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Recursos ajudam consumo, mas impacto divide analistas

Veículo: Valor econômico 

Seção: Macroeconomia 

A liberação de R$ 15,9 bilhões das contas do PIS/Pasep para aposentados dará impulso extra ao consumo das famílias no quarto trimestre. O que divide os analistas consultados pelo Valor é o tamanho desse impulso. O impacto deve ser menor do que o produzido no segundo trimestre pelos saques das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que chegaram a R$ 44 bilhões, mas vai ajudar o componente da demanda que, para analistas, já puxa a recuperação lenta e gradual da economia. O investimento, tudo indica, terá nova queda neste ano. A nova injeção de recursos deve beneficiar cerca de 7,8 milhões de aposentados a partir de outubro. Os saques vão ser permitidos a homens com mais de 65 anos e mulheres com mais de 62. Para o economista Bruno Levy, da Tendências Consultoria Integrada, será mais uma força impulsionando o consumo. 

A consultoria projetava no começo do ano contração da demanda das famílias em 2017, número que mudou para estabilidade. Agora, a Tendências cogita uma nova revisão para cima, num quadro marcado pela queda da inflação, que ajuda a renda real, o recuo dos juros, a melhora no crédito para pessoas físicas e a perspectiva de melhora da confiança, passado o choque da crise política. "A medida é positiva e deve ter reflexo no consumo das famílias, nas contas nacionais, e nas vendas no varejo", diz Levy. Para o economista Bruno Lavieri, da 4E Consultoria, o impacto sobre o consumo e a atividade econômica é pequeno. "Isso deve se refletir de forma muito diluída e eventualmente nem aparecer de maneira relevante ", diz. Para ele, a medida se assemelha à liberação de recursos do FGTS - algo visto por Lavieri como positivo, mas menos do que previsto a princípio. "Esses recursos acabaram sendo impactantes para consumo e desalavancagem das famílias, mas muito do que o governo esperava em um primeiro momento em termos de consumo acabou não se concretizando", diz. "O impacto sobre consumo foi até pequeno." No caso do FGTS, foram liberados R$ 44 bilhões. Em relação ao PIS/Pasesp, o governo estima que ficarão disponíveis R$ 15,9 bilhões. "Esse recurso deve ir na mesma direção [do FGTS]", mas com menos impacto, diz. Além do volume menor, o mercado de trabalho em lenta recuperação, segundo ele, limita a recuperação mais rápida do consumo. "As pessoas preferem reduzir as dívidas a contratar novos empréstimos ou fazer novos gastos", afirma. 

Mauricio Nakahodo, economista do Mitsubishi UFJ Financial Group (MUFG) no Brasil, a medida tem potencial para estimular as vendas do varejo no fim do ano. "[A liberação] Abre espaço para um aumento do consumo. De forma imediata, no quarto trimestre, é difícil quantificar. Mas pensando em sazonalidade, fim de ano, parte do dinheiro pode ser usada para essas compras", afirma o economista. No segundo trimestre, argumenta Levy, da Tendências, o comércio varejista ampliado (que inclui automóveis e autopeças e material de construção) subiu 1,7% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. A liberação do dinheiro das contas inativas do FGTS teve um impacto favorável no consumo no período de abril a junho, segundo analistas, embora não tenha sido o motivo principal para explicar o movimento. Os juros mais baixos e a inflação cadente têm maior peso aí. Para a Tendências, o PIB no segundo trimestre ficou estável em relação ao primeiro, com alta de 0,4% do consumo das famílias. Levy acredita que, dado o perfil de quem poderá sacar as contas do PIS/Pasep, a propensão ao consumo tende a ser maior do que a de quem obteve acesso às do FGTS. "Os idosos tendem a poupar menos", diz ele. Parte dos recursos tende a ser destinada ao pagamento de dívidas. No caso do dinheiro do FGTS, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que 25% dos R$ 44 bilhões chegaram ao varejo. Levy projeta um crescimento do PIB de 0,3% no ano, com estabilidade do consumo das famílias, número este que pode ser revisado para cima. Para ele, o investimento terá queda de 1,1% em 2017. O Santander, por sua vez, estima expansão para o PIB de 0,5% neste ano, com avanço de 0,6% do consumo das famílias e recuo de 0,7% do investimento. Na opinião de Lavieri, da 4E, uma outra característica dos recursos - tanto do PIS/Pasep quanto do FGTS - favorece a desalavancagem em detrimento do consumo: "A distribuição é muito pulverizada. Tem pouca gente recebendo muito e muita gente recebendo pouco ou quase nada. O FGTS foi bem assim", afirma. "Quem recebeu muito dinheiro é porque teve um salário muito bom por um muito tempo, juntando boa poupança. Essa pessoa não precisa do recurso para consumo imediato. 

 



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