Notícias

Presidente perde votos e a maioria absoluta da Câmara

Veículo: Valor Econômico 

Seção: Política 

Em 18 meses à frente do Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer nunca perdeu uma votação importante no Congresso. A história voltou a se repetir ontem na sessão da Câmara dos Deputados que analisou o pedido do Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar e processar o chefe do governo. O presidente teve os 172 votos que precisava para se manter, mas ficou aquém dos 257 votos da maioria absoluta. Um mal sinal para a votação da reforma da Previdência. Perde o PSDB, que não conseguiu se situar na oposição ou no governo. Ganha o DEM, especialmente o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, cuja ajuda foi decisiva para melhorar o desempenho do governo.

Maia se torna uma espécie de CEO do governo, o homem encarregado de zelar pela agenda das reformas, sobretudo a da Previdência. Não é possível casar as duas votações. Há deputados que ontem votaram contra Temer mas que acham a reforma da Previdência indispensável para o equilíbrio das contas públicas. A ainda assim a parceria não é sinônimo de sucesso. Temer tem crédito, quando se fala em votação no Congresso, mas uma coisa é dizer que a reforma previdenciária é prioritária e deve concentrar o esforço do governo e do Congresso já a partir da próxima semana. Outra é lidar com o tsunami de pressões que deve varrer a Esplanada dos Ministérios tão logo a proposta, por mais desidratada que ela venha a ser, entrar na pauta da Câmara. O governo Temer enterrou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) quase sem oposição dos sindicatos e sem manifestante no jardim em frente ao Congresso. A Previdência é uma outra história, outro clima. A pressão sobre o governo não é apenas das centrais e associações de aposentados.

A própria família dos parlamentares costuma influir no julgamento do colégio eleitoral. Não são poucos os deputados que relatam ter ouvido de tios e avós a pergunta "por que o governo quer cortar direito dos aposentados?" Por outro lado, muitos acreditam que já deram sua cota de sacrifício, ao votar para manter um presidente com apenas 3% de aprovação, e que agora devem é pensar em suas próprias eleições. Votar na reforma da Previdência é bom para o presidente mas não ajuda na reeleição.

O Palácio do Planalto terá de combater ainda outro argumento que começa a ser disseminado entre os congressistas: desde pelo menos a eleição de 2015 se afirma que seria o caos se a reforma da Previdência não fosse aprovada. No entanto, mesmo sem a reforma, o país está aos poucos saindo da recessão, baixou a inflação e os juros e há expectativa de recuperação do emprego. Há um outro aspecto: a carga de tinta da caneta de Temer entrou definitivamente no volume morto. Para salvar a própria pele, o presidente teve de ceder a pressões da base aliada que só contribuem apenas para envelhecer a imagem do governante. Temer poderia passar a votação de ontem sem os votos que o acusaram de restabelecer o trabalho escravo, graças à portaria sobre o trabalho no campo feita sob medida para atender o interesse ruralistas.

Também não convenceu o argumento para justificar a suspensão da privatização do aeroporto de Congonhas, segundo o qual sua manutenção é importante para assegurar o bom funcionamento de 50 aeroportos regionais sob os cuidados da Infraero. Temer perdeu 12 votos em relação à votação da primeira denúncia, mas apenas um trocou de lado. Muito embora precisasse de apenas 172 votos para se manter no cargo, era importante para o presidente atingir a maioria absoluta a fim de sinalizar força para a votação das reformas. Poderia ter sido pior, se Rodrigo Maia tivesse rompido com o presidente. Mas nos últimos dias Temer fez as pazes com Maia acenando com um protagonismo maior do deputado nas ações do governo. Ontem mesmo Maia divulgou uma agenda própria. Isso ajudou a melhorar o número de votos favoráveis a Temer computados na planilha do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil). Mas a reforma da Previdência ficou mais distante. A tinta da caneta está quase seca e o "Centrão" quer um governo efetivamente compartilhado.



Compartilhe:

<< Voltar

Nós usamos cookies em nosso site para oferecer a melhor experiência possível. Ao continuar a navegar no site, você concorda com esse uso. Para mais informações sobre como usamos cookies, veja nossa Política de Cookies.

Continuar