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'Medo do futuro' é risco para retomada do consumo

Veículo: Valor Econômico 

Seção: Macroeconomia 

Em agosto, os indicadores de confiança do comércio e dos consumidores da Fundação Getulio Vargas (FGV) diminuíram novamente e sua abertura mostra algo em comum, a cautela com o futuro. De um lado e de outro do balcão as incertezas provocadas pela crise política e a alta taxa de desemprego mantêm a insegurança sobre o que pode acontecer nos próximos meses. A piora do humor nesses dois segmentos contrasta com a melhora observada na indústria, nos serviços e na construção civil, setores que parecem ter se recuperado do baque provocado pela delação da JBS envolvendo o presidente Michel Temer, em 17 de maio. 

Os números oficiais de atividade do comércio de julho e de agosto ainda não foram divulgados pelo IBGE. Assim, a queda da confiança levanta dúvidas sobre se o bom momento vivido por esses setor, e também pelos serviços, em junho continuará ao longo da segunda metade do ano. Os resultados daquele mês surpreenderam já que ocorreram após a delação da JBS e suas implicações sobre o consumo das famílias levaram muitos economistas a revisar para cima a projeção do PIB do segundo trimestre. Para Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, as más notícias no fronte político e econômico geraram uma crise de perspectiva que tem segurado o avanço da economia. O sobe e desce nos indicadores de confiança, diz, tem a ver com uma sucessão de frustrações desde o período eleitoral em 2014, passando pelo impeachment de Dilma Rousseff, a delação da Odebrecht e a da JBS. "Essa sequência impede empresários e a população de ver uma luz no fim do túnel", afirma. 

Pesquisa feita de 10 a 15 de julho com 1.421 pessoas pelo Locomotiva mostrou que 44% dos entrevistados acham que vão comprar menos no atual semestre, 29% acreditam que vão manter o nível de consumo e, 23%, comprar mais. Apenas 25% estão satisfeitos com a renda e 69% temem perder o padrão de vida. Neste mês, os índices de confiança do comércio e do consumidor calculados pela Fundação Getulio Vargas (FGV) caíram -um ponto e 1,1 ponto, respectivamente. Ambos atingiram o menor nível desde janeiro. O do comércio recua há quatro meses, período em que acumula baixa de 6,7 pontos, puxado pela piora do indicador de expectativas), que no período caiu 7,7 pontos, ante recuo de 5,5 no indicador de situação atual. 

Enquanto na indústria a crise política deflagrada em maio parece coisa do passado, entre consumidores e no comércio o aumento da incerteza ainda causa preocupação e afeta a confiança", afirmou Aloisio Campelo Jr., do Ibre-FGV, na nota da sondagem do comércio. O ritmo da economia ainda é lento e, passada a liberação das contas do FGTS, o comércio está à espera de recuperação de fato. No caso do consumidor, a confiança caiu pela terceira vez seguida e nesse período acumulou baixa de 3,3 pontos, também liderada pelas expectativas (-5,7), enquanto o indicador de situação atual tem pequena alta de 0,3 ponto. Em agosto, outros indicadores sobre o futuro pioraram, como o de situação financeira (- 4,6), o de avaliação sobre a economia nos próximos meses (-1,9 ponto). 

"Apesar da melhora na avaliação da situação financeira familiar no presente, possivelmente relacionada com a desaceleração nos preços de alimentos, o consumidor continua com prognóstico pessimista em relação aos próximos meses. Há muita cautela nas compras a prazo, em um ambiente que o comprometimento de renda e o desemprego são ainda elevados", afirmou Viviane Seda Bittencourt, coordenadora da Sondagem do Consumidor. Na pesquisa do Locomotiva, os pessimistas superam os otimistas em 18% na intenção de comprar eletroeletrônicos e em 14% na intenção de compra de móveis. 

Para Marilia Stabile, diretora-geral da .MAP - Mapeamento, Análise e Perspectiva, algumas notícias positivas, como a queda da inflação e a baixa da taxa de desemprego ainda não provocaram uma onda de otimismo. Ela conta que em junho, quando houve a primeira deflação do IPCA em 11 anos, a varredura em redes sociais feita pela consultoria identificou o que ela chama de inflação da tristeza. "O público encarou aquele número como resultado do desemprego e da falta de renda". A percepção de melhora dos indicadores, diz, ainda não chegou às ruas.

O levantamento feito pela.MAP em redes sociais e entre formadores de opinião resulta em um indicador semanal, o Índice de Positividade (IP) Brasil, que em maio fechou em 49%. Ou seja, as menções pessimistas sobre política, economia e questões relacionadas ao bem-estar, eram maioria (51%). Esse indicador caiu para 44% em junho, para 34% em julho e 28% em agosto (até o dia 24). Um subíndice do IP Brasil, o IP emprego mostra que a percepção do brasileiro sobre o mercado de trabalho também piorou, e muito. Esse indicador caiu para 19% em agosto (apenas 19% têm percepção positiva sobre o mercado de trabalho), abaixo da média dos últimos 12 meses, de 27%. Em junho estava em 27% e, em julho, 23%.

"Há muita gente desempregada e a divulgação dos dados positivos como Caged e Pnad ainda não afetou o humor das pessoas. IPs abaixo de 35% são de períodos de crise", observa a pesquisadora. Segundo dados da.MAP, o desemprego domina o debate do público há dois anos. O tema teve participação de 59% entre as menções de temas econômicos entre 2015 e 2017, seguido de longe por câmbio (14%) e contas públicas (12%).

 



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