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Crescem dúvidas sobre o efeito Trump na economia

Veículo: Valor 

Seção: Internacional 

Desde a sua posse, Donald Trump vem alardeando com entusiasmo a melhora dos indicadores de confiança do consumidor e os ganhos do mercado de ações como evidências de que sua Presidência está rendendo rápidos dividendos para a economia dos EUA. Mesmo assim, a discrepância entre os indicadores oscilantes sobre empresas e consumidores e os dados concretos, como os gastos no varejo, vem aumentando, o que já está gerando ceticismo entre os economistas sobre quão real acabará sendo o impacto de Trump. 

Uma combinação de indicadores compilados pelo Morgan Stanley mostra uma disparada do entusiasmo após o dia das eleições, deixando os dados "concretos" a comer poeira. A pesquisa da National Federation of Independent Business mostrou em janeiro a maior leitura desde 2004, mas, de lá para cá, vem caindo modestamente. O otimismo do consumidor também está crescendo. Por outro lado, isso vem coincidindo com uma acentuada desaceleração na tomada de empréstimos pelas empresas, nos investimentos corporativos menores e com estimativas consideravelmente fracas para o PIB do primeiro trimestre.

Na sexta­feira, o indicador GPD Now, do Federal Reserve de Atlanta, sinalizou um crescimento anualizado do PIB de mísero 0,5% nos primeiros três meses do ano. Na mesma manhã, analistas ficaram surpresos com os fracos números oficiais da inflação, com a primeira queda, mês sobre mês, do núcleo do índice de preços ao consumidor desde 2010, além das vendas fracas no varejo. "Os indicadores econômicos dos EUA estão passando mensagens confusas", diz Scott Anderson do Bank of the West. "As ações subiram muito, juntamente com as medidas de confiança do consumidor e das empresas, desde as eleições de novembro, em antecipação ao renovado estímulo fiscal e ao crescimento econômico mais vigoroso. Porém, os dados concretos sobre a produção industrial, as vendas no varejo e até mesmo o relatório sobre o nível de emprego do mês passado se mostraram decepcionantes até agora." 

Portanto, em quais indicadores os investidores deveriam confiar? Embora os números concretos estejam fracos, o dado oficial do PIB do primeiro trimestre pode muito bem subestimar a força real da economia dos EUA. Há uma tendência estabelecida de o PIB do primeiro trimestre ser afetado por fatores sazonais nos EUA, que os estatísticos têm dificuldades de eliminar. O primeiro trimestre tem sido o mais fraco do ano nos últimos três anos. 

Uma análise de Mickey Levy, da Berenberg, mostra que embora tenha havido uma desaceleração dos empréstimos comerciais e industriais ultimamente, isso tende a ser um indicador passado, e não uma previsão do futuro dos empréstimos corporativos. As emissões de bônus corporativos teve seu começo de ano mais forte desde 2007, diz ele. "Continuo otimista e acho que a economia está de fato melhorando." 

O principal sinal de força virá do mercado de trabalho. Embora o crescimento das contratações tenha ficado aquém das expectativas de Wall Street, com 98 mil novas vagas em março, o mercado de trabalho ainda assim conseguiu apresentar uma taxa de desemprego de apenas 4,5%, a menor desde 2007. Os lucros cresceram 2,7% sobre o mesmo período do ano passado, acima da taxa anualizada de 2% do núcleo da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor. A economia está mais resistente do que indicam os dados do PIB, mas as perspectivas para 2017 vão depender em boa parte do que acontecer em Washington. Anderson diz que a discrepância entre os indicadores de sentimento e os dados concretos vem ocorrendo na maior parte dos últimos cinco meses, elevando o risco de não haver uma recuperação e de o otimismo tomar um caminho inverso. 

Para a boa confiança corporativa resultar em maiores investimentos, Trump precisa cumprir suas promessas de desregulamentação e de reforma fiscal. As afirmações do secretário do Tesouro Steven Mnuchin, de que conseguirá cumprir a segunda até agosto, são tidas como improváveis por assessores do Congresso. Ainda que as empresas professem otimismo, há sinais de nervosismo sob a superfície. O chamado "Livro Bege", do Federal Reserve (o BC americano) mostrou em março uma maior incerteza sobre a política federal numa série de distritos que incluem Boston e Dallas. 

"O setor privado gosta de ver as cores reais de um proposta fiscal antes de sair gastando. Promessas não são suficientes", disse Gregory Daco, da Oxford Economics. Alguns economistas alertam para que não se dê muito peso à capacidade de previsão de pesquisas com empresas. Jason Furman, do Peterson Institute for International Economics e ex­presidente do Conselho de Assessores Econômicos da Barack Obama, diz que a pesquisa Business Roundtable, sobre perspectivas econômicas para as grandes empresas, só entrou em colapso depois da falência do Lehman Brothers em 2008, bem depois de a confiança do consumidor iniciar uma tendência de queda. Dito isto, Furman acha que a resistência dos salários e o crescimento do nível de emprego dão motivos para otimismo com a economia dos EUA. 



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