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Argentina deve crescer em 2017, em ano de transição

Veículo: Valor Econômico
Seção: Internacional

Depois de um ano de expectativas de crescimento frustradas, a Argentina deverá voltar a crescer em 2017. Apesar da estimativa de crescimento do PIB em torno de 3%, a retomada da economia ainda dependerá muito do consumo das famílias, que deve fechar este ano em queda. A aposta do governo de Mauricio Macri nos investimentos como novo motor da economia ainda deve demorar para dar resultados. Analistas ouvidos pelo Valor preveem um crescimento do país entre 2,5% e 3,5% em 2017. Entidades internacionais corroboram a estimativa. O FMI prevê 3%. A Cepal, 2,5%. A consultoria argentina Abeceb fala em 3,8%, enquanto o banco americano Goldman Sachs prevê 3,1%, e a consultoria espanhola Focus estima em 3,2%.

O governo apostava que o foco em investimentos e exportações geraria resultados rápidos. Mas, enquanto o setor exportador já dá sinais de recuperação, os investimentos levarão mais tempo, dizem analistas. Até lá, o consumo segue vital para o crescimento, o que gera alguma incerteza. Pesquisa da consultoria Kantar Worldpanel na Argentina mostra que pelo quarto trimestre consecutivo, o consumo de famílias apresentou queda. No terceiro trimestre, caiu 3% em comparação ao mesmo período de 2015. Oito em dez famílias argentinas reduziram o seu consumo. 

Por trás dessa redução do consumo familiar existe uma inflação anual na casa dos 43% e a queda do salário real. Informe do Centro de Economia Política Argentina mostra que os salários perderam 5,81% de seu poder aquisitivo entre setembro de 2015 e setembro de 2016. A Argentina é o segundo país com maior perda de poder de compra, perdendo apenas para a Venezuela na região. O desemprego, apesar de estável, mantém­se na casa dos 9,1%. 

"Os salários reais não crescem, o consumo não aumenta, e a economia continua como está. Os investimentos privados, que o governo pensava que teriam um efeito mais rápido, agora parecem demorar para se apresentar como o grande motor da economia", avalia o economista Matías Carugati, da consultoria Management & Fit. "Esperamos que, à medida que os salários aumentem acima da inflação, o consumo se reativará." Ele aposta que, enquanto a inflação deve seguir diminuindo, a renda familiar tende a crescer após negociações em curso entre sindicatos e empresas. A adoção de metas da inflação pelo governo Macri deve fazer com que a inflação continue caindo, o que favorece a retomada do consumo. 

A previsão é de um 2017 de transição, com exportações e investimentos ganhando participação no crescimento. O governo, que assumiu em janeiro, busca cortar o déficit fiscal (dos 5,1% previstos para 2016 para 4,9% em 2017), o que limita o gasto público. A construção civil, que puxou a expansão em anos anteriores, está em queda (19,2% em outubro) 

As exportações começam a apresentar recuperação. O volume de itens agroindustriais exportados, por exemplo, cresceu 25% nos primeiros nove meses deste ano, em relação ao período de 2015. O dado é do Ministério da Agroindústria da Argentina, que prevê colheitas recordes para 2017. A consultoria Focus lembra que as exportações argentinas caíram 17% em 2015 e devem encerrar este ano com leve recuperação, de 0,6%. A expectativa para 2017 é de crescimento de 6,5%.

"No longo prazo, a economia precisa fazer uma mudança para crescer. O modelo baseado no consumo está esgotado. E o crescimento decorrente de investimentos deve começar a dar sinais a partir de 2018", diz Jorge Vasconcelos, economista do Instituto de Estudos da Realidade Argentina e Latinoamericana. Para o analista político Sergio Berensztein, "um ano é pouco tanto para reverter os 12 anos de populismo intervencionista dos governos Kirchner quanto para os investimentos privados apresentarem resultado". "No ano que vem, a agroindústria volta a ser um motor importante, juntamente com o setor de infraestrutura. E 2018 dependerá muito do cenário internacional, investimentos estrangeiros e a situação de economias importantes, como a do Brasil", avalia. 

Até agora, observa Vasconcelos, o mercado concede a Macri o benefício da dúvida. "Isso ocorre, em parte, porque a dívida pública da Argentina se encontra em um nível intermediário", afirma sobre a dívida em 49,3% do PIB. "A situação ainda não está no limite, mas chama atenção para a necessidade de maior equilíbrio fiscal em 2018, de modo a evitar que a dívida seja algo preocupante no futuro." Na arena política, a retomada da economia ainda em 2017 é fundamental para Macri se sair vitorioso nas eleições legislativas de outubro e ampliar a sua base de apoio no Congresso. 

O presidente argentino precisará traduzir mudança de modelo em bons resultados. Relatório da Management & Fit afirma que "cada mês de demora gera custos políticos ao governo" e a ameaça de chegar às eleições legislativas sem um impulso econômico que aumentem as chances de vitória. Por ora, os argentinos se mostram receosos em aplaudir Macri. Pesquisa do Centro de Opinião Pública da Universidade de Belgrano mostra que 48% aprovam a gestão econômica de Macri, com 24% dando­lhe nota 5 e 24% dando 6, numa escala de 1 a 10. Mas 29% a rejeitam, com notas entre 1 e 4. 



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