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Endividados e com pouca carga, terminais portuários estão à venda

Veículo: Valor Econômico
Seção: Empresas

Alavancados financeiramente ou com dificuldades operacionais ­ em alguns casos as duas coisas ­, grupos portuários foram ao mercado no último ano em busca de parceiro para o negócio ou para venda integral dos ativos. Mas, por motivos diferentes, nada foi consumado até agora. Preço alto, queda de carga e insegurança jurídica explicam por que alguns deles chegaram, inclusive, a suspender o processo. Ageo e Ageo Norte, Deicmar, Ecoporto, Embraport ­ todos terminais em Santos (SP) ­ e Sepetiba Tecon, em Itaguaí (RJ), são alguns empreendimentos colocados à venda em 2015 ou neste ano. 

Um dos casos mais recentes é o da Ageo e Ageo Norte, dois terminais de movimentação de granéis líquidos. O Valor apurou que o grupo busca atrair um parceiro estratégico e ao mesmo tempo resolver uma dívida que tem com o banco Santander ­ que coordena a transação. O negócio é considerado atraente e tem interessados de peso. O consumo de derivados de petróleo no Brasil está acima da capacidade de refino interno, o que estimula as importações e a necessidade de armazenamento em tanques; os terminais estão localizados no maior porto da América Latina; e ambos os contratos de arrendamentos foram renovados, sendo válidos até 2040 (Ageo Norte) e 2041 (Ageo). Segundo fontes, os ativos estão avaliados entre 12 e 15 vezes o Ebitda. 

"Qualquer ativo que envolva tancagem hoje é interessante. O que está sendo disputado é o longo prazo. Quem não se posicionar neste momento lá na frente vai ficar em desvantagem. A Ageo se torna um ativo menos econômico e mais estratégico", afirma Fabrizio Pierdomenico, sócio­diretor da consultoria Agência Porto. Outra companhia que avalia propostas é a TCP, que administra o terminal de contêineres de Paranaguá. O terminal é um dos mais movimentados do país, o único de contêineres do Paraná, e prepara uma expansão física. Em novembro, a agência de classificação de riscos Fitch atribuiu rating de 'AA­ (bra)' às três séries da 1ª emissão de debêntures do terminal, no valor de R$ 588 milhões, para financiar a ampliação. A Fitch diz que o rating reflete "o perfil adequado de geração de receitas da companhia" e que "a expansão está planejada de forma adequada, com o requerimento de financiamento 100% obtido." 

A TCP é 50% do fundo Advent e a leitura do mercado é que a venda está inserida numa estratégia de alienar o ativo ainda com Ebitda alto antes que a entrada de um concorrente roube receita e tire valor do negócio. O projeto mais estruturado é o do Porto Pontal, um terminal de uso privado que para sair do papel tenta derrubar ações na Justiça que apareceram depois de o projeto vir a público. 

Segundo fontes do setor, há vários grupos interessados no negócio da TCP, incluindo estrangeiros que querem entrar no Brasil ou aumentar sua posição. Mas há uma avaliação de que o preço do ativo, de R$ 5 bilhões, está alto. "Os investidores estão olhando infraestrutura no Brasil, o país está barato e há dinheiro sobrando", diz Luiz Felipe Valerim, sócio do escritório VPBG. "O interesse no porto de Santos é natural. Santos tem demanda reprimida, apesar de não haver agora. Tirando ali, é outra lógica, são ativos onde a carga é especificamente estratégica naquela região", diz. 

Também a Odebrecht Transport , controlada de infraestrutura do grupo Odebrecht, negocia a venda de sua participação no terminal de contêineres Embraport, no porto paulista, para a Dubai Ports World , sua sócia no empreendimento. Com falta de carga e espaço de sobra nas instalações de contêineres de Santos, os dados operacionais da Embraport estão aquém das expectativas. Hoje, o faturamento da empresa é insuficiente para fazer frente à dívida. A Embraport fechou 2015 com receita líquida de R$ 220 milhões e dívida financeira de R$ 2,03 bilhões. O prejuízo líquido foi de R$ 821,8 milhões. 

Apesar dos números ruins, a Odebrecht relutava em se desfazer do ativo. A razão da venda teria menos a ver com as condições operacionais do terminal e mais com a necessidade de o grupo reduzir endividamento e compromissos de investimentos, com a piora do cenário após entrar na Lava­Jato. A situação em Santos esvaziou a "corrida ao ouro" por terminais de contêineres que existia até pouco tempo atrás. E a combinação de concorrência intraporto e retração econômica complicou a vida das instalações pequenas, que já não são mais viáveis para receber navios grandes.

É o caso do Ecoporto, da EcoRodovias, que contratou em 2015 o Credit Suisse para sondar interessados, mas, com a configuração atual do terminal, o negócio não prosperou. Os números operacionais do Ecoporto se deterioraram. O Ebitda é seguidamente negativo frente um endividamento alto. Neste ano a EcoRodovias fez baixa contábil de R$ 545 milhões no Ecoporto e suspendeu a venda. Ficará com o ativo até que demanda e oferta convirjam em Santos. Paralelamente, busca renovar o contrato de arrendamento por mais 25 anos, processo em fase final de análise no Ministério dos Transportes que, se aprovado, tende a valorizar o terminal para uma futura venda.

Um passo além seria a reconfiguração do cais do Saboó, onde o Ecoporto está localizado, em que as áreas vizinhas com contratos precários ou com liminares (o prazo original e a respectiva renovação já venceram) sejam aglutinadas para formar um único lote para ir a leilão. Nesta hipótese, o Ecoporto poderia arrematar a gleba e adensá­la ao seu contrato, perfazendo um grande terminal. A empresa de logística Deicmar também procurou parceiro, depois de um 2015 complicado nos fluxos de comércio internacional do país. Contratou no início do ano uma butique para assessorá­la na busca por interessados no terminal portuário especializado no embarque e desembarque de cargas rolantes em Santos e no Centro Logístico Industrial Aduaneiro (Clia), onde são adiantados processos de comércio exterior em contêineres. A venda seria para ambos os ativos, estimados em R$ 200 milhões, mas não vingou. 

O Clia, principal negócio da Deicmar, fica na retroárea do porto. Como outras instalações do tipo, sofreu queda de carga na medida em que os grandes terminais de cais, com mais espaço devido à crise, disputaram a armazenagem com preços competitivos. Pesou ainda a insegurança jurídica do contrato do terminal portuário, que venceu em 2014 e, pelo atual arcabouço, não pode ser renovado. A empresa opera sob liminar. Sob nova gestão, a Deicmar iniciou uma reorganização operacional e financeira que resultou em alta de 35% no faturamento bruto no segundo semestre frente a primeira metade do ano. Com base nesses resultados, suspendeu a venda. "Os planos então especulados no início do ano de 2016 não mais se aplicam ao cenário atual ou objetivos de nossa empresa", disse em nota. 

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) é outra que mudou a estratégia e congelou a venda neste ano de uma parcela do capital do terminal de contêineres Sepetiba Tecon, em Itaguaí, para o qual buscava um sócio desde 2015. Os preços ficaram abaixo do que Benjamin Steinbruch, o dono da siderúrgica, gostaria. As propostas não superaram R$ 1 bilhão e a companhia queria entre R$ 1,2 bilhão e R$ 1,5 bilhão. Além disso, a CSN não quer mais sair do negócio e o preço do minério subiu, o que tirou pressão sobre a venda ativos. Procuradas, as empresas não se manifestaram sobre o assunto. 



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