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ANÁLISE: De tédio não se morre no Brasil

Veículo: Estadão
Seção: Política

De tédio não se morre no Brasil. A política brasileira, e mais recentemente o STF, tem sido pródiga na produção de eventos que dificultam fazer qualquer projeção acerca de como vai se comportar a conjuntura política brasileira mesmo que no curto prazo. O caso Renan Calheiros é um desses exemplos. Seu afastamento da presidência do Senado, cuja decisão foi tomada de forma monocrática pelo ministro Marco Aurélio Mello e revogada logo em seguida pelo próprio colegiado do STF, demonstrou pelo menos dois fatos preocupantes: a fragilidade das relações entre os Poderes e como eventos dessa natureza têm potencial para dificultar as ações voltadas ao encaminhamento de medidas de interesse do governo no Congresso, como a reforma da Previdência e a PEC do Teto de Gastos.

Se o afastamento de Renan da presidência do Senado fosse confirmado, a Casa passaria a ser comandada pelo petista Jorge Viana. Tal possibilidade assombrou o Planalto no mesmo momento em que a proposta de reforma da Previdência era discutida pela sociedade. Contrário à PEC e com seu partido se posicionando contra o texto da reforma da Previdência, Viana certamente criaria dificuldades para o trâmite dessas duas questões. Entretanto, a manutenção de Renan traz apenas alívio passageiro, uma vez que o governo Temer está fadado a conviver com uma situação de constante impasse político. A razão é simples: Renan e outros articuladores políticos do Planalto não estão imunes a novas ações da Justiça que possam tirar seus mandatos ou abalar suas reputações. A qualquer momento, seus nomes podem aparecer na delação da Odebrecht ou mesmo na Lava Jato, fatos que podem precipitar novas crises no interior Legislativo e do próprio governo, o que pode travar a agenda política.

Não por acaso o governo começa a agir com maior rapidez no encaminhamento dos seus projetos para aproveitar os momentos de coesão da sua base de apoio. O parecer favorável ao texto da reforma da Previdência, concluído em 24 horas pelo relator indicado pela CCJ da Câmara dos Deputados, ilustra bem o quanto o Planalto quer impor velocidade na apreciação de seus interesses. Os riscos de instabilidade política, diferente do episódio Geddel Vieira Lima, não decorrem de situações que estejam sob o controle da gestão Temer e muito menos do Congresso. O espectro que ronda e assombra o Planalto vem do sistema de Justiça.



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