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Só com inovação e consumo consciente indústria da moda será sustentável

Veículo: Folha de São Paulo

Seção: Notícias 

O impacto ambiental, as condições de trabalho e o comportamento do consumidor colocaram a indústria da moda na berlinda durante a quarta edição do Copenhagen Fashion Summit, na capital dinamarquesa.

Realizado em 12 de maio, o encontro de cúpula elegeu inovação como palavra-chave para vencer o desafio de tornar sustentável o setor de vestuário, o segundo mais poluente do planeta, atrás apenas do petrolífero.

O fórum reuniu 52 palestrantes, entre eles executivos tops de gigantes como Nike e H&M; figuras icônicas do universo fashion, como Renzo Rosso, CEO da Diesel, e Suzy Menkes, editora da Vogue Internacional.

Com uma longa jornada de discussões pela frente, 1.200 participantes receberam as boas-vindas da princesa Mary da Dinamarca, patronesse do evento bianual promovido pelo Instituto de Moda dinamarquês.

Temos a responsabilidade de pensar os aspectos sociais e econômicos para criar um futuro brilhante para a indústria da moda , disse a princesa.

Sua alteza real enfatizou o compromisso assumido por 22 países após o desabamento do Rana Plaza, prédio onde funcionava em condições precárias oficinas de roupas em Bangladesh, que matou 1.135 operários em 2013.

A tragédia revelou as dramáticas condições de trabalho para abastecer o bilionário e florescente mercado de fast fashion , a moda barata para consumo rápido.

Na mesma linha, o ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Kristian Jensen, ressaltou na plenária de abertura que sustentabilidade é um bom negócio . Melhorar as condições de trabalho não significa perda de competitividade.

O lado menos glamouroso do mundo fashion, que não aparece nas passarelas das semanas de moda nem nos editoriais das revistas, também foi enfatizado por Elzbieta Bienkowsk, comissária da União Europeia que se ocupa do setor.

A indústria da moda na Europa, que emprega quatro milhões de pessoas, está no topo da poluição e do desperdício, e não se fala sobre isso , criticou. Não temos apenas que produzir mais roupas e mais barato, mas de forma mais sustentável.

As discussões desaguaram para a necessidade urgente de propor e colocar em prática novos modelos de negócio que respeitem o meio ambiente, levando em conta o impacto do processo produtivo da moda nas alterações climáticas.

Outro ponto central levantado na cúpula é a urgência de buscar uma gestão ética que proteja os direitos e o bem-estar dos trabalhadores da indústria têxtil, em toda a sua cadeia de fornecedores, além de incentivar um consumo consciente.

Chamar o consumidor à responsabilidade, mesmo que isso represente menos vendas, foi o discurso surpreendente de Rick Ridgeway, vice-presidente de engajamento público da icônica grife Patagonia.

Em uma das falas mais aplaudidas do dia, ele fez um apelo apaixonado para que as empresas produzam roupas mais duráveis, evitando o descarte e danos desnecessários ao meio ambiente.

À medida que o tempo de vida útil de nossos produtos aumenta, diminui o impacto ambiental , explicou ele, conclamando a audiência a seguir os quatro Rs do slogan da marca: reparar, revender, reciclar e reduzir.

E ele assegurou à plateia que não é um contrassenso o vendedor pregar redução nas compras. Mostrou um vídeo sobre o maior centro de reparação de roupas usadas que a Patagonia criou, com veículos que percorrem os Estados Unidos reparando produtos danificados da marca, de forma gratuita.

E vai além do discurso também na estratégia de marketing, como demonstra o anúncio da Patagonia publicado em 2013 no The New York Times , com o sugestivo título Não compre essa jaqueta .

O custo ambiental de tudo que fazemos é surpreendente , diz a propaganda, veiculada na véspera da Black Friday , a tradicional sexta-feira de descontos gerais, símbolo do febre de consumismo dos tempos modernos.

Parar convencer os consumidores a deixar de comprar a tal jaqueta para enfrentar invernos rigorosos, que é carro-chefe da marca, o anúncio explica que para produzi-la são necessários 135 litros de água -o suficiente para o consumo diário de 45 pessoas.

Sem falar no uso de materiais poluentes como o poliéster e a emissão de CO2 ao longo de todo o processo de produção da peça de vestuário. Esse casaco deixa para trás dois terços do seu peso em lixo.

Menos radical no discurso, a Nike também deu a cara para bater durante o evento. Ser menos ruim não é bom o suficiente , declarou Hannah Jones, vice-presidente da gigante de produtos esportivos.

Responsável pela área de sustentabilidade da empresa, ela declarou que nossa ambição é dobrar nosso negócio e ao mesmo tempo reduzir para metade o nosso impacto ao meio ambiente .

Uma equação difícil de fechar, caso a tecnologia e a inovação não estejam a serviço da sustentabilidade na moda. Temos que acelerar essas mudanças na indústria. Materiais são o que mais importa. Estamos apostando em um nova geração de produtos que não desperdicem água e energia na sua feitura , explicou Jones.

Medidas concretas

A ativista Livia Firth, chamada de a rainha da moda sustentável , colocou o dedo na ferida. Não houve substancial mudança nesta indústria desde a morte de milhares de trabalhadores em Bangladesh , afirmou a fundadora da Eco.Age. Três anos atrás, as maiores empresas do mercado fashion assinaram um acordo e ainda não tornaram suas cadeias de fornecedores seguras.

Para a aplaudidíssima militante, a palavra sustentabilidade, a mais repetida do dia durante a cúpula, perde significado sem ações concretas.

Uma das medida de impacto anunciadas durante o encontro foi feito por Shubhankar Ray, diretor de marca global G-Star, que lançou o manifesto Oceano Limpo , em parceria com a Fundação Plastic Soup, que atua para a redução da poluição por plástico nos mares, especialmente de micro partículas liberadas pela lavagem de roupas.

O encontro de cúpula foi precedido por vários dias de reuniões satélites, como o Youth Fashion Summit, que reuniu jovens estudantes de moda, e o Planet Textiles.

Eventos que fizeram de Copenhague, por alguns dias, o epicentro de uma indústria da moda que dá sinais de que começa a pensar seriamente em nosso ambiente, no planeta e nas pessoas que fazem nossas roupas.

Nossas lojas deveriam ser um centro de debate social, não apenas um lugar de compras , pregou Daniella Vega, diretora de sustentabilidade da Selfridges, que lançou campanha Compre melhor, inspire a mudança .

A loja de departamentos inglesa ganhou prêmio pela redução da emissão de carbono e uso de água na gestão de resíduos em suas operações. Vega liderou a iniciativa Projeto Oceano, que proibiu a venda de águas em garrafas plásticas. Vamos fazer da embalagens reutilizáveis de água um objeto de desejo fashion.

O consumidor tem papel importante em fazer as coisas acontecerem , emendou Evie Evangelou, co-fundadadora da incisitava Sustainia Living. Sustentabilidade é uma escolha do consumidor e é nosso papel da indústria fazer essa escolha ser mais atrativa.

O Conpenhagen Fashion Summit se encerrou com um happening em que toda a plateia dançou no embalo do Dance Deal proposto pela C&A Foundation, cujo foco de atuação é tornar a cadeia da moda mais sustentável.

A cada exibição de dança de um participante do encontro no lounge da fundação, eram doados US$ 50 para o Fundo da Liberdade, iniciativa de combate ao trabalho escravo na cadeia produtiva da moda.

A reunião de cúpula terminou com o anúncio de Leslie Johnston, diretora executiva da C&A, de um total de 25 mil euros doados, enquanto toda a plateia dançava por uma boa causa.

A editora do Empreendedor Social, Eliane Trindade , viajou a convite do Instituto C&A.



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