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Participação humana é um dos maiores desafios da indústria 4.0

Veículo: ABIT 

Seção: Notícias 

As pessoas deixarão de trabalhar na confecção? Esta é uma das questões mais latentes em tempos de automação, uso de dados e adoção de robôs para executar tarefas antes feitas por humanos. Ainda não se sabe o que virá adiante, visto que especialistas e players da indústria se dividem em relação ao tema. O painel “Os Desafios da Indústria na Transição para o Modelo de Manufatura Avançada”, realizado em 18 de outubro, durante a 33ª IAF World Fashion Convention, no Rio de Janeiro, contou com a presença de empresas de renome para um debate cheio de conteúdo.

A conversa foi mediada por Braz Costa, diretor geral do Citeve, que abriu o painel com perguntas instigadoras. “O setor têxtil e de confecção foi o motivador da indústria 1.0, estivemos na 2.0 e fomos precursores no 3.0. Temos uma cadeia muito bem integrada. Acredito que já estamos atuando na indústria 4.0,  mas trabalhar neste parâmetro é controlar os meios eletrônicos? Qual é o desafio? Estamos preocupados com automatização, mas será isso o suficiente?”, questionou.

Um dos maiores fabricantes de vestuário do mundo foi o primeiro a trazer reflexões sobre os avanços da manufatura. John Cheh, vice-presidente do Grupo Esquel, destaca que apesar de suas plantas fabris serem altamente digitalizadas, visto que a empresa produz 100 milhões de camisetas de algodão ao ano, a valorização dos colaboradores é um ponto essencial para o sucesso. “Não se trata somente de automação, mas de qualidade, consistência e desempenho. Nossos robôs economizam trabalho maçante. A mão de obra humana é muito importante. Por isso, estamos reduzindo as horas de trabalho dos nossos funcionários, enquanto o pagamento aumenta e melhoramos a competividade de custos por meio da eficiência”, releva o executivo.

John ainda ressalta a importância de qualificar os profissionais para que estes tragam melhores resultados e seja construída uma imagem sólida. “Precisamos de suporte digital. Entretanto temos que conceber que isso tem a ver com a inteligência humana e essa é a mudança. Não pense em pagar pouco a essas pessoas. Temos que mudar essa mentalidade. A indústria 5.0 está relacionada a fazer a diferença. Temos que criar empregos e produtos de qualidade, fazer coisas pelas comunidades locais”, afirmou.

Uma possível solução para a demanda por digitalização de pequenas empresas antes que percam espaço no mercado foi apresentada pelo fundador da Sewbo, Jonathan Zornow. “Algumas operações de automação são difíceis de financiar, dependendo do porte da companhia. O que eu fiz foi desenvolver uma tecnologia para certos tecidos que parecem um papel. Acredito que isso pode ser uma rota mais fácil para completar a automação. Apesar do ceticismo, o futuro é brilhante para a automação. É uma tendência bem clara de que os custos trabalhistas vão aumentar.  Então, se você esperar muito, deve ficar para trás. Acho que as pequenas fábricas devem adotar essa tecnologia, ou haverá um eclipse de players maiores, pois estes investem muito nesta área. Devem procurar alternativas para competir em escalas globais”, alerta.

Outro grande player da moda que participou da discussão foi Joachim Hensch, diretor geral da Hugo Boss. De acordo com o líder, as mudanças que o setor de vestuário vem passando se tratam de um caminho sem volta. “Todo mundo está indo para todos os lugares. Isso muda os princípios de como as empresas estão sendo operadas. Temos que ser mais ágeis, ter nova abordagem de operação de fábrica, estar mais digitalizados. Informação é importante, reduzir relatórios, entender o cliente”, ressaltou.

Sobre a participação humana, Hensch acredita que este é um momento de transição e não de disrupção. “Quais empregos serão extintos? Quando computadores passaram a ser usados, imaginava-se que secretárias perderiam o emprego, mas isso não aconteceu exatamente assim. Precisamos de engenheiro para progressos e profissionais qualificados nessa indústria. Isso é apenas uma transição, talvez alguns não tenham um emprego padrão, mas terão outros tipos de trabalho, acho que isso é algo lento”.

 Já na visão de Anton Schumann, consultor sênior da Gherzi, o lema das empresas deveria ser digitalizar ou morrer. “A digitalização já está acontecendo. Não temos como parar as mudanças. Não é uma disruptura, é uma mudança de um modelo que já existe há 200 anos. Na verdade, o que mudou nos últimos anos foram os clientes. Então você não digitalizar, vai perder o negócio. A digitalização é uma questão de consciência. Tem que mudar o mindset da empresa inteira. Faz parte do empreendedorismo e da filosofia da empresa”, alertou.

Para o especialista uma das maneiras de se diferenciar neste meio é criar um verdadeiro diálogo com os clientes e fazer com que eles se sintam atraídos pela marca. “Eu só preciso de um conteúdo e contar uma história. Você tem que ter uma história para falar do seu produto e uma proposta para seu cliente. Se você não mudar, vai ter que chegar ao âmago da sua companhia para entender que pode ser melhorado”, concluiu.



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