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Ajuste forte pode gerar expansão de 4% em 2018.

Véiculo: Valor Economico 

Seção: Brasil 


A economia brasileira caminha enfim para sair da recessão. O Produto Interno Bruto (PIB) pode voltar ao terreno positivo no quarto trimestre deste ano, devendo ganhar mais força em 2017 e 2018. Para alguns analistas, a recuperação cíclica pode levar o país a ter um crescimento consideravelmente mais expressivo nos dois anos seguintes, havendo quem projete um avanço de 4% em 2018, o último ano do curto mandato de Michel Temer. É o caso do Itaú Unibanco, por exemplo.

Esse cenário mais benigno, porém, ainda é muito incerto. Depende em boa parte de uma queda mais forte dos juros ao longo do ano que vem, o que tende a exigir a aprovação de medidas fiscais mais duras no Congresso - além, é claro, da convergência da inflação para a meta perseguida pelo Banco Central (BC), de 4,5%. Os analistas ouvidos pelo BC projetam um crescimento de 1,2% em 2017 e de 2% em 2018.

Para o terceiro trimestre deste ano, a maior parte dos analistas acredita numa nova contração do PIB em relação ao trimestre anterior - o que levaria à sétima queda da economia nessa base de comparação. No quarto trimestre, a tendência é de que haja um pequeno crescimento ou estabilidade. No ano, deve haver um tombo na casa de 3% ou um pouco mais.

Em 2017, o quadro deve melhorar com mais nitidez. O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, projeta uma expansão de 2% no ano que vem. "Não é difícil um crescimento dessa magnitude", diz ele, lembrando que o país sai de uma recessão violenta o PIB caiu 3,8% em 2015 e deve encolher um pouco mais de 3% neste ano. Há grande folga de recursos na economia, o que permite a expansão sem pressões inflacionárias por um tempo razoável, e os juros, hoje em 14,25% ao ano, deverão cair.

Na ponta pessimista, aparecem economistas como os do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), para quem a economia brasileira deve crescer apenas 0,6% no ano que vem. Para eles, um crescimento vigoroso em 2017 exigiria "uma retomada clara do consumo das famílias e a aprovação consistente das medidas de reforma fiscal que validem o cenário de alívio nos juros", como escreveram Silvia Matos e Julio Mereb no Valor, na semana passada. A fraqueza do mercado de trabalho e o aperto no crédito devem atrapalhar o consumo, ao passo que a tramitação das medidas de ajuste das contas públicas tende a ser complicada.

Sócia e diretora de macroeconomia da Tendências Consultoria Integrada, Alessandra Ribeiro vê o nível de endividamento de empresas, famílias e do governo como um obstáculo a uma retomada na casa de 2% ou mais em 2017. Para ela, a economia crescerá 1,5%.

Ela lembra que houve um aumento expressivo do volume de crédito a partir de meados da década passada, além de fortes incentivos à tomada de empréstimos entre 2011 e 2014, "com a política de crédito subsidiado e políticas agressivas dos bancos públicos via redução de juros". Nesse ambiente, empresas e pessoas físicas terão de reduzir o seu endividamento, o que impacta o investimento e o consumo.

O governo, por sua vez, está numa situação fiscal delicada, e terá de ajustar as contas públicas ao longo dos próximos anos, lembra Alessandra. Para completar, não se deve esperar um grande impulso do setor externo. A economia global e o comércio crescem pouco, indicando uma fraca demanda externa. Por tudo isso, Alessandra considera difícil um crescimento mais forte em 2017. Para 2018, ela aposta num crescimento de 2,5%, considerando que o governo conseguirá aprovar o projeto que limita o crescimento dos gastos da União à inflação do ano anterior e uma reforma da Previdência sem grandes concessões. No cenário de Alessandra, os juros não caem muito. O BC reduziria a Selic em 0,5 ponto na última reunião deste ano e levaria a taxa a 11,5% no fim do ano que vem.

O economista Caio Megale, do Itaú Unibanco, trabalha com um cenário diferente do de Alessandra, especialmente em relação às perspectivas para 2018. Para ele, a economista deve crescer entre 1% e 2% no ano que vem, mas ganha mais fôlego no ano seguinte, avançando 4%. A principal diferença é que Megale projeta uma queda mais expressiva dos juros. Na visão do banco, a Selic começará a cair em outubro, encerrando 2017 em 13,5%, e terminará o ano que vem em 10%.

O fundamental para o país crescer 4% em 2018 é justamente que o juro chegue ao fim do ano que vem próximo a 10%, diz Megale. "E, para o juro cair para 10%, são necessários avanços importantes no ajuste fiscal." Com a aprovação do projeto do teto de gastos e de uma reforma da Previdência sem grandes alterações, o BC poderá cortar a Selic com mais força, diz ele. Juros mais baixos ajudam a impulsionar o investimento e o consumo das famílias, fazendo a economia se fortalecer ao longo de 2017 e de 2018.

Megale também trabalha com um cenário benigno para a inflação. Para ele, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cairá de 7,2% em 2016 para 4,8% em 2017 e 4,2% em 2018 - abaixo da meta de 4,5%, mesmo com a aceleração do crescimento. Isso se explica pela grande ociosidade na economia, que permitirá ao país crescer 4% em 2018 sem causar pressões inflacionárias, diz Megale. O ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros também acredita numa expansão mais robusta daqui a dois anos, de 3,5% a 4%, por acreditar na recuperação cíclica em cima da elevada capacidade ociosa.
Vale, da MB, considera possível um crescimento acima de 3% em 2018, mas esse não é o seu cenário central. O mais provável, para ele, é uma expansão na casa de 2%. "Para chegar a 3% ou 4%, seria preciso um encaminhamento muito favorável da questão fiscal e, em conjunto, o BC mostrar firmeza, trazendo as expectativas de inflação para baixa e reduzindo mais os juros", afirma ele. "Isso criaria um caldo muito positivo para 2018." Por enquanto, porém, Vale prefere ser um pouco mais cauteloso, esperando sinais mais claros de que o novo governo vai conseguir avançar com a agenda de ajuste fiscal. Uma diluição significativa das propostas do teto de gastos e das mudanças na Previdência pode ter consequências muito negativas para o crescimento, diz ele.

Vale aponta ainda outro fator que pode afetar a economia em 2018: o cenário para as eleições presidenciais. Se começarem a despontar candidatos que não sejam vistos como comprometidos com o ajuste fiscal e a agenda de reformas, a tendência é que haja aumento da aversão ao risco, pressionando o câmbio,. Isso pode resultar em mais inflação, complicando o quadro de queda dos juros. Nesse caso, não se concretizaria o quadro de crescimento mais forte em 2018, que daria alento a Temer.
 



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