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Queda das expectativas de inflação reforça a atratividade da renda fixa

Veículo: Valor 

Seção: Finanças 

A forte e contínua queda das expectativas de inflação reforça a atratividade no mercado de renda fixa, que ainda embute prêmio a ser explorado em taxas com vencimentos curtos. Embora a ideia de que a Selic vai cair ainda mais já esteja no cenário da maior parte dos analistas há algum tempo, a dinâmica da inflação e das projeções volta a surpreender, o que indica que os contratos ainda oferecem oportunidade para aplicação. O economista­chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo, afirma que há uma tendência "generalizada" de enfraquecimento da inflação e o ritmo desse processo de desinflação pode até desacelerar, mas não mudar de direção no curto prazo. "Do ponto de vista de investimentos, isso significa aplicar e comprar título", diz o especialista. "Grande parte do processo [de queda da inflação] já aconteceu, mas ainda tem algum espaço que pode ser aproveitado." 

A trajetória da inflação, na leitura de Camargo, já é de queda "clara" e deve perdurar durante algum tempo. "A tendência é generalizada e não é algo relacionado a choque de oferta positiva. É uma tendência que está muito ligada à queda de demanda devido a desemprego elevado", diz. No Focus, a mediana das estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2017 caiu para 3,48%, ante 3,64% na leitura anterior. Em relação ao ano seguinte, a estimativa recuou para 4,30%, ante 4,33% na mesma base de comparação. Com isso, os números divulgados semanalmente estão nas mínimas das séries históricas para os dois anos em questão.

Por outro lado, as expectativas para a taxa Selic no fim deste ano e do próximo seguem em 8,5% desde o começo de abril. Esse quadro justificou um novo movimento de queda dos juros futuros no pregão de ontem. A taxa do DI com vencimento em janeiro de 2019 cedeu a 8,960%, ante 9%. Já o DI de janeiro de 2021 recuou para 10,18% (10,210% no ajuste anterior). E o DI de janeiro de 2023 cedeu para 10,640% (10,680% no último ajuste). A queda do dólar, em linha com o movimento global, contribuiu para esse movimento 

"Tem uma série de fatores que contribuem [para a expectativa de curto prazo], como a fraqueza na parte de alimentação e o efeito da energia elétrica. Está se consolidando um quadro de inflação muito baixa para este ano", diz o sócio e gestor da Rosenberg Investimentos, Marcos Mollica. A baixa inflação de 2017 também gera um efeito de inércia para o período seguinte. "Muitos contratos são ajustados na inflação passada. Então, como a inflação está baixa em 2017, isso puxa para baixo automaticamente a inflação de 2018", acrescenta. Mollica aponta que, no mercado, as expectativas de alguns especialistas são de uma inflação ainda mais baixa que as estimativas do Focus. Na avaliação do profissional, o IPCA deve ficar pouco acima de 3% neste ano e ao redor de 4,3% em 2018. "O risco claramente é de inflação mais fraca, de surpresa para baixo neste ano e no próximo", acrescenta. 

curta da curva de juros e aumento de apostas de uma Selic mais baixa. A estimativa do especialista é de corte de um ponto da Selic no próximo encontro do Copom, em julho, e queda da taxa até cerca de 8% no fim deste ano. "Se o câmbio não estourar e ficar em torno de R$ 3,30 por dólar, a chance é maior de o BC dar corte de um ponto. E tem um prêmio no mercado nessa parte curta que está começando a se movimentar para precificar mais esse cenário." Por ora, a curva de juros precifica chance majoritária de uma desaceleração do ritmo de flexibilização monetária, com um corte de 0,75 ponto percentual da Selic em julho. Entretanto, a probabilidade de repetição de uma baixa de um ponto da taxa, como ocorreu na decisão passada, tem girado em cerca de 30%.

O mercado de renda fixa também acompanha de perto a possível redução da meta de inflação de 2019, embora não haja consenso sobre o efeito de curto prazo. A reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), que pode determinar o novo objetivo, ocorre na quinta­feira, dia 29. O sócio e gestor da MRJ Marejo Investimentos, Guilherme Foureaux, afirma que o mercado já precifica uma revisão na meta para 4,25%. E uma mudança mais ousada, como é discutida por alguns especialistas, poderia trazer algum ruído para os ativos de curto prazo. "O mercado poderia entender que o corte de juros seria mais devagar num primeiro momento", diz. 

 



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