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Governo estima PIB potencial de 3,8%
Veículo: Valor Econômico
Seção: Brasil
Recémconcluído, um estudo da área econômica do governo indica que o potencial de crescimento do país é maior do que a maioria das estimativas feitas por profissionais do setor privado. Pelas contas oficiais, o Produto Interno Bruto (PIB) potencial nos próximos dez anos é de 3,8%. Duas questões básicas orientam os economistas do setor público quando o tema é a atividade econômica. Elas se referem a quanto o país conseguirá crescer nos próximos anos e porque a saída da recessão, desta vez, é mais lenta do que nas experiências anteriores.
Para responder à primeira indagação, os técnicos oficiais tomaram como base o período pósPlano Real, de 1994. Antes disso, a superinflação distorcia os dados. O crescimento da economia desde então foi, em média, de 3,3%. Desses foram descontados os efeitos demográficos decorrentes de uma menor oferta de mão de obra jovem no mercado de trabalho e do menor crescimento da economia chinesa (de uma taxa média de 10% nos anos 90 e 2000 para algo mais próximo de 6,5%). Esses dois fatores retiram 1 ponto percentual do PIB potencial que cai, portanto, para 2,3%.
Os técnicos do governo não consideram nas suas projeções os investimentos, que caíram substancialmente como proporção do PIB, porque entendem que havendo ganhos de produtividade, a taxa de investimento naturalmente crescerá. Esse, apontou um economista oficial, seria um dos equívocos do trabalho de Daniel Leichsenring, economistachefe da gestora de recursos Verde Asset Management. Publicado pelo jornal "O Estado de S. Paulo", o estudo concluiu que o PIB potencial do país no pósrecuperação da recessão atual é de 1,5%, em comparação com 2,5% de crescimento médio nos anos de 1980.
Outro elemento relevante nos cálculos do governo, com impacto não desprezível na capacidade de crescimento, é o processo de redução do gasto público que a PEC do teto vai produzir nos próximos anos, em favor do aumento do investimento privado. Os técnicos se referem a esse fator como um processo de migração de um "crowding out" para "crowding in". Considerando que o setor privado é mais eficiente do que o governo, o efeito seria um aumento da produtividade. Da década de 90 para cá o governo federal aumentou sua despesa em praticamente o dobro do crescimento do PIB. O gasto primário da União, que correspondia a 11% do produto em 1991, atualmente representa 19% do PIB e a vigência da PEC do teto que determina o congelamento da despesa em temos reais pelos próximos 20 anos deve reduzilo para 16% do PIB até 2027.
O agigantamento da União nesse período, em detrimento do investimento privado, retira cerca de 0,75 ponto percentual do potencial de crescimento pela perda de produtividade. A expansão do investimento privado esperada para os anos futuros acrescentaria 0,75 ponto percentual no PIB potencial. A diferença, de 1,5 ponto percentual, é o que a migração de uma situação para a outra pode acrescentar ao PIB. Ou seja, este passaria de um potencial de crescimento de 2,3% para 3,8%, se tudo ocorrer como planejado. Ou seja, com o rigoroso cumprimento do mandato da PEC do teto, a aprovação da reforma da Previdência e de um conjunto amplo de reformas microeconômicas destinadas a melhorar a produtividade da economia doméstica. Se as limitações para o crescimento da economia brasileira não são tão dramáticas quanto parecem à primeira vista, buscase uma resposta sobre qual a razão da lenta recuperação da atividade produtiva, que não se materializou no terceiro nem no quarto trimestre de 2016, como era esperado. Agora, a aposta do governo é que o fim da recessão se concretizará neste primeiro trimestre.
É claro que a retomada não será para o patamar de 3,8% potenciais de imediato. Será bem gradual. A causa da recessão que começou em 2014 foi o descontrole das contas públicas. Mas a razão da difícil virada da economia da recessão para a recuperação da atividade decorre do elevado endividamento das empresas e das famílias. Ambos estão em processo de desalavancagem há três trimestres. A troca de governo de Dilma Rousseff por Michel Temer produziu uma sensível reversão das expectativas, resultando na queda do prêmio de risco do país, na valorização do real frente ao dólar, e de expansão do mercado acionário. Tal movimento, porém, não teve impacto na performance do PIB, porque as empresas, superendividadas, não tinham como retomar seus investimentos, e as famílias, também atoladas em dívidas e sob temor do desemprego, reduziram o consumo.
A expectativa é que com a queda mais acentuada da taxa de juros possa sobrar recursos para o aumento do investimento e do consumo. É importante ter em mente, porém, que o comprometimento da renda das empresas e das famílias com suas dívidas ainda é elevado e o processo de desalavancagem vai continuar ainda por algum tempo. Da parte do governo, além das reformas da Previdência, trabalhista e, também, tributária, como tem salientado o presidente Temer nos últimos dias, o foco será na agenda de medidas microeconômicas. Essas mais a redução da taxa de juros tanto da Selic quanto da taxa ao tomador final vão gerar ganhos de produtividade e, portanto, um crescimento sustentável na ótica oficial.
No curto prazo, porém, o crescimento será muito modesto algo entre 0,5% e 0,8% este ano conforme revisão que está sendo feita nas projeções da área econômica do governo. A redução dos prognósticos para o PIB de 2017, que era de 1% em novembro, decorre de uma herança estatística de 2016 pior do que imaginada. Melhora da educação dos brasileiros é fundamental para gerar ganhos de produtividade. Mas este é um processo bem mais lento do que as medidas de natureza econômica. Talvez em 30 anos o país chegue ao padrão americano, onde o tempo médio de escola de um cidadão é de 13 anos. Aqui, estudase, em média, apenas 7 anos.
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