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Pesquisa encomendada pelo Planalto traz pontos positivos e negativos de Temer

Veículo: Valor Economico 

Seção: Política 

Com quase três meses no comando do Executivo federal, o presidente interino Michel Temer vai manter a estratégia de apontar a realidade adversa em que assumiu o governo, com o rombo bilionário nas contas públicas, milhões de desempregados e inflação alta. Os resultados da primeira pesquisa qualitativa sobre o desempenho de Temer mostram que o interino acerta na dose de "sinceridade" com os brasileiros, num contraponto ao discurso da presidente afastada Dilma Rousseff, mas lhe falta carisma, bem como apontar medidas que também atinjam os "privilegiados" no pacote de ajuste fiscal. A pesquisa encomendada pelo Palácio do Planalto mostra que Temer acerta no contraponto ao discurso de Dilma, que maquiou os números da economia para, depois de reeleita, implantar o ajuste fiscal. Em contrapartida, uma parcela representativa dos entrevistados ainda enxerga Temer como o vice de Dilma, e portanto, como um "traidor", que teria ajudado a afastá­la para assumir o seu lugar, e como um corresponsável pelos erros da gestão anterior. A maioria dos entrevistados não acredita no retorno de Dilma Rousseff, mas o restante se divide entre pedir a realização de novas eleições, ou propor que se dê mais tempo para o governo Temer antes de avaliá­lo. 

O Valor teve acesso, com exclusividade, a uma pesquisa qualitativa encomendada pelo Palácio do Planalto para avaliar a imagem do presidente interino nesses primeiros meses de governo. Auxiliares de Temer afirmam que a sondagem confirmou as avaliações internas do governo, de que a preocupação majoritária da população é com a crise econômica, o desemprego e a corrupção. Os pontos fortes da imagem de Temer são a "sinceridade" de suas declarações e a equipe econômica, sendo que a escolha do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, desponta como uma das escolhas acertadas do interino. Os pontos negativos são a nomeação de ministros implicados na Operação Lava­Jato, o receio de retrocesso nos avanços sociais e uma certa "falta de afetuosidade" no discurso. 

A pesquisa quantitativa, realizada simultaneamente, confirma números recentes divulgados pelo Ibope, na sondagem encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), e pelo Instituto Datafolha. Do total de entrevistados, 15% avaliam o governo Temer como ótimo e bom, 38% o consideram regular e 13% péssimo ou ruim. O levantamento surpreende ao mostrar que Temer enfrenta alta rejeição não apenas no Nordeste (52% o rejeitam), em redutos eleitorais do PT e do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas também nos Estados do Sudeste, onde a reprovação ao pemedebista chega a 56%. 

Auxiliares de Temer observam, contudo, que o nível de desconhecimento sobre o interino é alto, chega a 30%. E a análise qualitativa mostra que quanto mais ele se torna conhecido, mais desperta confiança. "Temer não fará ações de marketing, ele continuará sendo o que é, um político tradicional, habilidoso, um negociador que sabe ouvir e está disposto a enfrentar os problemas do país", afirma um auxiliar do presidente interino. Este assessor nega que a imagem divulgada de Temer buscando o filho na escolha tenha sido uma estratégia de marketing, já que havia uma demanda dos veículos de comunicação pela imagem. Ressalta que, na contramão desse gesto, o Planalto reduzirá os gastos com publicidade institucional, e investirá na divulgação de serviços de utilidade pública. 

Para comprovar a tendência de aumento da confiança à medida que Temer se torna mais conhecido, os pesquisadores apresentaram aos grupos de entrevistados o discurso de Michel Temer na posse conjunta da presidente do BNDES, Maria Sílvia Bastos Marques, e demais bancos públicos, no dia 1º de junho. Naquela manifestação, Temer descreveu as condições em que herdou o cargo. "Vou dizer obviedades, e os senhores leem, diariamente pelos jornais. Já são mais de 11 milhões de desempregados. A inflação ainda inspira vigilância. O déficit de R$ 96 bilhões na conta pública, apontado pelo governo anterior, atinge, na realidade, como sabemos, a casa de mais de R$ 170 bilhões. Esse é o cenário em que assumimos o governo", relatou. A avaliação dos entrevistados sobre essa fala foi de que Temer passou a impressão de que "fala a verdade", transmite "sinceridade" quando não minimiza o quadro negativo e mostra liderança, quando chama para si o desafio de resolver os problemas. 

A pesquisa encaminhada à Secretaria de Comunicação Social da Presidência ouviu seis grupos, com cinco participantes cada um, das classes C e D (com renda mensal de um a quatro salários mínimos), em seis capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Brasília e Belém, no período de 14 a 24 de junho.



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