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Crise ainda dita hábitos do consumidor

Veículo: Valor Econômico

A inflação arrefeceu, mas não o suficiente para estimular o consumidor a ampliar suas compras nos super e hipermercados. Ainda pressionado pelo medo de perder o emprego, e com a renda achatada, mantém hábitos adquiridos quando a recessão parecia mais aguda e a inflação, mais alta. O brasileiro continua buscando promoções, embalagens econômicas e mostra preferência pelo atacarejo.

A preocupação com o emprego tem fundamento. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego subiu em todos os meses deste ano, atingindo 11,6% em julho, o que equivale a 11,8 milhões de desempregados. Os 90,5 milhões que se mantiveram empregados viram seu rendimento se deteriorar por conta da inflação. Como resultado, a retração do consumo atingiu o varejo em cheio, causando queda no volume de vendas em todas as categorias avaliadas pelo IBGE.

Em hipermercados e supermercados, as vendas de alimentos, bebidas e fumo registram queda de 2,9% neste ano, até julho. Em 12 meses, chega a retração chega a 3,1%. "O humor dos consumidores muda à medida que há melhora na perspectiva sobre a economia de 2017, com inflação mais baixa, redução da taxa básica de juros [Selic] e queda no nível do desemprego. Mas, efetivamente, não houve mudança significativa nos indicadores macroeconômicos", diz Maximiliano Bavaresco, sócio­diretor da Sonne Consultoria.

O analista observa que os consumidores mudaram o comportamento devido à recessão e não devem voltar a comportamentos antigos antes de 2017. "Em geral, os consumidores ainda estão muito pautados em ofertas e promoções, por causa do desemprego alto e da queda na renda das famílias", diz Bavaresco. Para ele, a substituição das compras em hipermercados e supermercados pelo atacarejo é outra mudança no perfil de consumo que permanece. "O consumidor vai menos às lojas, mas faz compras maiores, que duram mais tempo, desde que isso represente economia", diz Alejandro Arruiz, diretor de estratégia comercial da rede de supermercados Cencosud Brasil.

O grupo chileno é dono de bandeiras como GBarbosa, Mercantil Rodrigues e Prezunic. "Recentemente percebemos a presença ainda mais notável de grupos familiares se unindo para fazer compras compartilhadas, uma alternativa para levar mais produtos por menos." Nas categorias com embalagens maiores ou econômicas, as vendas crescem 25% neste ano, em relação a 2015, diz Arruiz. Fabricantes de detergentes para roupas, limpadores, papel higiênico, fraldas, leite em pó, achocolatados, refrigerantes e sucos estão entre as que mais exploram esse formato, afirma. Tiago Oliveira, gerente de soluções para lojistas da Kantar Worldpanel, diz que o aumento do consumo de marcas com posicionamento de preço inferior ao de marcas líderes se mantém. Ele cita como exemplos o aumento nas vendas de marcas como Seara, em carnes; Itambé, em leite; e Brilhante, em detergente para roupas. Marcas próprias, com preços em média 40% mais baratos, continuam como aposta dos supermercados.

Com o lançamento de 250 produtos da Prezunic, a Cencosud Brasil prevê um avanço de 88% nas vendas de marcas próprias este ano, sobre 2015, com destaque para itens como leite condensado, creme de leite, arroz e açúcar. Oliveira observa ainda que as vendas de lojas de bairro crescem mais que as de hipermercados. "As redes menores trabalham com mais marcas regionais fazem menos reajustes de preços nas lojas, até porque trabalham com o estoque por mais tempo. Com isso, atraem mais consumidores", afirmou Oliveira.

Varejistas regionais também têm apresentado melhor desempenho. Uma pesquisa da Kantar indicou que redes como a gaúcha Zaffari e a Supermercados BH, de Minas Gerais, tiveram aumento de 13,6% no faturamento este ano em comparação a 2015. Já nas maiores cadeias do segmento, como Carrefour, Pão de Açúcar e Walmart, o aumento foi de 5,2%. Produtos locais também têm melhor desempenho de vendas, em comparação com marcas globais, segundo Oliveira. As vendas de marcas com atuação local ou regional ­ como Piraquê e Itambé ­ avançaram 3,3% no ano, enquanto as globais ficaram estáveis em 0,1%. "Os fabricantes locais desenvolvem uma relação mais próxima com o varejo local e conseguem oferecer facilidades na distribuição e forma de pagamento.

As marcas globais costumam ser mais rígidas na negociação. Marcas locais operando em mercados regionais têm desempenho acima da média", disse o analista. No varejo como um todo, o desempenho pode melhorar com a proximidade do fim de ano. "Até lá, esperamos que a confiança do consumidor já traga reflexos nas vendas", diz Arruiz.



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