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Para 38% da indústria, demanda melhora e já não inibe produção

Veículo: Valor Economico 

Seção: Brasil 

Depois de seis trimestres consecutivos em que a indústria reportou a falta de demanda como principal limitante para o aumento da produção, esse problema parece estar sendo superado, o que reforça os sinais de normalização da atividade econômica no setor. É o que mostra um levantamento trimestral extra que compõe a Sondagem da Indústria de Transformação, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre­FGV) com exclusividade para o Valor. Na edição do terceiro trimestre da pesquisa, realizada em julho, o percentual de empresas que afirmou operar sem nenhum impedimento à expansão da produção ficou em 38%, alta de 13 pontos em relação trimestre anterior. Na mesma comparação, a fatia de industriais que apontam a insuficiência de demanda como fator limitativo subiu apenas um ponto, para 39%. 

Embora o segundo grupo continue superando o primeiro, a proporção de indústrias que operam sem restrições praticamente se igualou à parcela daquelas que avaliam a demanda como insuficiente, o que pode ser considerado uma boa notícia, diz Tabi Thuler, coordenadora da pesquisa. Caso essa tendência seja observada novamente em outubro, este será mais um indício de que a crise no setor ficou para trás, afirma Tabi, tendo em vista o histórico desse mesmo questionário nas recessões passadas. A exceção foi a crise de 2008 e 2009, quando a fraqueza da demanda não foi tão mencionada. Durante aquele ciclo recessivo, o percentual máximo de empresas que reportou insuficiência de demanda foi de 33%, índice pouco acima da média histórica, de 25%. Ao mesmo tempo, a parcela de industriais que operava sem fatores limitantes à alta da produção não ficou abaixo de 49%. 

Para a economista, a origem externa da recessão anterior pode explicar o comportamento diferente das respostas das empresas. A situação fiscal do país era mais sólida e as famílias estavam menos endividadas naquela época, o que permitiu efeito mais rápido das medidas de estímulo à economia. "A crise atual tem motivação majoritariamente interna", destaca Tabi. Além disso, a piora das contas públicas, a aceleração da inflação e questões políticas a tornaram mais profunda e duradoura. Nesse ambiente atípico, comenta a economista da FGV, a indústria sofreu mais com a retração do investimento e do consumo das famílias, mas os resultados da sondagem extra de julho são mais um sinal de normalização gradual desse quadro. "A demanda está deixando de ser um problema, mas não há recuperação", pondera Tabi.

Ao questionário extra da última sondagem, a economista ressalta que somam­se outras boas notícias para a indústria. São elas a quinta alta seguida da confiança do empresariado ­ também influenciada nos últimos dois meses pela melhora da percepção sobre a situação atual dos negócios, e não somente pelas expectativas ­, a avaliação mais favorável sobre o setor externo no início do ano e, ainda, a redução dos estoques em excesso. 

A indústria ainda está com bastante inventários, afirma Tabi, mas deixou o patamar superestocado para outro mais controlado, exceto na categoria de bens de consumo duráveis. Nesse setor, o indicador de estoques ficou em 123,5 pontos no mês passado, ante 110,5 pontos na média da indústria de transformação (quanto maior o índice, maior o desequilíbrio de mercadorias paradas). Não por acaso, 70% dos fabricantes de bens duráveis ainda avaliaram a demanda como insuficiente em julho. "Há um problema grave de demanda por bens duráveis", diz. No dado geral, a análise dos empresários sobre a demanda doméstica tem ficado menos pessimista. Em julho, o indicador que mede esse quesito alcançou 85,6 pontos, maior nível desde novembro de 2014. Já o índice sobre a percepção da demanda externa ficou praticamente estável, em 100 pontos, patamar considerado neutro. "A pequena valorização do real traz um ponto de interrogação para a recuperação da indústria", pondera Tabi.



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