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Roubo de carga aumenta custo de prevenção

Veículo: Valor Econômico 

Seção: Finanças 

A diminuição no volume de mercadoria transportada e o aumento da incidência de roubos impuseram uma nova realidade para seguradoras e transportadoras no país. Nos dois últimos anos, o setor vem enfrentando aumento de custos com práticas de prevenção, gerenciamento de risco e seguro. O cenário piorou na maioria dos países, mas o Brasil atualmente é o oitavo lugar com maior risco de roubo de carga no mundo, melhor avaliado apenas do que países em regiões de conflito como Síria, Iêmen, Líbia, Afeganistão, Sudão do Sul, Somália e Iraque. São cerca de 20 mil ocorrências por ano com prejuízo estimado de R$ 1,5 bilhão.

Os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro concentram mais de 80% dos eventos, segundo levantamento da JCC Annual Cargo Forum. "E com respeito à comercialização, o Brasil é praticamente um caso único no mundo, tendo em vista o complexo ambiente regulatório", avalia Omar Mendoza, diretor de marine da Chubb, líder neste segmento no país, com quase 11% de participação no total de prêmios em 2016. Em outros países, a cobertura de importação, exportação e trânsito nacional pode ser emitida em uma apólice única. No Brasil, não. O cenário tem provocado mudança de postura nos dois extremos na cadeia.

De um lado as seguradoras exigem que as transportadoras e fabricantes adotem práticas que possam diminuir essas ocorrências, como monitoramento da carga, rastreamento do veículo via satélite, trava do baú, trava de quinta roda, dispositivos como sirene, baú blindado, além da chamada 'isca' - rastreamento em um sapato fictício que fica dentro de uma caixa junto com a carga para que ela seja localizada. Sem isso, alguns seguros chegam a ser rejeitados ou mesmo inviabilizados devido ao alto custo de cobertura. Principalmente os mais visados como alimentos, cigarros, eletroeletrônicos, farmacêuticos, químicos, metalúrgicos, têxteis, autopeças, combustíveis e bebidas. Na outra ponta, as transportadoras reclamam dos altos custos implícitos em toda a operação, o que tem provocado a paralisação de algumas empresas.

"As taxas de seguro devem ter aumentado cerca de 25% nos últimos 16 meses. Com sintomas de aumentar mais, porque o roubo de carga continua crescendo, as apólice são superavitárias, o seguro é obrigatório e as companhias não fazem nenhuma concessão", reclama o vice-presidente da NTC & Logística, Urubatan Helou. Nas contas da entidade, em 70% dos casos, uma mesma mercadoria recebe três averbações de seguro, o que o torna um dos componentes mais caros para o transporte de carga no Brasil e pode variar de um estado a outro e de produto a produto.

"A diferença de preços pode chegar a 50% entre um Estado do Nordeste e o Rio de Janeiro, região considerada altamente crítica", afirma Helou. Por outro lado, medidas de gerenciamento de risco têm feito com que a sinistralidade venha caindo de um ano e meio para cá. Segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), o índice, que era de 68,1% no primeiro semestre de 2015, escorregou para 64,7% no mesmo período de 2016 e para 59,5% em junho deste ano. Nos primeiros seis meses de 2017, o total de prêmios diretos ficou em R$ 1,4 bilhão e o setor prevê que ao final o ano repita os quase R$ 3 bilhões de 2016, quando praticamente não cresceu. O impacto sobre o prêmio pago pelo cliente pode, segundo as seguradoras, ser aliviado com algumas medidas.

Para motivar este tipo de investimento, a BB Mapfre aplica um plano de contingenciamento e gerenciamento de risco junto à transportadora antes da contratação do seguro. "Tem uma empresa de grãos que, em função disso, diminuiu a sinistralidade de 400% para 60% em um ano e com isso reduziu em 70% o valor do prêmio que pagaria se fosse subscrever com a sinistralidade anterior", afirma Carlos Polízio, diretor de aeronáutico, casco etransporte do Grupo Segurador Banco do Brasil e Mapfre (BB Mapfre). A instituição têm 8% de participação neste mercado, está entre as cinco maiores e terminou o semestre de 2017 com R$ 108 milhões em prêmios. O executivo afirma que o custo de todo o serviço de consultoria que o cliente recebe é da seguradora e que praticamente a totalidade de seus 2,5 mil clientes adotam algum tipo de gerenciamento de risco. "Não só ações que exigem maior investimento, mas também práticas como restrição de horário de embarque, limite no volume de mercadoria transportada, chegando até a escolta e o rastreamento com gerenciamento completo", indica Polízio.

Após dois anos de crise e com os sinais de retomada lenta da economia no país, uma das estratégias da BB Mapfre para engordar os R$ 285 milhões em prêmios que conquistou em 2016 é por meio do mercado externo. "Ainda somos pequenos no transporte internacional, 12º no ranking e queremos subir para a quinta colocação para cima. Queremos crescer entre 30% a 40% no ano que vem neste nicho", afirma o executivo. Segunda na liderança desse mercado, a Sompo defende que empresas que adotam práticas de gerenciamento de risco paguem prêmios diferenciados.

O exemplo vem de uma companhia que tinha histórico de sinistro de R$ 5 milhões em 12 meses. Sem o gerenciamento de risco, o custo do seguro, que na vigência anterior era de R$ 2 milhões, subiria para R$ 8 milhões. "Indicamos uma assessoria e ela decidiu em março deste ano investir R$ 2 milhões nessas práticas. Com isso, sua apólice de seguro ficou em R$ 2,5 milhões em prêmios", conta Adailton Dias, diretor de produtos e sinistros da Sompo Seguros, que tem como meta fechar 2017 com 30% de crescimento sobre os quase R$ 300 milhões em prêmios que registrou em 2016.

O Brasil é a terceira maior operação da companhia de origem japonesa. A Sompo lembra que em Estados como o Rio, onde a violência é muito elevada, o estabelecimento de franquia na contratação é praticamente obrigatório e faz com que o custo do seguro fique mais controlado. "No Rio, aumentou entre 15% e 25% a coparticipação do transportador na franquia", afirma Dias.



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