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Cinco produtos concentram 41% das exportações

Veículo: Valor Econômico 

Sessão: Brasil

Um grupo de cinco commodities responde por mais de 40% das exportações brasileiras, mesmo com a forte queda dos preços básicos registrada desde o pico atingido há cinco anos. De janeiro a setembro deste ano, as vendas de minério de ferro, complexo soja, óleos brutos de petróleo, açúcar e complexo carnes foram responsáveis por 41,4% do total destinado ao exterior.

Nos primeiros nove meses de 2011 e também de 2014, esses cinco produtos haviam respondido por quase 47% das exportações totais. Embora os preços tenham caído muito desde 2011, a participação desse grupo de commodities nas vendas externas do país recuou pouco nos últimos anos em parte porque o volume exportado seguiu em alta, afirma o economista Fernando Ribeiro, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex) mostram que as cotações dos produtos básicos recuaram quase 48% quando se compara o período de janeiro a agosto de 2011 com o mesmo intervalo de 2016. Ao mesmo tempo, as quantidades vendidas ao exterior desses bens subiram 33,6%. Ainda não há dados referentes a setembro sobre preços e volumes exportados.

"A concentração diminuiu um pouco pela queda de preços, mas não muito, porque os volumes continuaram a aumentar", diz ele. Outro motivo, nota Ribeiro, é que as exportações de produtos manufaturados tiveram um desempenho decepcionante ao longo desse período.

Os preços desse bens caíram 21% entre os oito primeiros meses de 2011 e igual intervalo de 2016, enquanto o volume destinado ao exterior ficou praticamente estável, recuando 0,4%. Ex­secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral também destaca o resultado ruim das exportações industriais no período para explicar por que poucas commodities concentram uma fatia expressiva das vendas externas do país. Os números mostram os problemas de competitividade do setor manufatureiro, afirma Barral, que é sócio da Barral M Jorge Consultores.

As quantidades exportadas desses produtos aumentaram neste ano, mas mostram algum arrefecimento nos últimos meses, um possível reflexo do câmbio um pouco mais valorizado. A maior concentração da pauta de exportações nesses cinco produtos ganhou força a partir de meados da década passada, quando houve a explosão dos preços de commodities, na esteira do fortíssimo crescimento da China.

No período de janeiro a setembro de 2005, eles tinham participação de 28,3% no total exportado pelo país, fatia que subiu ano a ano até 2011, quando beirou os 47%. Os preços dos produtos básicos avançaram 159% em cinco anos, enquanto o volume destinado ao exterior desses bens subiu quase 37%.

O grande destaque no boom foi o minério de ferro, que viu os preços e os volumes exportados dispararem, especialmente pelo apetite chinês. O produto, que respondia por menos de 6% das exportações totais de janeiro a setembro de 2005, pulou para mais de 16% da pauta no mesmo intervalo de 2011. O tombo das cotações do minério, porém, mudou o quadro, fazendo encolher a fatia do produto nas exportações brasileiras totais.

Nos primeiros nove meses deste ano, as vendas de minério responderam por 6,6% do total destinado ao exterior. Em fevereiro de 2011, os preços do produto chegaram na casa de US$ 190 por tonelada, caindo abaixo de US$ 40 em dezembro de 2015. Neste ano, as cotações bateram acima de US$ 60 em agosto e neste mês estão na casa de US$ 55. Com isso, as exportações de minério de ferro, que renderam mais de USS 30 bilhões no período de janeiro a setembro de 2011, totalizaram quase US$ 9,2 bilhões no mesmo intervalo de 2016.

Os preços da soja também caíram desde o pico, mas a queda foi menos abrupta do que a do minério de ferro. Nesse cenário, as exportações do complexo soja (grão, farelo e óleo) ganharam espaço na pauta das vendas externas do Brasil.

De janeiro a setembro deste ano, responderam por quase 17% do total; no mesmo período de 2011, a fatia do complexo soja ficou em 10,5%. A exportação de óleos brutos de petróleo, que chegou a atingir 8,7% em 2012, perdeu espaço, e neste ano está apenas um pouco acima de 5%. Barral afirma que um dos problemas de uma pauta exportada concentrada em poucas commodities é que a balança comercial fica sujeita às oscilações dos preços de alguns poucos produtos.

A situação do Brasil é obviamente diferente de países onde um produto primário tem um peso muito maior nas vendas externas totais, como a Venezuela, mas a concentração do que o Brasil exporta em algumas commodities é desconfortável. Ribeiro chama a atenção para o fraco desempenho das exportações de manufaturados ao longo da última década.

"O que ocorre há dez anos é um fenômeno sistemático", diz. Para ele, não há como colocar o problema apenas na conta do câmbio. "Há um problema mais amplo de competitividade do setor industrial", afirma o especialista em comércio exterior. 



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