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Artigo: 'Moda é a nossa praia'

Veiculo: O Globo.

Seção: Ela.

Desde que, em 1808, o Rio foi surpreendido pela chegada da família Real Portuguesa, tornando-se sede do reino lusitano no outro lado do Atlântico — algo até então inédito na História mundial —, a moda local surpreende por sua criatividade, característica, que, até os dias de hoje, a torna singular mundialmente.

A moda do Rio sempre responde ao contexto de maneira particular: da proibição imposta aos seus habitantes do consumo de artigos de luxo e destruição de teares utilizados na produção de tecidos finos — parte das leis pragmáticas ordenadas por D.Maria I, no século XVIII — passando por imposições da Coroa Portuguesa, que, no início do século XIX, obrigava os “brasileiros do Rio” a consumirem produtos importados da Inglaterra, inadequados para o clima local, como lãs pesadas e patins de gelo (que por total falta de serventia eram, criativamente transformados pelos habitantes em maçanetas de portas e adereços) até a recente crise que impactou o mundo e o país.

Foi justamente a partir de dificuldades que a moda carioca criou interessantes mecanismos de sobrevivência. Se o luxo era proibido, as cariocas driblavam os reveses, criando enfeites com asas de insetos, que brilhavam tanto quanto os metais e as pedras preciosas vetadas pela Coroa; se os tecidos finos eram raridade, mucamas davam lições de bom gosto, ensinando que panos da Costa, estampas vibrantes e balangandãs, combinados harmonicamente, tinham muito mais beleza que qualquer seda importada. A moda do Rio nunca viveu dias fáceis, mas sempre os enfrentou com criatividade. Talvez por isso seja até hoje considerada — sem aqui desmerecer a moda produzida nos demais estados do país — referência nacional e mundial.

Certa vez, passeando em Paris com uma blusa de uma marca carioca, fui abordada por um grupo de mulheres, querendo saber de onde era aquela peça. Confesso que senti enorme prazer, ao contar — em plena meca da moda mundial, cujo nome se encontra estampado nas etiquetas das roupas e acessórios mais cobiçados do mundo — que a peça em questão era do Rio. Cidade cujo nome deveria ser igualmente exibido com orgulho nas etiquetas dos nossos produtos, chancelando o grande valor que possui o que aqui é criado e produzido, como defende a Lei número 7206, de 2016, que com muita honra, ajudei a elaborar e que institui o selo “É Moda do Rio”, para produtos criados e produzidos no Rio de Janeiro, que comprovadamente se mostrem representativos da cultura e do estilo de vida locais.

Não vamos cruzar os braços diante das adversidades e sim partir para a ação, valorizando a moda do Rio e preparando nossos profissionais. A nova inteligência da moda virá da educação de qualidade, da excelência na formação executiva, que em países como França e Inglaterra, referências do setor, já se provou determinante no sucesso de lideranças à frente de conglomerados que hoje têm em grifes de moda alguns dos mais rentáveis negócios de seus portfólios. Enquanto o processo se dá, vamos aprender a agradecer à Cidade Maravilhosa pelo tanto de inspiração que ela, generosamente, oferece a todos os seus habitantes e à moda carioca.



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