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Inflação mostra tendência de queda

Veículo: Valor

Seção: Economia

Apesar de pairar no ar a ideia de que a alta dos preços está se acelerando no país, com base na variação dos indicadores mensais e no custo dos alimentos dentro de casa, os índices mostram o contrário, embora estejam caindo mais lentamente do que o esperado, dada a intensidade da recessão. Em fevereiro, lembra o economista Nelson Marconi, da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado) acumulado em 12 meses estava em 10,4%. Em agosto, esse índice caiu para 8,7%. Segundo a Pesquisa Focus do Banco Central, deverá ficar próxima de 7,3%, em 2016, e de 5,3% em 2017. "Caiu bastante por causa do impacto menor das tarifas e da energia.

O grupo de preços que mais subiu, contudo, foi o de alimentação no domicílio, com alta de 16%. Esse grupo está em alta desde meados de 2015, em parte por problemas climáticos", avalia Marconi. "Além do clima, é preciso olhar para o mercado de alguns itens lá fora, ver como está o abastecimento. Mas é preciso levar em conta que, se o nível de emprego está caindo com força, o mesmo não pode ser dito dos salários reais, cuja queda é bem menor", diz. "Nesse cenário, com a perspectiva de queda das taxas de juros, o melhor é procurar aplicações em títulos públicos prefixados", arrisca Marconi, que chama atenção para a queda do risco associado à economia brasileira, visível no comportamento do Credit Default Swap (CDS), em queda forte desde fevereiro.

Do lado interno, no entanto, a lua de mel do governo Temer "subiu no telhado", diante dos recuos na contenção dos gastos. Com isso, aumentaria a chance de os juros se manterem elevados por mais tempo, apesar dos custos para o setor produtivo. Para o economista Alberto Borges Mathias, professor da FEA­USP em Ribeirão Preto (SP), essas expectativas positivas para a economia brasileira serão reforçadas a partir do impeachment de Dilma Rousseff, com a alta do real como efeito direto. Brasil e México, considera Mathias, ganharão destaque nas opções dos investidores estrangeiros.

"Deverão entrar ao menos US$ 200 bilhões em 2017 e 2018, com pressão sobre o câmbio", avalia. Para o economista, uma nova rodada de crise nos EUA estaria no horizonte, dada a excessiva liquidez em dólares e problemas nos bancos europeus, com boa chance de novas desvalorizações do dólar, do euro e do iene. "E, no Brasil, cresce a percepção de não realização do ajuste fiscal. Com um déficit de R$ 1 trilhão, estamos pagando em juros R$ 811 bilhões ao ano. Esses juros são tão altos e insustentáveis que colocam em risco o próprio sistema bancário, cada vez mais concentrado", diz o economista. A inflação seguirá em queda por causa da alta bem mais moderada das tarifas dos serviços públicos. Enquanto em 2015 houve reajustes de 30%, 40%, neste ano a alta média foi de 6,5%, menos de metade da média do ano passado. Nesse ambiente, Mathias considera uma boa opção aplicar no Tesouro Direto, que chega a pagar 6,5% de rendimento acima da inflação ao ano. "O Tesouro Direto gera boas rentabilidades, mas sua flutuação é diária.

O investidor deve esquecer desse dinheiro até a data do vencimento, para evitar sustos e prejuízos", diz. Para Rodrigo Zeidan, professor da Fundação Dom Cabral, a inflação resistirá a cair também por questões relacionadas à inércia de alguns preços e salários. "Com uma taxa de 14,5% ao ano, a inflação deveria ser negativa. Mas existe esse componente inercial, que afeta não apenas os salários, mas também os contratos de tarifas", avalia.



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