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Retomada da confiança do empresariado é lenta e se baseia nas expectativas
Veículo: Valor Econômico
Por Rafael Rosas
A confiança dos empresários vem sendo retomada de forma lenta e gradual nos últimos meses e esse avanço se baseia muito mais nas expectativas que na melhora da situação atual. O Índice de Confiança Empresarial, calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (IbreFGV) mostra que a confiança dos empresários subiu para 82,4 pontos em setembro, o melhor resultado desde os 84,8 pontos de janeiro de 2015.
Mas há uma discrepância clara quando separadas as expectativas da análise da situação atual. Enquanto o Índice de Expectativas Empresarial (IE) saltou de 87,8 pontos em agosto para 90,4 pontos em setembro melhor resultado desde os 90,6 pontos de agosto de 2014 , o Índice da Situação Atual (ISA) caiu de 74,7 pontos em agosto para 74,6 pontos no mês passado.
Aloisio Campelo, economista do IbreFGV, diz que esse avanço do Índice de Confiança Empresarial muito calcado nas expectativas não mostra, ainda, a volta para um cenário de otimismo, que se configuraria com o índice acima de cem pontos. Para ele, é preciso que essas expectativas se confirmem com avanços na situação atual, o que depende, na visão de Campelo, de notícias concretas de melhora no cenário econômico.
"Desde 2014 que não tem uma notícia próbusiness, prórecuperação da economia", diz Campelo, citando o noticiário dos últimos anos sobre a crise na Petrobras, a Operação LavaJato e o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Para Campelo, o atual quadro de recessão, que afeta diretamente a análise da situação atual, é "inusitado" pela longa duração. "Não vemos uma recessão tão longa desde os anos 80", afirma. "Acho que, se vierem notícias boas na economia, sem notícias ruins no front político, o Índice de Situação Atual vai avançar mais rápido", acrescenta.
Para ele, há uma possibilidade de retomada do otimismo empresarial a partir do ano que vem, principalmente se as expectativas positivas dos empresários sobre contratações em setores como comércio e serviços se confirmarem nos próximos meses. Calculado como uma agregação de quatro índices de confiança calculados pelo IbreFGV (Indústria, Serviços, Comércio e Construção), o Índice de Confiança Empresarial segue na trajetória de pessimismo há quase três anos. A última vez que ficou acima de 100 pontos foi em outubro de 2013, quando registrou 100,1 pontos. Na época, apenas a confiança da indústria e a confiança de serviços estavam abaixo dos 100 pontos. Atualmente, a confiança da indústria puxa a recente recuperação do índice geral, que sobe há seis meses seguidos, desde os 69,9 registrados em março. Em setembro, a confiança da indústria atingiu 88,2 pontos, enquanto a confiança dos serviços marcou 80,6 pontos, o comércio registrou 80,4 pontos e a construção marcou 74,6 pontos. A indústria também é o segmento que apresenta a melhor análise dos empresários sobre a situação atual, com o ISA industrial marcando 86,7 pontos em setembro, o melhor resultado desde os 88,4 pontos de janeiro do ano passado.
Nos serviços, no comércio e na construção, no entanto, o ISA ainda patina, marcando, respectivamente, 70,8 pontos, 69 pontos e 64,8 pontos. "O ISA pode voltar a subir [com mais força] na virada do ano, caso a economia volte a crescer e a gerar empregos", diz o economista do IbreFGV.
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