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Contas externas devem pressionar real em 2017

Veículo: Valor Econômico

Sessão: Finanças 

Além do risco de fluxos ainda escassos de dólares, a possibilidade de o déficit em contas externas voltar a crescer no ano que vem com uma recuperação econômica, ainda que tímida, tende a limitar o espaço para valorização do real. Embora o déficit em transações correntes ainda esteja caindo mês a mês, a redução tem perdido força. Desde maio, o déficit acumulado em 12 meses sobre o PIB recuou apenas 36 pontos­base.

 Entre fevereiro e maio, a queda chegou a quase 100 pontos.

Parte disso, segundo analistas, já reflete a valorização do real. E conforme se espera que a economia volte a crescer em 2017, aumenta o risco de esse déficit voltar a crescer, movimento que exerceria pressão de baixa sobre o real.

Outra evidência de que a taxa nominal de câmbio tem mais riscos de desvalorização a partir de agora é a redução da diferença entre a taxa de câmbio efetiva real e sua média histórica. Em setembro de 2015, quando o dólar comercial bateu a máxima história perto de R$ 4,25, a taxa de câmbio real estava 45% acima da média dos dez anos anteriores. Hoje, essa diferença é de apenas 7%. Ou seja, o espaço para mais valorização do real sem que se coloque a moeda em zona de "sobrevalorização" está cada vez menor. Os analistas do Goldman Sachs até vêm chances de o dólar testar os R$ 3,00 no curtíssimo prazo, mas ressalvam que isso colocaria o real em um nível excessivamente forte, o que ampliaria o risco de uma correção à frente. Além dos riscos relativos ao próprio patamar, o diretor de pesquisas econômicas para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, chama atenção para a função de reação do Banco Central no câmbio. Ele lembra que o BC retirará quase US$ 3 bilhões do mercado em apenas um dia (1º de novembro) ao deixar vencer lote de contratos de swap cambial tradicional. "Claramente o BC está tentando mitigar o efeito dos fluxos atípicos da repatriação sobre o real, e esse padrão deve continuar sempre que o câmbio ameaçar ficar apreciado demais", afirma Ramos. Não bastassem as questões locais, o dólar pode ganhar tração adicional com a confirmação de alta de juros nos EUA. Embora os mercados já trabalhem com esse cenário, os preços dos ativos ainda não embutem totalmente esse movimento. Dessa forma, à medida que investidores passem a ter mais certeza sobre o aperto monetário americano, tendem a ampliar a demanda por dólares, aumentando o preço da moeda.

O economista do Banco Votorantim, Roberto Padovani, vê uma ação do Fed como uma das principais variáveis a impactar o preço do dólar no Brasil. Segundo ele, depois de um 2015 de forte piora, o mercado brasileiro parece agora apenas mais alinhado a outros emergentes, não contando com "proteção adicional".

 "Como os emergentes já não vivem mais sua melhor fase, vão sentir os efeitos da alta de juros nos EUA, e isso não vai poupar o Brasil", diz, justificando sua leitura de que o melhor desempenho do real pode ter ficado para trás.

Um ponto comum entre os analistas é a avaliação de que o real ainda pode se beneficiar de uma surpresa positiva com o ajuste fiscal no Brasil. Uma evidência disso foi o comportamento da moeda no dia 11 de outubro, quando os mercados reagiram à aprovação da PEC dos gastos em primeiro turno na Câmara dos Deputados. 

O real conseguiu se manter perto da estabilidade, enquanto, no exterior, as moedas emergentes tinham firmes quedas contra o dólar. Embora reconheça que o estrangeiro está "demorando a voltar", o estrategista do Standard Chartered para a América Latina, Italo Lombardi, acredita que os desdobramentos do ajuste fiscal ainda vão amparar melhora adicional nos mercados brasileiros, e isso vai ajudar a manter o real mais apreciado ao longo de 2017. 

Para Lombardi, a favor do Brasil está o fato de os estrangeiros ainda estarem "subalocados" no país, o que amplia o espaço de mais demanda por ativos domésticos no momento em que ficar mais claro o bom andamento das medidas fiscais. "O estrangeiro tem muita dificuldade para entender os processos políticos no Brasil, mas há demanda e com o corte de juros iniciado esperamos que haja um fluxo mais forte no próximo ano que vai manter o real apreciado", afirma. 



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