o que tem na carteira, para o leigo isso é uma informação valiosa." Barsi virou uma espécie de "padrinho" informal da emergente Suno Research e tem gravado frequentemente vídeos com as suas ideias. AES Tietê PN subiu 33% em dois pregões depois de uma carta do investidor distribuída pela casa. Fundada por Tiago Reis, a empresa assumiu a bandeira ativista do investidor no caso Unipar Carbocloro, em que Barsi liderou um grupo de minoritários para barrar o fechamento de capital da empresa.

Num post no Facebook em 24 de agosto, a Suno relatava o fim da novela Unipar listando as razões pelas quais entendia que o preço oferecido na OPA estava descontado em relação ao valor de mercado. Num dos comentários, um investidor agradecia a Barsi e a Suno pelo trabalho de conscientização que evitou que muitos vendessem suas ações a preços muito baixos. Barsi diz ver com bons olhos os novos tempos do mercado de capitais, reconhece que a velocidade das informações acaba estimulando negócios, mas no caso específico de Unipar ele não acha que a rede social tenha exercido influência decisiva e diz que os minoritários se alinharam à moda antiga.

"Conseguimos mostrar para o controlador que estávamos articulados para evitar a operação, nos unimos telefonicamente mesmo", afirma após atender ele mesmo num número fixo. Ao dar seus depoimentos sobre ações, Barsi afirma defender sempre projetos bem lastreados no presente e que tenham boas perspectivas futuras, sem se aventurar por empresas não operacionais como as "OGX da vida" e sugere que o investidor tome cuidado com os "futurologistas" que se espalham pela rede e prometem ganhos milagrosos.



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