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As preocupações e o otimismo cauteloso com 2017

Veículo: Valor 

Seção: Finanças 

Todo início de ano arrumamos algo para nos preocupar ­ e parece que no mercado financeiro temos sempre que procurar por algo. Em janeiro do ano passado, os investidores estavam preocupados com uma provável desaceleração da China. A pergunta era: "Quanto a China irá desacelerar em 2016 e qual será o impacto no crescimento global?" Por aqui, as atenções se voltavam para o processo de impeachment. No dia 12 de maio, o Senado afastou a ex­presidente temporariamente e o então vicepresidente Michel Temer assumiu interinamente. No final de agosto, houve o afastamento em definitivo e Temer passou a ocupar o governo como presidente efetivo. 

No início de 2017, a China é que gera a menor das preocupações. A economia desacelerou, mas não na magnitude esperada. As maiores preocupações giram em torno das incertezas oriundas da vitória do republicano Donald Trump nos Estados Unidos. Temos mais dúvidas do que respostas (Trump virá com medidas protecionistas? E o crescimento econômico nos EUA?). O que podemos esperar é uma taxa de juros mais elevada nos EUA e, provavelmente, uma inflação maior também. Além dos EUA, tivemos no ano passado o Brexit e a renúncia do primeiroministro, David Cameron. Em dezembro, a Itália fez um referendo também, e o primeiro­ministro, após a derrota, também renunciou. Por aqui, o impeachment passou, mas, como nada é fácil no Brasil, agora as preocupações giram em torno da governabilidade do presidente. Entramos 2017 com pressões políticas, necessidade da aprovação das reformas e com a Lava­Jato atingindo um número cada vez maior de políticos. 

Com todas essas incertezas, reduziu­se a previsibilidade. Assim, os investidores "exigem" maiores retornos. O efeito disso é a maior aversão a risco e a busca por ativos mais protegidos ­ vide a alta do dólar no final do ano, quando a moeda americana foi de R$ 3,16, em 8 de novembro, para R$ 3,47 no dia 2 de dezembro, alta de 9,73%. Assim, chegamos ao início de 2017 com preocupações menores oriundas da China, porém, com o governo Temer iniciando o ano de forma inusitada, para um desavisado que leu os jornais pela última vez no dia de sua efetivação. O plano vem sendo cumprido como esperado, a PEC do teto de gastos foi aprovada, a reforma da Previdência foi encaminhada ao Congresso, e o BC já iniciou o ciclo de corte de juros, inclusive acelerando o ritmo das reduções em 2017. 

No entanto, o quadro atual é de instabilidade política, após mais um ministro do governo pedir demissão, novos protestos espalhados pelo país, e o avanço da Lava­Jato chegando à assinatura do acordo de leniência da Odebrecht, o que reforça uma postura do investidor mais cautelosa. Aliado a isso, a disputa entre o Judiciário e o Legislativo ajudou a aumentar a insegurança política, inclusive com o primeiro respingo no programa econômico, após o pedido de afastamento do presidente do Senado, Renan Calheiros, acatado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello. A maioria do STF, no entanto, decidiu manter Renan na presidência do Senado, mas o proibiu de assumir a presidência da República em caso de ausência de Michel Temer do país. 

O novo questionamento reside na força do governo, após a queda de mais um ministro importante e a demora para que os primeiros sinais de recuperação econômica comecem a surgir. A incerteza em torno da possível aprovação da reforma da Previdência se mostra maior. A equipe econômica começa a ser questionada por políticos. Também verificamos uma apreensão maior em relação ao do acordo de leniência da Odebrecht, o que aumenta o clima negativo no governo, com a dúvida em torno dos políticos que, possivelmente, podem ser implicados em denúncias de corrupção. 

Mesmo com uma base aliada numerosa e coesa, o risco de um enfraquecimento desse apoio parece ter crescido com a crise política recente, o que piora quando considerado que a reforma da Previdência será um assunto bem mais polêmico para um congressista votar. O período de recesso parlamentar deve ser preenchido por articulações políticas em torno das presidências da Câmara e do Senado, algo que o governo estará bem envolvido, com o desejo de criar um ambiente propício para suas propostas tramitarem. Outro ponto para acompanhar será o possível aumento de espaço do PSDB no governo, verificando se entrarão mais na equipe econômica ou na articulação política. 

Existem opções das mais diversas, mesmo com o cenário de incertezas, com exposição a alguns ativos em renda variável (para aqueles de perfil agressivo), sabendo que existe uma turbulência nos próximos meses, passando por investimentos em ativos de renda fixa (especialmente os prefixados), na expectativa que o Banco Central mantenha acelerado o corte de juros, terminando 2017 com uma Selic de um dígito, entre 9,25% e 9,75%, ajudando assim, a colocar o país nos trilhos. Apesar da cautela, somos otimistas com o ano de 2017. 



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