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Um sucessor para Temer

Veículo: Estadão 

Seção: Coluna do Fábio Alves 

Quando Michel Temer completou 1 ano na Presidência da República, no dia 12 deste mês, os investidores só tinham o que celebrar: economia numa incipiente recuperação, reformas em andamento e otimismo em alta.

Desde o último pregão de 2015 (a 43.349 pontos), quando a gestão Dilma Rousseff entrava nos últimos meses de vida, até o fechamento da sessão de negócios (a 68.221 pontos) no aniversário de governo de Temer, a Bovespa acumulava um ganho de 57,4%, enquanto o dólar, que encerrara 2015 a R$ 3,96, havia terminado o dia comemorativo do peemedebista a R$ 3,12.

Isso sem contar com a aprovação da PEC do Teto, que limitava o crescimento dos gastos públicos à variação da inflação, e o avanço das reformas trabalhistas e da Previdência no Congresso. Na avaliação dos investidores, o maior avanço em relação à antecessora estava na força parlamentar de Temer.

Mas uma semana depois de celebrar 1 ano no cargo, com a divulgação da delação de Joesley Batista contendo áudios de gravação da conversa entre o dono da JBS e o presidente, essa força parlamentar esvaiu-se, com o desembarque de partidos importantes da base aliada.

O mercado financeiro foca agora nas negociações de bastidores pelas forças políticas para a escolha de um sucessor para Temer, uma vez que o cenário de grande parte de investidores e analistas é que o peemedebista perdeu as condições para seguir governando.

Um interlocutor desta coluna diz que o sucessor ideal para Temer, cujo nome ajudaria a acalmar os investidores e permitir uma estabilização nos preços dos ativos brasileiros, seria um nome resultante de uma negociação entre PMDB, PSDB e DEM, que são os principais partidos da base aliada. Para esse interlocutor, o escolhido desse processo saberia como a máquina administrativa e parlamentar funciona e também estaria disposto a conduzir as reformas no Congresso.

Um importante executivo do mercado financeiro, que pediu para não ser identificado, disse que entre os nomes que mais agradariam os investidores estão os do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do ex-ministro da Defesa, da Justiça e do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, e até do presidente da Petrobrás, Pedro Parente.

Um experiente economista paulista aponta como desfecho mais favorável ao mercado uma eventual troca rápida de Temer por um sucessor que faça avançar as reformas que estão tramitando no Congresso. E esse nome para o mercado é o de Tasso Jereissati, especialmente se, no cenário em que ele assume o poder, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, permanecer no comando da economia.

Já Luís Eduardo Assis, economista e ex-diretor do Banco Central, argumenta que o parâmetro do mercado é exclusivamente a capacidade de fazer avançar as reformas. “Se Temer demonstrar que consegue retomar o controle do Congresso, o mercado estará com ele, independentemente de qualquer juízo de valor”, observa Assis. “Se Temer não for viável, o único nome (viável em uma eleição indireta) capaz de continuar o esforço de aprovação das novas medidas é Rodrigo Maia (presidente da Câmara dos Deputados).”

Para o ex-diretor do BC, Temer tem a habilidade de usar métodos muito “antigos” (o “jogo simplório do toma lá dá cá”) para levar o País para a modernidade. “Maia parece ser o único qualificado para levar adiante esse método baseado na mais pura fisiologia.”

De qualquer forma, o pior desfecho para o Brasil é Temer agarrar-se ao poder sem nenhum apoio parlamentar. Na noite de segunda-feira, a agência Standard & Poor’s (S&P) colocou o rating soberano do Brasil, com nota BB, em observação para possível rebaixamento, afirmando que se as recentes acusações contra Temer forem corroboradas, a capacidade do presidente de permanecer no cargo e governar de maneira eficaz provavelmente se tornaria insustentável.

Pior ainda: já há analistas que começam a cortar suas projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e em 2018, considerando que a crise política deve abortar a recuperação da economia e, na hipótese mais pessimista, jogar o Brasil de volta à recessão. Um desfecho rápido, a renúncia, dependerá mais uma vez de um acordo de bastidores da elite política.



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