Notícias

Reforma política e 'pacote' fiscal vão travar debates sobre Previdência

Veículo: Valor Econômico 

Seção: Macroeconomia 

Com o Congresso focado na reforma política, a mudança da meta fiscal passou à margem das discussões ontem, mas líderes da base aliada defenderam sem ressalvas o pacote do governo para o ajuste nas contas. A oposição criticou, mas sinalizou que poderá ajudar a aprovar um dos 11 pontos, a regulamentação dos pagamentos acima do teto de R$ 33 mil, os "supersalários". E congressistas avaliaram que o empenho para votar esses projetos impedirá discussões sobre a reforma da Previdência. Entre os aliados, a percepção é de que as maiores resistências serão aos projetos que atingem "pessoas" (possíveis eleitores no ano que vem). Apontam duas propostas como as mais complicadas: aumento da alíquota previdenciária dos servidores que recebem mais que R$ 5,5 mil de 11% para 14% e adiamento do reajuste salarial em um ano. Todos os projetos podem ser aprovados por maioria simples. 

Todos os líderes ressaltaram que é preciso esperar os projetos chegarem ao Congresso, e os deputados começarem a ser pressionados pelos setores contrariados, antes de uma posição mais concreta. Com a reforma política no centro dos debates, a resposta que o Valor mais ouviu ontem à pergunta "o que você achou do pacote?" foi "o distritão não vai passar". "A turma ainda não viu os projetos, não dá para saber como será a reação", disse o líder do governo no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE). Para o representante da bancada do PSD na Câmara, Marcos Montes (MG), haverá ferrenha oposição dos setores atingidos, mas a linha adotada pelo governo foi correta. O líder do DEM, Efraim Filho (PB), também elogiou não haver aumento de imposto para adequar à meta. 

A resistência aos cortes nos salários foi imediata de setores ligados ao funcionalismo. "Eu, como parlamentar de Brasília, vou votar tudo contra", disse o ex-líder do PSD, Rogério Rosso. "O parlamentar de São Paulo que não defende a indústria não tem que ser parlamentar. Aqui o setor público é 70% da economia." Já o líder do PR na Câmara, José Rocha (BA), defendeu que, após o Supremo Tribunal Federal (STF) vetar reajuste em 2018 à magistratura, e o Ministério Público Federal recuar de seu próprio aumento salarial, ficou mais tranquilo aprovar o adiamento para servidores do Executivo. 

A oposição criticou o projeto, tratado como a "falência da política econômica", e afirmou que o verdadeiro motivo do rombo foram os afagos à base aliada para o presidente Michel Temer sobreviver à denúncia criminal e defendeu outras alternativas, como taxar as grandes fortunas e o capital especulativo. Disse ainda que trabalhará contra o "achaque" aos servidores, mas sinalizou, por outro lado, que pode votar a favor da proposta para regulamentar o pagamento de auxílios e salários que ultrapassem o teto remuneratório do funcionalismo público, hoje de R$ 33 mil. "O teto a gente apoia porque já apoiava antes. Não é ajuste, é questão de moralizar o recebimento", disse o líder do PDT, deputado Weverton Rocha (MA). Para o líder da oposição na Câmara, José Guimarães (PT-CE) o extrateto é a única pauta que a oposição pode conversar com o atual governo.

Para o presidente da bancada ruralista, deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), outros dois pontos devem ter resistências: a reoneração da folha de pagamentos, que já perdeu a validade ao ser encaminhada por meio de medida provisória, e o congelamento do Reintegra. São pautas impopulares com os empresários. Com tantos projetos complexos pela frente, que demandarão semanas ou meses para serem votados, e a provável segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Temer em setembro, parlamentares da base cravaram o fim da reforma da Previdência, que já estava em segundo plano pela falta de votos.

 



Compartilhe:

<< Voltar

Nós usamos cookies em nosso site para oferecer a melhor experiência possível. Ao continuar a navegar no site, você concorda com esse uso. Para mais informações sobre como usamos cookies, veja nossa Política de Cookies.

Continuar