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Desânimo impera entre os produtores de algodão

Veículo: Valor Economico 

Seção: Agronegócios 

Com a colheita avançando no Brasil, a safra 2015/16 de algodão caminha para um desfecho pouco animador. A seca que atingiu as principais regiões produtoras tende a enxugar a oferta mais do que o previsto e reflexos nas cotações ainda são esperados. Contudo, o baixo vigor da indústria têxtil nacional tende a limitar o potencial de valorização da fibra. "Teremos um pouco menos de algodão do que se esperava, e isso deve se refletir nos preços", avalia Éder Silveira, consultor da FCStone. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê estoques de passagem de 298,1 mil toneladas no atual ciclo, mas Silveira acredita que esse volume poderá ser menor. 

O analista lembra que o ritmo das exportações brasileiras continua aquecido, apesar da previsão da Conab de redução dos embarques neste ciclo. "Isso faz com que o mercado interno tenha que pagar um ágio para convencer o produtor a manter o algodão aqui. Mas o patamar atual de preços já está bastante desconfortável para a indústria", afirma. Apenas nas últimas três semanas, o indicador Cepea/Esalq para a fibra registrou alta de 4,5% (R$ 0,11), para R$ 2,6299 por libra­peso ontem. As cotações domésticas sentem ainda os efeitos da perspectiva de aperto da oferta externa na nova safra 2016/17, indicada pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) em seu relatório do dia 12 de julho.

"Qualquer centavo a mais no custo impacta a margem da indústria têxtil, que já não está grande coisa. E o varejo também não está conseguindo fazer repasses", diz Alex Kurre, coordenador do comitê de algodão da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Segundo ele, há escassez de oferta de algodão para entrega imediata no país, uma vez que a maioria dos produtores está cumprindo contratos de exportação. "Algumas indústrias estão mais descobertas do que outras, mas ainda não está havendo tanta demanda, até porque não houve uma melhora da venda de tecidos em geral", afirma. 

Do lado da oferta, a safra de algodão de Mato Grosso começou a chegar ao mercado em maior volume apenas nos últimos dias. A colheita no Estado, maior produtor nacional da fibra, avançou para 41,58% da área na semana encerrada em 28 de julho. "Nós estávamos bem mais otimistas há um mês, agora estamos preocupados", diz Décio Tocantins, diretor­executivo da Associação Mato­grossense dos Produtores de Algodão (Ampa). Conforme Tocantins, a pluma manteve a qualidade, mas "não está pesando". A expectativa inicial era de uma produtividade de 100 arrobas da pluma (cerca de 270 arrobas de caroço) por hectare, mas a tendência é de perdas de 10% a 15%, segundo ele. "É importante esperar até o fim da colheita, porque existem talhões preocupantes", afirma. Até julho, já foram vendidas 61,4% da safra de 937,5 mil de toneladas de pluma esperadas pelo Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea) para 2015/16. 

Na Bahia, vice­líder na produção nacional, a colheita já ultrapassou 75% da área e o rendimento médio está em menos de 168 arrobas de caroço por hectare, conforme a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa). A previsão inicial, de 270 arrobas, já havia sido revisada pela Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) para 180 arrobas em maio. A Abapa prevê uma safra de 592 mil toneladas de algodão em caroço, bem aquém das 765,9 mil previstas pela Conab. Celestino Zanella, presidente da Abapa, afirma que o processo de renegociação dos agricultores locais junto às tradings e aos bancos está avançando caso a caso. "Os produtores estão renegociando pagamentos, postergando entregas e cumprindo parcialmente os contratos. Temos feito esforços para beneficiar o maior número de produtores possíveis, trabalhando intensamente junto às instituições", relata ele. 

De todo modo, Zanella diz que há receptividade com os devedores, pois estão "todos interessados em manter a atividade, os empregos, os investimentos e a viabilidade das propriedades". 



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