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Crise leva à revisão de indicador de preço da bolsa

Veículo: Valor Econômico 

Seção: Finanças 

A crise política fez com que um dos principais indicadores do mercado de ações voltasse para as médias históricas. A relação entre o preço e o lucro (P/L, indicador que dá ideia do tempo para reaver o investimento) do Ibovespa projetado para 12 meses caiu de 13 vezes, em maio, para 11 vezes. O ajuste foi puxado pela forte desvalorização das ações. Com a divulgação do conteúdo da delação dos controladores da JBS, em 17 de maio, o Ibovespa despencou, passando de 67,5 mil pontos para a mínima recente de 62 mil pontos - queda de 9%. Apesar da recuperação nos últimos dias, o índice ainda não voltou aos níveis pré-delação, sendo negociado no patamar dos 65 mil pontos atualmente.

O atraso na aprovação das reformas estruturais foi o que levou o banco Santander a revisar o P/L do Ibovespa para 12 meses de 13 para 11 vezes. Sem as reformas, o juro de longo prazo [referência para avaliar empresas pelo modelo de fluxo de caixa descontado] acaba ficando mais alto. Atualmente, a taxa está em 10,5% e poderia cair abaixo de 10% com a aprovação das reformas, segundo projeções. Apesar da queda no P/L, a aplicação em ações pode não estar tão atrativa. "Ficou mais barato entrar na bolsa, mas não quer dizer que o retorno será muito maior. Se não houver a continuidade das reformas, a bolsa de valores pode cair ainda mais", diz o estrategista do Santander, Daniel Gewehr. O banco projeta crescimento médio de 9,3% neste ano para o lucro por ação de um universo de cobertura de 115 papéis e de 27,7% para 2018. "De maneira geral, quando os investidores estão otimistas com o Brasil, o P/L fica ao redor de 14 ou 15 vezes. Quando estão mais negativos, o P/L cai para a casa de 8 ou 9 vezes", afirma

O banco traçou dois cenários para a bolsa de valores para o fim do ano. Na hipótese positiva, o Ibovespa pode alcançar 90 mil pontos, com um P/L de 14,9 vezes e taxa de juros de longo prazo em 9%. "É um cenário de recuperação da visibilidade macroeconômica e retomada no curto prazo das reformas ainda pendentes", diz Gewehr. Ele afirma que este cenário também considera que os candidatos que vão disputar a presidência na eleição do ano que vem serão pró-mercado. Na avaliação mais pessimista, o Ibovespa encerraria o ano em 49.500 pontos, com um P/L de 8,2 vezes e taxa de juros de longo prazo em 14%. Esse cenário, segundo o estrategista do Santander, contempla uma redução adicional da visibilidade econômica, aliada à possibilidade de candidatos não orientados ao mercado ganharem as eleições presidenciais em 2018

O estrategista da corretora do Itaú BBA Luiz Cherman revisou o P/L para o Ibovespa de 11,9 vezes para 10,3 vezes nos próximos 12 meses. "Em cenários de incerteza sobre a recuperação econômica e a taxa de câmbio, as estimativas de lucros estão particularmente sujeitas a volatilidade e revisões frequentes", diz. O especialista afirma que, mesmo com um crescimento modesto da economia neste ano, de 0,3%, o lucro das empresas poderá crescer porque elas ajustaram bastante seus balanços e estruturas de custo. "Já temos visto melhores margens de lucro nas duas últimas divulgações de balanço exatamente por esta razão. Além disso, a base de comparação é fraca", diz. Ainda assim, o banco revisou recentemente a recomendação para investimentos em ações de "neutra" para "underweight" (abaixo da média do mercado). "Nossa visão ainda é defensiva no curto prazo", diz

A Guide Investimentos traçou três cenários para o Ibovespa neste ano. O cenário base considera crescimento de 35% para o lucro das empresas, P/L em 12 vezes e Ibovespa em 60.070 pontos. No cenário mais otimista, o lucro das companhias subiria 45%, o P/L ficaria em 13,5 vezes e o Ibovespa em 72.657 pontos. No cenário pessimista, o lucro das empresas cresceria 25%, o P/L cairia para 11 vezes e o Ibovespa ficaria em 50.985 pontos. "A nossa visão para a bolsa é favorável para o médio prazo. Com a tendência de redução dos juros, investir em ações vai trazer retornos melhores", diz Luis Gustavo Pereira, estrategista da instituição. 

Ontem, o Ibovespa caiu 1% aos 65.011 pontos, com giro financeiro de R$ 5,5 milhões, com os investidores embolsando os lucros recentes. Sem força para definir estratégias de longo prazo, os investidores têm reagido àsnotícias corporativas. Os dois principais eventos do dia não trouxeram surpresas. O Federal Reserve, banco central americano, manteve os juros inalterados entre 1% e 1,25% ao ano. Em tese, a manutenção da taxa nos Estados Unidos favorece os investimentos em renda variável. Esse efeito foi percebido nas bolsas globais, que fecharam em alta. Mas, no Brasil, a realização de lucros acabou prevalecendo. O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) também foi previsível e reduziu os juros básicos da economia em um ponto percentual, para 9,25% ao ano. Entre as ações mais negociadas, os destaques de alta foram com as ações da JBS, que subiram 6,71%, os papéis da TIM, com alta de 1,63%, e do Pão de Açúcar, com ganho de 2,13%. A JBS fechou um acordo de renegociação de suas dívidas no Brasil. O lucro da TIM subiu 194% no segundo trimestre para R$ 219 milhões na comparação com o mesmo período do ano anterior. O Grupo Pão de Açúcar reverteu o prejuízo e lucrou R$ 170 milhões no segundo trimestre



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