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Os motores da recuperação

Veículo: Estadão 

Seção: Opinião

O consumo se recupera, com números melhores que os do ano passado, e seu desempenho combina com a inflação moderada e com os dados positivos da indústria, compondo um quadro de retomada lenta, mas aparentemente firme, da atividade econômica. Essa lentidão explica os indicadores ainda negativos dos serviços, um amplo setor muito dependente, no Brasil, da renda dos trabalhadores e do vigor da produção de mercadorias. Em vários outros países, alguns serviços, como os de turismo, tecnologia da informação e call centers, têm dinamismo próprio e peso considerável nas contas externas, mas essa é uma realidade muito distante do Brasil. Os motores de fato da prosperidade brasileira ainda são, e provavelmente serão por muito tempo, os segmentos produtores de bens tangíveis, como ferro, soja, feijão, arroz, milho, tecidos, vestuário, sapatos, automóveis, aviões e televisores – e, naturalmente, a demanda gerada por pessoas propensas a consumir, empresários interessados em aplicar dinheiro em máquinas e estrangeiros dispostos a importar.

Em julho, o volume de vendas do varejo restrito foi igual ao de junho, depois de três meses consecutivos de crescimento, na série sem efeito sazonal. Mas foi 3,1% maior que o de um ano antes. Este dado confirmou a tendência de desempenho melhor que o de 2016. O total acumulado em 2017 foi 0,3% superior ao de janeiro a julho do ano passado. Mas ainda é preciso compensar a queda de 2,3% em 12 meses.

Com a inclusão de veículos, seus componentes e material de construção, chega-se ao varejo ampliado e a números melhores. Com aumento de 0,2% de junho para julho, o volume ficou 5,7% maior que o de julho de 2016 e o acumulado no ano superou por 1,1% o dos meses correspondentes do ano anterior. Mas a comparação de 12 meses com os 12 meses imediatamente anteriores ainda mostra recuo de 2,8%.

Do lado da produção, a da indústria cresceu em 14 dos 24 ramos cobertos pela pesquisa do IBGE. De junho para julho o volume produzido aumentou 0,8%. O resultado de julho foi 2,5% maior que o de um ano antes e o acumulado de 2017 foi 0,8% superior ao de janeiro a julho de 2016. Consumo e exportação têm favorecido a atividade industrial. A criação de empregos no setor tem sido animadora, mas insuficiente para reduzir de forma significativa a desocupação.

Apesar da melhora do cenário econômico, os empresários industriais ainda se mostram pouco interessados em comprar máquinas e equipamentos, em parte porque a ociosidade é elevada, mas também porque há incertezas quanto aos próximos anos. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, o indicador de intenção de investimentos caiu 2,8 pontos do segundo trimestre para o terceiro, recuando para 105,1 pontos. A proporção de empresas com previsão de investimento maior caiu de 25,6% para 21,1%, mas continuou maior que a das empresas com expectativa de investir menos. Esta parcela passou de 17,7% para 16%. Este é um dos dados positivos. Além disso, pelo terceiro semestre consecutivo o grupo das empresas com certeza quanto ao plano de investimento (28,2%) superou o daquelas com incerteza (27,3%).

Apesar da aparente consolidação da retomada industrial, a área mais luminosa do cenário continua sendo a do campo. Novo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento confirmou o excelente desempenho das lavouras de cereais, leguminosas e oleaginosas (basicamente, arroz, feijão, milho, soja e trigo). A nova estimativa aponta produção de 238,7 milhões de toneladas na safra 2016-2017, com aumento de 27,9% em relação à anterior. Mais uma vez o crescimento do volume decorre dos ganhos de produtividade, porque a área plantada, de 60,9 milhões de hectares, foi apenas 4,4% maior que a do período 2015-2016.

O excelente desempenho da agropecuária puxou o crescimento no primeiro trimestre. Desde o início do segundo semestre, parte importante do empuxo tem vindo da indústria e a recuperação se tornou muito mais firme.



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