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Varejo restrito cai 0,3% em julho e frustra expectativa de estabilidade

Veículo: Valor Economico 

Seção: Brasil 

O desempenho negativo do comércio em julho reforça as avaliações de que o consumo ainda não atingiu seu nível mínimo nesta recessão e recuará também neste terceiro trimestre. Frustando a expectativa de estabilidade da atividade no setor apontada pela média de estimativas de 19 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, o varejo restrito, que exclui as vendas de veículos e material de construção, cedeu 0,3% sobre o mês anterior, feito o ajuste sazonal, devolvendo completamente a alta observada em junho. Desde janeiro, o comportamento da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) tem sido errática, com alternância entre resultados negativos e positivos, mostrando que a melhora da confiança dos consumidores ainda não chegou aos demais indicadores. Para economistas, esse momento deve ficar apenas para 2017. 

O diagnóstico é reforçado pelas aberturas da PMC. Seis dos oito segmentos do varejo restrito reduziram as vendas em volume. Na comparação com o mesmo intervalo de 2015, a queda de 5,3% foi a 26ª. Entre janeiro e julho, o setor acumula perdas de 6,7%. O recuo de 0,5% do varejo ampliado está entre as principais surpresas negativas de julho, já que o desempenho positivo do indicador da Fenabrave indicava alta nas vendas de veículos no período. Com quedas em 16 dos últimos 20 meses, o nível de atividade do comércio ampliado está 20% menor do que no pico de 2012.

"O fundo do poço vai ficar para o quarto trimestre", afirma a economistachefe da Rosenberg Associados, Thais Zara. A combinação entre crédito mais caro, retração da renda e inflação ainda alta deve manter a atividade do varejo em níveis fracos pelo menos até o fim deste ano, avalia, com início da recuperação em 2017. Em julho, ela destaca a influência negativa dos índices de preços, que seguem pressionados pelos choques sofridos pelo grupo alimentos. Por essa razão, afirma Thais, o deflator da PMC segue acelerando no acumulado em 12 meses, fazendo caminho contrário do indicador oficial, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Consequência dessa dinâmica, as vendas em volume dos supermercados, que representam quase metade do varejo restrito, encolheram 0,3% em julho sobre junho, quando haviam avançado 0,3%. 

"A tendência deve perdurar até agosto, no mínimo", ela pondera. As primeiras sinalizações de setembro, com desaceleração dos preços no atacado, são mais positivas, mas é preciso ainda confirmar se esta é de fato a tendência. A desaceleração da inflação de alimentos e a recomposição dos salários com o reajuste do mínimo contribuirão positivamente para o consumo no início de 2017, ela avalia. Os segmentos mais dependentes das condições de crédito, por sua vez, devem ter recuperação mais lenta. Esses foram, aliás, os ramos que mais contribuíram para a queda das vendas em julho sobre junho, destaca Paulo Neves, da LCA Consultores. Sua estimativas indicam retração de 1,34% das vendas nas empresas cujo desempenho está mais ligado à dinâmica do crédito ­ móveis e eletrodomésticos, veículos ­, contra queda de 0,27% entre as mais sensíveis à renda. 

Diante do resultado, a projeção da LCA para a queda da PMC restrita em 2016 foi revisada de 5% para 5,3%, com viés de baixa, enquanto a alta de 0,8% prevista para o próximo ano passou a estabilidade. A Rosenberg manteve estimativa de retração em 5,5% neste ano, com alta de 1,8% no período seguinte. Ainda que a taxa básica de juros esteja estável em 14,25% há mais de um ano, o custo de financiamento segue crescendo em praticamente todas as modalidades de crédito, ressalta o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi. "Enquanto não houver início da reversão dos juros elevados, do desemprego e da inflação alta, não haverá recuperação do consumo. Só confiança não adianta", comenta. 

O indicador da Serasa de atividade do comércio voltou a recuar em agosto, 0,9% sobre julho. "As vendas do Dias dos Pais foram piores do que no ano passado", lembra Thais, da Rosenberg, que também espera nova queda no indicador. A estimativa preliminar da MCM Consultores prevê retração de 0,1% no mês passado. A gerente da coordenação de serviços e comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Isabella Nunes, diz enxergar uma tendência de estabilização da atividade no setor. Apesar da trajetória errática da PMC desde o início do ano, destaca, o segmento de supermercados e alimentos vem conseguindo segurar os resultados positivos ­ a queda de julho foi a primeira após três altas. 



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