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Problema do BC hoje é crescimento, e não inflação, dizem economistas
Veículo: Folha de São Paulo
Seção: Mercado
Se, até poucos meses atrás, a principal preocupação da diretoria do Banco Central era a aceleração da inflação, hoje, o maior risco à frente é o baixo crescimento econômico.
Nesse contexto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC deverá anunciar novo corte da taxa básica de juros, hoje em 13% ao ano.
A preocupação sobre o crescimento volta à mesa dos diretores do BC após longo período de embate contra a inflação, repetidamente acima da meta do governo (4,5% ao ano). Em 2015, ela ficou acima de 10%.
"O balanço de riscos se inverteu dramaticamente. O risco principal do BC hoje é atividade, e não inflação", disse Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, ex-secretário do Tesouro.
Em debate nesta terça-feira (21), promovido pela Anbima (associação que reúne as instituições do mercado financeiro) e transmitido na internet pela "TV Folha", Kawall e outros três experientes economistas demonstraram preocupação com o crescimento.
"O risco hoje é chegarmos ao fim do ano com crescimento de 0,5%, 0,3%, com uma inflação muito baixa", disse Kawall.
A inflação está cadente e, segundo projeções, caminha rapidamente para a meta. A previsão tanto do governo quanto de economistas é que os números negativos da atividade econômica cessem neste primeiro trimestre.
Mas o resultado final esperado para 2017 ainda é baixo, de 0,5% segundo o Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Anbima.
Além de Kawall, participaram do debate, mediado pela colunista da Folha Maria Cristina Frias, o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, o ex-diretor do BC e sócio da gestora Mauá Sekular Luiz Fernando Figueiredo e o chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch no Brasil, David Beker.
Nesta quarta-feira (22), eles preveem que BC vá cortar os juros em 0,75 ponto percentual, levando a taxa para 12,25% ao ano. Mas na próxima reunião do Copom, em abril, Figueiredo vê pelo menos 50% de chances de o ritmo aumentar para um ponto percentual.
Barbosa indicou concordar. "Com a inflação baixa, dependerá da retomada [da atividade]. Se ela estiver mais firme, não há urgência. Se não, por que não cortar mais em abril se a inflação permitir?"
Os quatro economistas acreditam que, se aprovada a reforma da Previdência, o Brasil caminhará para um cenário inédito de inflação e juros permanentemente baixos, começando já em 2018. Boa parte dos economistas do mercado está otimista.
As previsões positivas encorajaram o BC a estudar a redução da meta de inflação para 2019. A decisão será anunciada em junho.
Para Figueiredo, a sinalização de menor inflação no futuro é positiva e poderia ser feita gradualmente, reduzindo a meta inicialmente para 4,25%. Desde que não afete o o corte de juros, o que poderia prejudicar a atividade.
"Hoje, da maneira correta e saudável, precisamos atacar a falta de crescimento, e não a inflação, que parece estar no chão", disse.
David Beker, do BofA Merrill Lynch, ressaltou que as previsões de inflação nos anos seguintes serão determinantes para a decisão de reduzir a meta. Mas, segundo ele, em 2018, ano de eleição, o país estará em situação econômica mais favorável.
"A economia [em 2018] estará em crescimento, com inflação baixa e juros baixos em termos históricos. É uma situação bem diferente do último ciclo eleitoral."
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